Histórias de desentendimentos entre noras e sogras são tão comuns que já se tornaram motivo de piada inúmeras vezes. Se você mesma nunca passou por isso, pelo menos uma de suas amigas já. Na maioria das vezes, sobra para a sogra o papel de vilã, mas, apesar de esse estereótipo de sogra – briguenta, ciumenta e intrometida – habitar o imaginário popular, tudo isso é só folclore. Tem muita nora que se dá bem com a sogra.
Independente de qual seja a relação que você tenha com a sua sogra, que tal admitir pelo menos um dia a importância dessa mulher que gerou aquela pessoa que você tanto ama e dar um parabéns a ela? Pois, neste domingo é o dia ideal para isso, afinal, 28 de abril é o Dia da Sogra. Também pode ser um bom momento para rever seu relacionamento com ela, encarando-o de outra maneira.
Para a psicoterapeuta e professora da FAE Juliana Bley, existem muitos mitos em torno da figura da sogra. “Foi criada uma alegoria. É claro que algumas coisas são verdades, mas há muito exagero também”, comenta. Por ter uma atuação voltada à terapia de famílias e casais, ela entende bem do assunto.
Um dos mitos é a afirmação de que toda relação entre nora e sogra é delicada. “Muitas mulheres têm uma relação maravilhosa com a sogra, vendo nela uma pessoa com a qual podem contar para cuidar das crianças e uma aliada para gerenciar conflitos com o marido. Tem muita gente que considera a sogra uma parceira, guardando as devidas proporções”, exemplifica.
Outro ponto que pode ser questionado, segundo Juliana, é por que falar tanto da sogra, mas não do sogro? “Muitos genros sofrem por causa do sogro e ninguém fala disso”, reclama. Ela também não acredita naquele papo de que a sogra pega no pé da nora porque é uma mulher que está “roubando” seu filho. “Às vezes, as atitudes levam a crer que trata-se de um ciúme de posse, mas não é. Essa resistência das sogras em relação às noras, quando acontece, está relacionada à dificuldade em aceitar que o filho cresceu”.
É daí que vem outro estereótipo de sogra: aquela que infantiliza o filho adulto. “Esta é uma mãe que não quer que o filho cresça e age com um instinto materno desregulado, fora de contexto, protetor demais. Já acompanhei casos em que a mãe ligava para o filho para saber o que a esposa tinha feito de almoço, se estava à altura dele”, conta. Essa intromissão deve ser evitada, segundo Juliana. “Tanto a sogra quanto a nora precisam conhecer seus limites”, orienta.
Saudável
Juliana faz algumas recomendações para que o relacionamento entre sogra e nora dê certo. Primeiro, é preciso que elas respeitem as individualidades da outra, aceitando hábitos e costumes que podem ser diferentes. Depois, é preciso pensar também no papel que o filho/marido desempenha nesse relacionamento. “Ninguém fala dele, mas ele é o elo entre as duas”, lembra.
De acordo com ela, em muitos casos, o próprio filho/marido tem dificuldade em estabelecer espaços diferentes entre a família de origem e a nova. “Normalmente, os conflitos são agravados pela falta de posicionamento do homem. Ele precisa dizer: ‘Mãe, aqui é a minha casa, respeite nossas decisões, não fale mal da minha esposa, ela é a mulher que escolhi’ ou ‘Esposa, quando estamos na casa da minha mãe, respeite as atitudes dela, mesmo que não concorde’”.
Quando esse diálogo não acontece, os limites são ultrapassados e os conflitos começam a aparecer. “Por medo de magoar a mãe, o filho a deixa invadir o espaço do casal, deixando a esposa louca. Ou, ainda, deixa que a esposa dite regras no espaço da família de origem, o que também não é certo”, afirma. Para ela, esse relacionamento exige um posicionamento mais maduro e adulto dos homens. Grandes interferências podem desestabilizar o casal. “A sogra não é a causa da separação, esta é uma forma muito simplista de ver a dinâmica do casal, mas os conflitos podem contribui,r”. Em casos em que o casal não consegue resolver essas questões com diálogo, pode-se recorrer a uma ajuda profissional. “A terapia de casais ajuda a enxergar as consequências negativas dessa intromissão e aprender a se proteger, usando habilidade, criatividade e afetividade”.
Um relacionamento exemplar
O assunto “relacionamento com a sogra” é tão polêmico que é até difícil encontra alguém que aceite falar sobre isso, com receio de se comprometer. No entanto, a farmacêutica Luciana Wollmann, 35 anos, não tem esse medo, talvez justamente por ter um relacionamento exemplar com sua sogra, Terezinha Wollmann, 67 anos. Casada com Alexandre Wollmann há seis anos, ela conta que nunca teve um desentendimento sequer com a sogra.
“A gente sempre se deu muito bem, ela nunca se meteu na minha vida, na minha casa e na criação da minha filha”, afirma. A simpatia por Terezinha surgiu logo na primeira vez em que se viram. Ela conta que, no dia em que se conheceram, nenhuma das duas sabia que isso ia acontecer. “Passamos na casa dela só para pegar alguma coisa. Como não sabia que eu ia, estava de bobes no cabelo, roupa de ficar em casa e foi logo reclamando de não termos avisado. Achei graça porque minha ex-sogra não conversava muito comigo”.
Mas a personalidade expansiva da sogra também pegou Luciana de surpresa no início do relacionamento. “Uma vez, fomos para a praia e, logo que chegamos, ela pediu para eu dar uma olhada na piscina. Então, me empurrou pra água sem avisar e ainda falou: ‘Isso é para você aprender a não confiar nem na sua sogra’”, conta. Apesar de Alexandre ter ficado bravo, Luciana aceitou na brincadeira.
É por essas e outras que Terezinha admira sua nora. “Eduquei o Alexandre para a vida e confio nele, pois todo relacionamento tem que ser confiança. Sempre tive respeito por ele – a decisão é dele, a escolha é dele. Mas confesso que tive sorte de ter uma nora como essa. Sou apaixonada por ela, às vezes, até chamo a atenção dele para cuidar bem dela”, garante. Apesar de admitir que as duas são “carne de pescoço”, Luciana acredita que nunca terão atrito, pois cada uma respeita os limites da outra.