Quem já teve uma infecção na vida, seja ela de qualquer tipo, sabe que estas doenças costumam provocar dores, febres e desconforto. Em alguns pacientes, se não tratadas de forma eficaz, elas podem evoluir para um quadro muito mais grave, causando outra enfermidade: a sepse, uma resposta inflamatória de todo o organismo a uma infecção. Mais conhecida como infecção generalizada ou falência múltipla dos órgãos, a sepse grave ocorre quando a infecção em um dos órgãos não responde ao tratamento e se espalha para os demais, podendo fazer com que vários deles parem de funcionar, podendo provocar a morte do paciente.
Segundo o médico intensivista e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Álvaro Réa-Neto, a sepse é a manifestação mais grave de uma infecção. “Para que ela se desenvolva, as condições dependem muito mais da reação do corpo do paciente do que do micro-organismo causador”. São mais propensos a desenvolver a sepse homens e mulheres que têm baixa imunidade, idosos, crianças, bebês em fase de amamentação, diabéticos, portadores de doenças crônicas e pacientes hospitalizados que utilizam antibióticos, cateteres ou sondas. Mas pessoas sem estas características também podem ser atingidas.
Réa-Neto ainda alerta para os sinais que podem indicar a presença da sepse. “Sintomas como febre, sonolência, tontura, queda de pressão, falta de ar, náuseas, manchas pelo corpo e diminuição na produção de urina são preocupantes. Se uma pessoa estiver com estes sintomas, ela deve buscar ajuda médica e um tratamento intensivo, o mais rápido possível”.
O sucesso na cura da sepse está relacionado com o diagnóstico rápido e preciso, além da agilidade no início do tratamento. “O paciente com sepse deve receber antibióticos o mais rápido possível, de preferência já nas primeiras horas após perceber os sintomas. Também podem ser feitas a reposição de líquidos pelas veias e, nos casos mais graves, o uso de equipamento para garantir o funcionamento dos rins e dos pulmões. E, apesar da importância e dos riscos da doença, quem se recupera geralmente não apresenta sequelas”.
Preocupação maior nas UTIs
Apesar de poder ser tratada, a sepse grave ainda é a principal causa de morte nas unidades de terapia intensiva (UTI). No Brasil, segundo dados do Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS), estima-se que 400 mil novos casos são diagnosticados por ano – destes pacientes, 240 mil morrem anualmente.
“Os dados nacionais são complexos. O ILAS realiza estudos sobre sepse desde 2004, de lá para cá, percebemos que não houve diminuição nos índices de mortalidade. Na última pesquisa, feita em 2013 em cerca de 200 UTIs de todo o país, concluímos que de cada três pacientes internados em uma UTI, um desenvolve sepse e, deste grupo, 55% morre”, explica o médico intensivista e diretor do Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) Luciano Azevedo.
Segundo Azevedo, a elevada taxa de mortalidade no Brasil se deve a fatores como a demora no diagnóstico e no início do tratamento, o desconhecimento da doença por parte do público e de alguns profissionais da área médica, a desatenção com relação às vacinas, a automedicação e a falta de cuidados básicos como lavar as mãos antes e depois de visitar um doente na UTI.