Não adianta tentar se enganar. Se você se alimenta mal, de forma desregrada, comendo só “porcarias”, uma hora seu corpo vai reagir, provavelmente causando dor e desconforto. Um dos distúrbios gastrointestinais mais recorrentes, a gastrite é uma das formas de o organismo dizer que seus hábitos alimentares estão errados. Este é exatamente o caso da professora Caroline Pereira Nhoqui, de 32 anos. “Até pouco tempo, me alimentava muito mal, comia lanche praticamente todos os dias, mas comia com pesar porque sabia que ia me fazer mal. Tinha muita azia e refluxo. Até para tomar água doía. Estava me incomodando muito. Por isso, fui procurar tratamento e descobri que era gastrite”, conta.
De acordo com o médico gastroenterologista do Hospital Vita João Henrique Lima, o mau hábito alimentar é uma das principais causas da gastrite, um processo inflamatório que acontece no revestimento interno do estômago, conhecido como mucosa. “Muitas pessoas se alimentam sem fracionamento da dieta, comem em um volume muito grande e abusam de alimentos que devem ser evitados, como temperos, gorduras e frituras, que agridem a mucosa do estômago”, explica. Estima-se que até 50% da população vai sofrer com a doença em algum momento da vida.
Ainda que a relação entre homens e mulheres seja de cinco pacientes do sexo masculino para três do sexo feminino, cada vez mais as mulheres estão sofrendo com este problema, que ainda pode ter outras causas. “Esse processo inflamatório é multifatorial, ou seja, acontece por diversos motivos, entre eles, o mau hábito alimentar, o tabagismo, o alcoolismo e o uso de medicamentos de forma contínua, principalmente antiinflamatórios. Outro fator que contribui para o aparecimento da gastrite, especialmente nas mulheres, são as situações de ansiedade e estresse”, elenca.
O médico esclarece, no entanto, que usar o termo “gastrite nervosa” é errado. “Isso não existe. O que acontece é que essas situações de ansiedade e estresse provocam um excesso na produção das secreções ácidas do estômago e promovem um retardamento no esvaziamento do estômago, induzido pela produção excessiva de hormônios relacionados às emoções. Como as mulheres têm uma sobrecarga maior de estresse atualmente, além de já naturalmente terem esses aspectos psicológicos mais proeminentes, essas situações podem acabar se tornando indutoras da gastrite. Por isso, cada vez mais, tem aumentado a incidência desta doença no sexo feminino”, alerta.
Outra causa muito comum da gastrite, independente do sexo, é a presença excessiva de uma bactéria no estômago, que também causa essa inflamação. “70% das pessoas são portadoras dessa bactéria, mas não são todos os pacientes que apresentam o desenvolvimento da gastrite em decorrência da presença da bactéria. Na maioria dos casos, ela convive com o organismo do indivíduo sem causar qualquer problema médico”, relata. Independente de qual seja a causa da gastrite, os sintomas costumam ser náusea, plenitude (sensação de estar cheio), saciedade precoce, vômito, dor epigástrica (na região conhecida como “boca do estômago”) e queimação.
O diagnóstico da gastrite é clínico, baseado nos sintomas, mas é comprovado por meio de uma endoscopia digestiva alta. O tratamento é feito com alterações nos hábitos alimentares e medicamentos via oral (mas nem todos os pacientes precisam desta última estratégia). “Essa mudança comportamental e dietética é imprescindível. Além dos temperos, das gorduras e das frituras, é preciso evitar café, chocolate, refrigerante, bebidas e alimentos ácidos e cítricos, além das bebidas alcoólicas e do cigarro. E ainda é necessário fracionar a dieta, comendo po,uco, mas várias vezes ao dia, e mastigar bem”, comenta. As mesmas causas da gastrite podem causar também outros distúrbios gastrointestinais, como a Síndrome do Intestino Irritável.
Não se confunda
A médica gastroenterologista do Hospital São Vicente Fabiana Lora Campos ainda alerta para a necessidade de prestar bem atenção para ter um diagnóstico correto, pois a gastrite pode ser confundida com outros distúrbios gastrointestinais. “O termo gastrite é popularmente usado pelas pessoas em geral para definir qualquer tipo de sintoma no trato gastrointestinal. Inclusive, é, muitas vezes, usado para descrever sintomas de intestino”, comenta.
A médica ressalta que, em muitos casos, a gastrite ainda pode ser confundida com a dispepsia funcional, principalmente em situações de ansiedade e estresse, que acentuam a percepção de dor, mesmo quando não há lesão no estômago. São justamente esses os casos que as pessoas costumam se referir como “gastrite nervosa”.” A dispepsia é uma alteração funcional que não está ligada a uma doença propriamente dita, não existindo modificações estruturais, como lesões, feridas ou tumores, no órgão”, explica.
“Nestes casos, os pacientes apresentam sintomas, mas não existem achados na endoscopia que os justifique”, completa. Os sintomas da dispepsia são bem parecidos com os da gastrite, por isso, a confusão. O tratamento é feito com medicamentos para reduzir a acidez do estômago e melhorar os movimentos do órgão.