Emprego após os 60 não é coisa de outro mundo

Depois de mais de 20 anos longe do mercado de trabalho, Beatriz Klein da Silva, de 64 anos, foi incentivada pelo filho a voltar a trabalhar fora de casa para ajudar na superação de uma perda familiar. Ao conseguir o emprego, não foi só a saúde de Beatriz que melhorou: sua autoestima aumentou, assim como a motivação, e ela até ganhou novos conhecimentos, como a informática. Se antes a terceira idade não tinha lugar entre os jovens no mercado de trabalho, hoje suas qualificações começam a ser vistas como diferencial e conquistam chefias e clientes.

Quando perdeu a mãe, Beatriz ficou muito abalada. “Foi um período muito difícil, comecei a desmaiar muito. Meu filho me motivou a procurar alguma coisa para fazer”, relata. Como já era cliente da rede Pão de Açúcar, Beatrizw foi tentar um emprego no supermercado. “Eu falei com o gerente. Ele disse que não tinha vaga, mas ia dar um jeito”, conta. E deu mesmo: como fazia doces em casa, ela começou trabalhando como confeiteira. Em três anos que trabalha na rede, ela já está em nova função, como auditora de validade.

“Mudou a minha autoestima, todo dia me sinto motivada de levantar para fazer algo útil. Tinha problemas sérios de saúde e até isso melhorou”, diz Beatriz. Com o trabalho, vieram também novos aprendizados. “Eu não sabia mexer no computador, agora sei”. Ela pretende ainda terminar o curso de francês. “O idoso tem suas limitações, mas a experiência e a força mental se adquirem somente com muita vivência. Nesse ponto, os jovens não podem competir conosco”, afirma Beatriz.

Neusa Alexandrina Moreira, de 61 anos, é outra que faz parte do time das mulheres com mais de 60 que continuam trabalhando. “Tive muita sorte, pois, pela idade que eu estou, achava que ninguém ia me contratar, mas o que manda é o caráter e a disposição”, afirma ela, que contratada como auxiliar de limpeza pelas Casas Bahia há dois anos. Ela conta que trabalha desde os oito anos de idade e que não tem nenhum plano de largar as atividades. “Minha alegria é estar trabalhando”, diz.

A situação econômica que a capital paranaense vivencia atualmente favorece a contratação de pessoas da terceira idade. A taxa de desemprego no mês de setembro em Curitiba foi 3,3%. “Os empregadores reclamam muito de falta de mão de obra, então começam a ampliar o olhar, procurar um público que talvez antes não estivesse interessado”, avalia a diretora de relações e planejamento do trabalho da Secretaria Municipal de Trabalho e Emprego, Lenina Formaggi.

Das 278 vagas oferecidas atualmente, 40% não possuem restrição de idade – o que significa que podem ser ocupadas por idosos. No entanto, segundo Lenina, a procura por parte das pessoas acima de 60 anos ainda é baixa. “De 1º de julho até 31 de outubro, 531 idosos foram encaminhados para uma entrevista ou tiveram alguma alteração de cadastro no Sine, o que é bem pouco, pois representa 1% do total de pessoas”, finaliza.

Maturidade e paciência são diferenciais

O gerente do Pão de Açúcar, Claudinei Oliveira, diz que os funcionários da terceira idade têm como diferencial “a força de vontade em querer aprender e o prazer de servir não só os clientes externos, mas os internos também”. Além disso, costumam ser pontuais e responsáveis. “Os clientes adoram porque os colaboradores mais novos não têm essa predisposição de ouvir, ter paciência, dar dicas”, ressalta.

A coach e consultora organizacional da Potencial Desenvolvimento Humano, Mariana Stachiu, destaca que muitas empresas têm dado preferência a pessoas de mais idade em virtude desse diferencial. “Elas trazem toda uma bagagem da experiência, da maturidade e da paciência adquiridas com o tempo nos processos organizacionais”, avalia. Outro ponto positivo é a baixa rotatividade dos funcionários idosos. “Normalmente, a pessoa com mais idade tem uma permanência maior na empresa”, comenta.

Já para as pessoas de mais idade, o trabalho pode trazer benefícios sociais. “Proporciona uma maior sociabilidade, ainda mais porque normalmente a pessoa da terceira idade não tem uma vida muito ativa, fica mais em casa”, afirma Mariana. Para isso, o idoso deve buscar uma atividade que lhe traga prazer. Mesmo para os idosos que estão aposentados ou planejam ficar, Mariana lembra ainda que isso não significa necessariamente ficar sem fazer nada. “É importante que a pessoa se atente que se aposentar não significa não ter outros projetos porque quando a gente perde objetivos de vida acaba adoecendo, ficando triste. É necessário achar uma ocupação, mesmo que não remunerada”, complementa.

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