Existe sempre uma esperança para o câncer de mama

“É como se o chão desaparecesse”. Esta é uma expressão usada pela maioria das mulheres que passaram por uma situação extremamente crítica. Receber o diagnóstico de um câncer de mama pode se tornar a pior notícia na vida de alguém, pois a enfermidade traz uma série de impactos sociais, além da própria gravidade da doença. No entanto, quando ocorre o diagnóstico precoce, as chances de cura ultrapassam os 90%, segundo especialistas.

Sim, não há como negar: é um tratamento difícil. Mas muitas mulheres estão provando que é possível superar o câncer de mama e ajudar a formar uma corrente do bem para divulgar a importância da prevenção. Este também é o tema da campanha Outubro Rosa, que dura o mês inteiro e promove uma série de ações que visam alertar sobre a necessidade do diagnóstico precoce e de a mulher colocar na sua rotina a obrigatoriedade em ir ao médico pelo menos uma vez ao ano como forma de prevenção.

Durante esse período, diferentes entidades relacionadas às mulheres e aos serviços de saúde realizam atividades com esses objetivos. Entretanto, existem algumas “formiguinhas” que fazem o mesmo trabalho, muitas vezes invisíveis do grande público, mas que fazem diferença na vida de algumas pessoas. A consultora de beleza Cristiane Hammes, de 40 anos, é uma dessas “operárias”. Em janeiro de 2010, ela recebeu o diagnóstico de um câncer de mama durante exames de rotina.

“Não tinha nenhum dos fatores de risco. Estava em dia com as consultas médicas. Fui fazer um ultrassom das mamas e vi que a feição da médica mudou. Fui encaminhada na hora para uma mamografia e eu já sabia que havia algo de errado. Como o pessoal da clínica me conhecia há algum tempo por causa de contato com familiares meus, ninguém queria me dar a notícia. Chamaram meus pais e meu marido. Foi aí que eu fiquei preocupada demais”, lembra.

A confirmação do diagnóstico veio depois de uma biópsia. Passado o período de tristeza e entendimento sobre o que estava acontecendo, a consultora de beleza resolveu enviar um e-mail para todos os seus contatos. Não para contar sobre a doença e simplesmente esperar o sentimento de pena. A partir do que vivenciava, queria fazer um alerta. “Para as mulheres, pedi para que fizessem seus exames. Para os homens, pedi para que insistissem com suas mulheres para que fizessem os exames”, comenta.

Voluntárias dão apoio a novas pacientes

Marco André Lima
Voluntárias dão apoio a mulheres que acabaram de descobrir a doença.

Superar o câncer de mama é o desafio diário de mulheres que buscam apoio na Associação Amigas da Mama, fundada há 12 anos para dar suporte a quem está atravessando este período crítico. Mulheres de todas as idades ganham apoio com voluntárias que passaram pela mesma situação. Ainda há atendimento com psicólogos, além de uma assessoria jurídica para ajudar aquelas que precisam de intervenção para conseguir o auxílio-doença ou até o resultado de seus exames. “Muitas destas mulheres estão em dificuldades porque precisam sustentar suas famílias, mas estão afastadas do trabalho ou não têm seus direitos reconhecidos. Este é um problema extenso e complexo”, explica a presidente da associação, Valéria de Cássia Lopes (foto).

Além disto, a mulher que tirou o seio parcial ou totalmente depois da cirurgia recebe um kit com uma prótese para colocar dentro do sutiã, como parte do esfor&,ccedil;o na recuperação. O mesmo kit possui um porta-dreno e um travesseiro no formato de coração, que ajuda no apoio do braço do lado operado.

De acordo com ela, o perfil das mulheres atendidas mudou significativamente ao longo dos anos. Quando começou, a entidade recebia mulheres entre 50 e 70 anos. Atualmente, a associação é procurada principalmente por pessoas entre 35 e 48 anos. Para Valéria, o maior desafio no combate ao câncer de mama como questão de saúde pública está relacionado com o diagnóstico precoce por imagem (exames), que deve ser mais frequente do que os casos conhecidos a partir dos sintomas da doença. Tudo isto depende do comprometimento da mulher, em fazer a prevenção, e também do poder público, em disponibilizar o serviço necessário para atender todo o público feminino.

Mais informações sobre a Associação Amigas da Mama pelo telefone (41) 3223-2208.

