Esperando o momento certo da vida para ter filhos

Aos 37 anos, Ana Iten possui um currículo invejável: faculdades, especializações, língua estrangeira e profissão consolidada como diretora executiva em uma multinacional. Até chegar a este estágio de sua carreira foram muitos anos de preparação e trabalho, prioridades que adiaram a chegada de sua filha, nascida há dois anos e cinco meses. “Priorizei estudar e trabalhar o máximo que pude. Quando decidi ter minha filha, não foi pela estabilidade na carreira, porque acho que ela nunca estabiliza, mas pela estabilidade financeira que eu queria”, conta.

Os estudos incluíram um intercâmbio nos Estados Unidos, sonho compartilhado pelo marido, que a acompanhou durante a viagem. “Se tivesse um filho naquela época, não teria ido”, observa Ana, que garante: faria tudo novamente da mesma maneira. A chegada da filha não interferiu em seu desempenho no trabalho, apenas reduziu a carga de estudos fora do expediente. Além disso, ela acredita que a prioridade e a disciplina dedicadas ao trabalho e aos estudos a ajudam como mãe, que valoriza mais o tempo que tem com a filha.

“Você aprende a ser mais objetiva, a separar a função profissional e em casa. Quando estou no trabalho fico focada ao máximo e concluo o que tenho que fazer. Em casa o foco é sempre ela”, diz a executiva, que ainda não pensa no segundo filho. “Acho que vou viver 100 anos, então não faz diferença ter um filho aos 30 ou aos 35”, brinca.

Decisões como a de Ana se tornam cada vez mais comum entre as mulheres, que estão adiando a maternidade e se dedicando primeiramente à profissão. Elisa Carra, diretora de recursos humanos da Ernst & Young, onde Ana trabalha, acredita que a maternidade faz parte de uma série de situações que foram deixadas para mais tarde, inclusive sair da casa dos pais.

“Quando você observa o movimento histórico, vê que há 50 anos as mulheres casavam com 16 anos. Hoje está acontecendo mais tarde, até porque ela busca primeiro terminar a faculdade, encontrar um trabalho e depois casar. As pessoas querem uma vida mais confortável e fatalmente os filhos chegam mais tarde”, avalia. “As mulheres observam o melhor momento para conciliar a vida pessoal com a profissional. Elas não querem mais o ‘ou’: ou trabalho, ou filhos ou casamento, e por isso encontram o melhor momento para fazer cada coisa”, diz.

Destaque no mercado

Diretora de grandes eventos da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Paraná (ABRH-PR) e executiva de uma empresa de recrutamento, Mariciane Gemin aponta ainda o envolvimento em grandes projetos pelas mulheres nas corporações como outro fator que adia a maternidade. “A competitividade e a pressão saudáveis trazem a possibilidade da mulher ter uma progressão na carreira de forma acelerada. É como se fosse um bonde que pode não passar pela segunda vez no mesmo tempo. Se a mulher não pega, ela pode não ter essa oportunidade num curto período de tempo. Hoje a competição está maior e a capacitação também”, afirma.

Mariciane observa ainda que as mulheres não precisam ter medo do período de ausência da licença maternidade, nem de voltar ao trabalho depois do afastamento. “Bons profissionais são aguardados pelo mercado. Ninguém vira um profissional ruim porque não fica na empresa por cinco meses”, explica. Nestes casos é preciso maturidade profissional, diz ela, e muito empenho na volta ao trabalho. O planejamento também é importante, com a preparação da equipe para o período de ausência. “Faça boas entregas e você será sempre lembrada”, garante.

Números confirmam prioridade à carreira

O último Censo do IBGE, divulgado no ano passado, mostra que mulheres com maior escolaridade e renda se tornam mães mais tarde. O levantamento mostra que a idade média entre as mães sem rendimento é 25,7 anos enquanto as mulheres com renda superior a cinco salários mínimos per capita é de 31,9 anos.

A escolaridade também varia entre maternidade das brasileiras. A média de idade para ter filhos entre mulheres sem instrução ou com ensino fundamental é de 25,4 anos e 3,09 filhos contra 30,9 anos das mães com ensino superior, que têm menos filhos, apenas 1,14.

O número de filhos também é influenciado pela renda. Na faixa de até ¼ salário mínimo per capita são 3,90 filhos, índice que chega a 0,97 quando a renda é superior a cinco salários per capita. A idade média nacional é de 26,8 anos.

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