Fora do país, mas ‘em família’ por meio do intercâmbio

Au pair. Muito provavelmente, esta expressão em francês não tem qualquer significado especial para você (aliás, talvez você nunca a tenha ouvido, inclusive), mas para algumas jovens mulheres ela remete a expectativas ou lembranças muito especiais. Au pair quer dizer “igual” em francês, mas também – e principalmente – é o nome de um programa de intercâmbio muito procurado por jovens mulheres ao redor do mundo. Funciona desta forma: em troca de hospedagem, alimentação e salário em outro país, de seu interesse, a intercambista cuida das crianças da casa, que podem ser desde recém-nascidos até adolescentes.

Arquivo Pessoal
Tatiane com as crianças.

Pode parecer mais um simples trabalho de babá, mas quem já fez esse tipo de intercâmbio garante que não se trata apenas de um emprego qualquer fora do país. É uma experiência inesquecível, uma imersão na cultura de outro povo e uma oportunidade de adquirir fluência em uma língua estrangeira. A empresária e professora de inglês Tatiane Oliveira, de 32 anos, é uma das grandes defensores deste programa de intercâmbio. Quando tinha 25 anos, ela largou tudo no Brasil para se aventurar nos Estados Unidos como au pair. “Eu já tinha me formado em Psicologia e estava trabalhando com preparação de intercambistas. Foi então que surgiu o interesse em fazer um intercâmbio também para ter fluência no inglês”, conta.

E ela garante que não se arrepende. “Pra mim, o au pair foi um divisor de águas. Depois que voltei, tive até oportunidades melhores de trabalho. Você volta com uma bagagem muito maior. Para a mulher, desde que ela tenha aptidão para cuidar de criança, com certeza é o programa mais completo porque você tem o tempo preciso para aprimorar a língua e tem contato com a cultura de forma direta”, explica. No caso de Tatiane, o vínculo com a família que a recebeu foi tão grande, que até hoje ela os visita quase anualmente. “Até hoje tenho contato e morro de saudades das crianças”, revela.

Além do relacionamento com a família que a hospedou, ela mantém amizades que fez por lá, quando estava no intercâmbio. “Como as crianças não estudavam ainda, eu ficava com elas em horário comercial e, por isso, tinha os finais de semana livres. Então, viajei bastante com as minhas amigas. Fomos pra Nova York, Las Vegas e várias cidades da Califórnia. Mesmo depois de tanto tempo, ainda tenho contato com todas elas também, inclusive com as que ficaram por lá”, conta.

Mas nem tudo foi tão fácil assim como parece. Os primeiros meses de intercâmbio foram difíceis para Tatiane, pois a adaptação à cultura dos Estados Unidos não foi nada simples. “Quando cheguei, a família morava em um condomínio de casas na beira de uma estrada em uma cidadezinha do subúrbio de Dallas (no estado do Texas). Então, precisava de carro para tudo e, como não tinha, dependia da família. E a rotina das famílias americanas é diferente também. Por mais que você tenha experiência aqui com criança, não é a mesma coisa quando você está lá. Então, o choque cultural é inevitável, mas depois que você se acostuma, passa”, justifica.

Arquivo Pessoal
Com a família americana que a recebeu.

Critérios para admissão

Apesar de o, au pair parecer o intercâmbio dos sonhos, não é qualquer pessoa que pode participar do programa. Experiência com cuidado de crianças é apenas um dos critérios para poder usufruir dessa oportunidade. “É preciso ter uma habilitação específica. A pessoa – não é só para mulheres, homens também podem participar – deve ter entre 18 e 26 anos, com Ensino Médio completo, língua estrangeira falada no país em nível intermediário ou avançado e pelo menos 200 horas de experiência comprovada com cuidados de crianças, desde que não haja parentesco. E carteira de habilitação é um diferencial”, explica o presidente da agência InterConnect Brasil, Claudio Roberto Kleiner.

Além dos Estados Unidos, outros países que oferecem essa possibilidade de intercâmbio são França, Alemanha, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia. “A escolha do país depende muito do perfil do intercambista, mas os mais procurados são Estados Unidos e França, ainda mais porque têm mais vagas, pois são os países onde surgiram os intercâmbios”, comenta. Ele ainda explica que este é um programa mais barato do que outros e, por isso, se torna mais interessante. “Na maioria desses países, o custo dele é de 790 dólares. Como o intercambista ganha passagem aérea, alimentação, hospedagem, salário e, em alguns casos, verba para fins educacionais, esse valor é praticamente reembolsado”.

Ele também defende que o au pair não é apenas um trabalho de babá. “A pessoa está indo para lá como profissional, mas com o objetivo de ter uma experiência cultural, é uma vivência”, argumenta. Mesmo assim, a InterConnect oferece treinamento para os intercambistas que vão para o au pair por meio de seu atendimento. “Damos orientações práticas para essa imersão, como dicas sobre as necessidades das crianças, políticas do país, primeiros socorros, para dar suporte e tranquilidade”, conta. O programa dura um ano, podendo ser renovado por mais um. Mas Kleiner alerta: “tem que ter perfil para esse tipo de intercâmbio”.

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