Entrar num sex shop já não é mais motivo de vergonha para muitas mulheres. Nos últimos anos, o mercado erótico tem crescido bastante, sendo impulsionado principalmente pela comédia De pernas para o ar 1 e 2, e pelo best-seller fetichista Cinquenta tons de cinza. Os filmes e o livro incentivaram as brasileiras a perder a timidez e enfrentar o tabu de até pouco tempo atrás.
Foi-se o tempo em que sex shop estava atrelado ao universo masculino, dos filmes pornográficos e bonecas infláveis. Hoje, as mulheres soltaram suas amarras e não têm mais pudor para comprar desde géis a aparelhos sofisticados para dar vazão às fantasias, ter mais prazer, dar aquela apimentada na relação a dois ou até mesmo para satisfazer a si mesma.
De acordo com pesquisas realizadas pela Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme), a venda desses produtos cresceu 15% em 2012, movimentando R$ 1 bilhão. Nesse mesmo período, houve um aumento de 35% na comercialização itens citados nos livro, como algemas, máscaras e chicotes. As mulheres também passaram a dominar o mercado: de 2004 a 2012, houve um salto de 31% a 70% nas vendas para esse público.
Em Curitiba, basta uma rápida, mas atenta caminhada pelo centro da cidade para encontrar lojas de artigos eróticos, como a Sex Shop da Mulher. Quem ainda não se sente à vontade em entrar na loja, pode ainda comprar pela internet e receber o produto em casa. As vendas são para todo o Brasil. Aqui, a entrega é feita por uma motogirl, que, na verdade, é a mãe de Camila Nascimento de Souza, 22 anos, sócia da loja, onde começou a trabalhar aos 18 anos como vendedora.
Ela mesma conta que levou um grande susto no seu primeiro dia de trabalho, pois não sabia que tipo de loja era, mas hoje não existe mais esse tabu. E a prova disso é o casal de clientes de 80 anos de idade, que frequenta a loja pelo menos uma vez por mês. “Eles são um exemplo. Costumam comprar géis para ajudar na relação sexual, ótimos para mulheres que estão na menopausa, pois esta é uma fase em que a libido diminui”, explica.
Na loja, os produtos mais vendidos são os géis que deixam o ponto G mais sensível e o orgasmo mais intenso e as velas aromatizantes, como a recém-usada pela personagem Helô, na novela Salve Jorge. Para as mais “saidinhas”, ainda há vibradores, que podem ser discretos ou mais explícitos, ou fantasias. “As que mais saem são as de gueixa, enfermeira, bombeiro, policial”, enumera Camila. Pra quem entrou no embalo do livro Cinquenta tons de cinza, tem algema e chibata.
Muitas vezes, os produtos eróticos não servem apenas para satisfação sexual, mas ajudam a superar distúrbios que afetam a autoestima da mulher, como a ausência de prazer sexual, que afeta até 30% das brasileiras, segundo dados da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Um vibrador, o octopussy, que aparece no filme De pernas para o ar 2, ajuda a tratar o problema, auxiliando na recuperação da libido.
Mais do que lingerie
O sucesso do filme De Pernas para o Ar foi muito positivo para empresários do ramo que decidiram assumir de vez sua sex shop. De acordo com pesquisa feita pela Abeme, 95% dos entrevistados consideram benéfica a influência da produção cinematográfica para setor. Proprietária de uma loja de lingerie há um ano, a empresária Margareth Potier decidiu dar um upgrade no seu comércio e passou a comercializar produtos eróticos.
A vitrine da Sedução Moda Íntima instiga as mulheres a entrar na loja, mas, para não chamar muita atenção, os itens ficam expostos numa salinha fechada. “A maioria dos clientes são mulheres, entre 30 e 35 anos, casadas e querem apimentar a relação. Atendo tamb&ea,cute;m muitos homossexuais”, conta. Muitas mulheres vão até a loja para satisfazer o desejo do marido. “Elas compram algema, chicote, porque os homens querem fazer a vez da personagem do livro”, conta.
Uma de suas clientes é Denise Laureano, 32 anos, que é casada e compra cosméticos eróticos para aquecer a relação, ainda mais no friozinho do outono. “Antes, eu costumava comprar por catálogo. A vendedora trazia e entregava na minha porta. Agora, me sinto mais à vontade para entrar na loja. É difícil os maridos irem atrás disso, fica por nossa conta”, diz.
No mês passado, Margareth visitou a 20ª Erotika Fair, uma das maiores feiras do setor que aconteceu em São Paulo e onde foram exibidos o que há de novidade no mercado. Uma delas era o vibrador despertador lançado pela Loja do Prazer, o maior sex shop da América Latina. Para usar é simples: basta programar o relógio, escolher uma das seis opções de vibração e manter o vibrador na calcinha durante a noite.
Mas apesar desse crescimento e de a primeira indústria de gel para sexo oral ser de Londrina, o Paraná ainda é considerado preconceituoso em comparação com outros estados, como São Paulo. Não que as mulheres daqui sejam mais recatadas, mas, segundo a presidente da Abeme, Paula Aguiar, os empresários ainda têm uma ponta de receio em investir nesse nicho. “Ainda existem pessoas fechadas, tacanhas que confundem o mercado erótico com pornografia”.