Não é de hoje que o cinema exerce um grande poder de fascinação no público. Tem gente que se identifica tanto com as personagens e histórias contadas pela sétima arte que isso acaba virando referência para elas, inspirando suas atitudes ou forma de vestir. Este é o caso da estudante Carmina Monteiro Ribeiro, 19 anos, e da empresária Rubiane de Lima Quadros, 38. O cinema conseguiu conquistá-las de tal forma que os reflexos em sua vida cotidiana são visíveis.
No caso de Carmina, sua inspiração vem da protagonista de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, interpretada pela francesa Audrey Tautou. Ela conta que a identificação com a personagem foi imediata. “Assisti sozinha, em casa, e fui cativada pelas personagens e situações, pela trilha sonora, pela doçura do filme”, lembra. Desde então, Amélie é sua principal referência para tudo. “Eu adoro o estilo de roupas e as cores do filme. Tenho uma blusa com a estampa do filme que amo, uso bastante”, comenta.
Seu comportamento também se baseia de certa forma em conselhos do filme. “A Amélie gosta de ajudar os outros, de ver pessoas felizes. Tenho muito disso. Também tem o fato de tomar as emoções dos outros para si e ser sonhadora. Finalmente, há o senso de humor, certo medo de aproveitar a vida, de ser feliz em vez de apenas fazer com que os outros sejam. O filme me inspira muito nesse sentido, me encoraja”.
No caso de Rubiane, suas referências não estão relacionadas a apenas um filme. Vários eventos de sua vida foram marcados pela inspiração em diferentes obras. Tudo começou quando tinha apenas 15 anos. Na época, ela se inspirou no filme Labirinto para compor seu vestido de debutante. “Assisti ao filme no cinema e, depois, inúmeras vezes no vídeo. Decorei falas, sabia as músicas, e claro, achava maravilhoso o vestido que a Jennifer Connelly usava no filme. Não deu outra, eu queria o vestido igual ao do filme. Não havia nada diferente que eu quisesse, esse era o ‘filme da minha vida”, conta.
Segundo ela, o vestido ficou mais simples porque era difícil encontrar uma foto para que ela e a mãe, que costurou o traje, pudessem ver os detalhes. Mesmo assim, ela adorou o resultado. “Ficou a minha cara”, diz. Esta foi uma forma de ela se aproximar mais do mundo mágico e fantástico do filme, que tanto a encantou quando adolescente. E a inspiração em filmes não parou por aí. O traje mais importante de sua vida, o de seu casamento, também foi feito conforme a influência da sétima arte. Mas, desta vez, a referência foi outra. A inspiração veio do filme chinês O Clã das Adagas Voadoras.
“Eu estava sem ideias para um modelo de vestido e, quando vi o filme, fiquei encantada com a vestimenta oriental. Achei que combinava muito comigo fazer não um vestido, mas uma calça pantalona para eu usar no casamento. Também fiquei muito feliz com o resultado, apesar de não ter ficado como o do filme. Inspiração é isso”, resume. O que mais chamou a atenção dela nas vestimentas chinesas foram a beleza, a leveza, as cores e a fluidez.
beleza, a leveza, as cores e a fluidez. No entanto, apesar de todas essas referências, Rubiane diz que sua maior inspiração vem da atriz Audrey Hepburn, principalmente no clássico Bonequinha de Luxo. Sua identificação com a personagem é tão grande que ela até chegou a fazer um book com fotos em que está vestida como Holly Golighlty, a protagonista do filme. “Meu marido ficou sabendo de uma fotógrafa que queria transformar uma pessoa normal em uma celebridade. Como ele e outras pessoas diziam que eu lembrava a Audrey, me animei”.
Ela explica que o que mais gosta em Audrey é seu estilo. “A elegância dela me inspira. As roupas que ela usa no filme são atualíssimas. O clássico não sai de moda, é uma pena que meu visual não chegue nem perto ao dela… De qualquer forma, o que eu mais gosto no visual é o cabelo, os penteados,, o corte e a cor, isso eu realmente adoro”, avalia. Para ela, os filmes exercem essa influência porque “as pessoas gostam de exemplos inspiradores, estejam eles onde estiverem e o cinema está aí para isso: encantar, informar, influenciar”.
De acordo com o antropólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Carlos Balhana, apesar de o cinema ser um advento moderno, do início do século XX, esse processo é muito mais antigo. “No tempo da ópera, as mulheres da França e da Inglaterra se inspiravam em seus personagens. Antes disso, na Grécia, a referência era o teatro. A arte é o espelho da cultura a sociedade”, explica. Em relação à sétima arte propriamente dita, ele afirma que o interesse das mulheres também foi se modificando com o tempo. “No início, as mulheres queriam copiar tudo, até mesmo o rosto, as feições das atrizes. Agora, elas se interessam mais pelas atitudes, opiniões, roupas. Esta é uma geração mais criativa, que adapta suas referências e cria seu próprio estilo”.
Fotos: Arquivp Pessoal e Reprodução |
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Labirinto, Bonequinha de Luxo e O Clã das Adagas Voadoras foram os filmes que já inspiraram Rubiane. |