Esperança contra o melanoma, um tipo de câncer de pele

A mineira Rosana Mara Saldanha Herculano, 48 anos, é designer aposentada. Gizelia Caruso Batista, 54, mora em Sergipe e é educadora física. A professora Adriana Kieffer Ferreira Van Deursen, 48, vive em São Paulo e é professora. Apesar de, aparentemente, não terem muito em comum, elas são unidas por uma realidade. Todas foram diagnosticadas com o melanoma avançado (tipo agressivo de câncer de pele) e participaram de estudos sobre um novo medicamento que controla a doença, o ipilimumabe.

O programa foi conduzido pelo médico Antônio Carlos Buzaid, chefe-geral do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, em São Paulo. A droga foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2011. Desde março deste ano, o tratamento está disponível no país com o nome de Yervoy.

O melanoma é um tipo de câncer de pele cuja origem está nos melanócitos, células que produzem a substância que determina a cor da pele, a melanina. Quando diagnosticado e tratado em sua fase inicial, ele geralmente tem cura. Caso contrário, pode se disseminar para outros órgãos, processo conhecido como metástase. Nessa fase, leva a óbito cerca de 75% das pessoas diagnosticadas no período de um ano em todo o mundo.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), este tipo de câncer é o mais frequente no Brasil e corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados no país. Adultos brancos são os mais propensos a ter a doença. Por isso, no Brasil, a região Sul é a mais afetada. O maior risco é quando se tem queimaduras solares durante a juventude (entre os 10 e 19 anos). Portanto, é preciso se proteger contra o sol desde cedo. Em 2012, segundo o Inca, cerca de 6230 pacientes foram diagnosticados com a doença, 3060 deles eram mulheres.

Sobrevivendo ao câncer

A esperança para o combate ao melanoma veio como o ipilimumabe, a primeira imunoterapia que demonstrou aumentar significativamente a sobrevida a longo prazo de pacientes. No Brasil, 15 pessoas participaram de testes clínicos do Yervoy e cerca de 500 receberam o medicamento por meio do Programa de Acesso Expandido, regulamentado pela Anvisa e que permite a disponibilização ainda experimental a pacientes elegíveis.

Os melanomas cutâneos se manifestam de diversas formas no corpo. Em Adriana, foi uma pinta preta no braço direito. “Tomei muito sol quando era criança durante os três meses que tinha de férias todo o ano, mas quando recebi a notícia que estava com melanoma foi um baque”, lembra. Depois de sofrer metástase, a professora fez cirurgia e foi submetida a diversos tratamentos, mas o tumor não regredia. Até que Buzaid lhe deu uma notícia animadora: “menina, está chegando coisa nova”. Após quatro infusões do medicamento, as tomografias feitas em Adriana deram negativo.

Rosana percebeu uma pinta escura crescendo nas costas, mas não se preocupou. Até que surgiu um nódulo na axila que foi operado. “Recebi o diagnóstico sete anos atrás. Para mim foi uma sentença de morte”, recorda. Certo dia, quando foi fazer um check-up no médico, surgiu uma alteração no fígado e Rosana logo foi tomando o “ipi”, como é carinhosamente chamado pelas pacientes. Foram três ciclos do medicamento.

Mas o caso da sergipana Gizelia é a prova de que o melanoma também ocorre em peles morenas. O câncer apareceu com um nódulo no pé. Ela chegou a fazer cirurgia no Rio de Janeiro e quimioterapia em São Paulo. “Tomei tudo quanto é medicamento e não tive resposta até que meu médico disse para eu procurar Buzaid. Abaixo de Deus, é meu anjo na Terra”. Três anos depois de se tratar com o “ipi”, Gizelia voltou a trabalhar e estudar.

Tratamento diferente

A taxa de sobrevida dos pacientes que receberam o “ipi” é de 46%. O tratamento com Yervoy é feito com apenas quatro infusões ao longo de três meses, ao co,ntrário da quimioterapia convencional, na qual o paciente é tratado continuamente. “Pacientes que são tratados com este medicamento têm uma sobrevida maior do que os que recebem outras drogas. O paciente não precisa ficar no hospital enquanto recebe o tratamento”, compara o médico oncologista Sanjiv S. Argawala, chefe da Unidade de Hematologia e Oncologia do St. Luke”s Cancer Center, nos Estados Unidos.

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