Exemplos de quem venceu a doença

Marco André Lima
Patrícia recebeu o diagnóstico quando estava grávida, mas isso só deu a ela mais forças para enfrentar o câncer.

A alegria é contagiante quando Cristiane e a administradora Patrícia Malim, de 39 anos, se encontram. As duas se conheceram durante a gravação de um vídeo intitulado Viver Vale a Pena, produzido pelo Hospital Nossa Senhora das Graças com pacientes que venceram as suas doenças. São exemplos de superação e as duas se encaixam muito bem neste perfil. “De tudo o que eu vivi, fica aquele sentimento de superação. Você precisa confiar muito nos médicos. É necessário desmitificar a ideia de que você vai morrer se tiver câncer”, avalia Patrícia.

O diagnóstico precoce foi fundamental para a administradora. Ela teve câncer de mama antes dos 40 anos, idade em que parte dos médicos começa a orientar a realização da mamografia, exame que ajuda a detectar a doença. Depois de ser descoberto no exame, uma biópsia confirmou o câncer de mama. Só que Patrícia não teve que lidar apenas com a notícia da doença. Durante os exames preparatórios para a cirurgia de retirada completa da mama, ela descobriu que estava grávida. “Mudou todo o contexto sobre a minha doença. O risco de perder o bebê era muito grande. Corremos o risco e houve todo o cuidado da equipe médica”, conta.

Por conta da gravidez, ela demorou alguns meses para começar o tratamento complementar com a radioterapia. Mas, assim, vencer a doença teve um gosto ainda mais especial no momento do nascimento de Renan, que hoje está com seis meses. Família reunida, saudável e que comemora cada momento junta. Tanto ela quanto Cristiane tiveram que retirar totalmente a mama onde estava localizado o câncer. Elas fizeram posteriormente a cirurgia reparadora, o que contribuiu para confirmar a cura da doença.

Para Cristiane, a vida mudou não apenas pela superação. Em conjunto com a família, ela decidiu que levaria um ritmo de vida mais leve para que pudesse se cuidar e também tomar conta da família. “Hoje eu só faço o que eu gosto”, enfatiza. De toda a experiência com o câncer, também permaneceu a união da família. A família inteira se conectou ainda mais em torno da recuperação de Cristiane. “Tendo força de vontade, fé em Deus e apoio familiar, é possível vencer”, afirma. O vídeo feito pelo Hospital Nossa Senhora das Graças está disponível no site www.hnsg.org.br.

Mamografia anual é obrigatória

O câncer de mama já se tornou um assunto de saúde pública. Estima-se que cerca de 53 mil mulheres tenham a doença em 2014 no Brasil. A recomendação das entidades de Mastologia e Radiologia é que a mulher comece a fazer a mamografia a partir dos 40 anos, enquanto há outros órgãos que indicam o exame para m,ulheres acima de 50 anos. De qualquer maneira, a mulher deve conversar com o seu médico e não deixar de fazer o trabalho preventivo regularmente.

O médico mastologista Cícero de Andrade Urban, do Hospital Nossa Senhora das Graças, explica que o grande desafio continua sendo o diagnóstico precoce. De acordo com ele, a realização dos exames a partir dos 40 anos traz benefícios para a mulher. No entanto, a partir dos 50 anos, existe uma capacidade melhor para a detecção e menores riscos para os resultados falsos positivos. Para ele, é necessário desmitificar o câncer de mama. “É uma doença grave, mas se detectada precocemente, há uma chance elevada de cura”, salienta. “Mudou completamente o perfil do câncer de mama. Estamos hoje com cirurgias mais conservadoras para preservar a mama e a reconstrução também está melhor”, afirma.

O médico Marciano Anghinoni, chefe do setor de oncologia cirúrgica do Hospital São Vicente, comenta que campanhas como o Outubro Rosa estão impulsionando a ida das mulheres aos consultórios para procurar informações de prevenção. Entretanto, ainda há diferença entre o ambiente de consultório particular ou conveniado e o ambiente do Sistema Único de Saúde (SUS), na opinião de Anghinoni. “Talvez as campanhas ainda não tenham atingido satisfatoriamente seus objetivos porque percebemos diferenças, especialmente por nosso país ter áreas com acesso restrito às especialidades médicas. Já melhorou bastante, pois no consultório, as mulheres demonstram mais consciência, mas no ambiente SUS o impacto ainda não é tão intenso”, avalia.