Na data de hoje, comemora-se o Dia Nacional de Combate ao Câncer, criado em 1988 como medida para ampliar o conhecimento da população brasileira sobre o tratamento e, principalmente sobre a prevenção da doença. De acordo com dados do Ministério da Saúde, esta é a segunda principal causa de morte no Brasil. Entre as mulheres, o câncer de mama é o segundo mais frequente, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mas também é aquele que mais mexe com a vaidade feminina.
Queda de cabelo e remoção (total ou parcial) de um (ou dos dois) seio, somados a um tratamento difícil, que causa cansaço e indisposição, são apenas algumas das situações que deixam qualquer mulher sem autoestima. Mas nada disso foi suficiente para abater 15 curitibanas guerreiras que lutam ou já lutaram contra esta doença, com uma forcinha de uma fotógrafa bem-
intencionada, que as fez acreditar novamente em sua beleza e voltar a ver a vida com leveza.
Divulgação/Dorian Mendes |
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Magali no book, com o tão temido lenço. |
Por ocasião da campanha Outubro Rosa, a fotógrafa Dorian Mendes, 49 anos, este ano, decidiu fazer um book fotográfico de uma mulher que estivesse enfrentando o câncer de mama. Depois de lançar uma campanha na internet e receber histórias de outras pacientes, resolveu ampliar o projeto e acabou fotografando 15 delas, que receberam os books prontos na semana passada. “Sempre invento alguma coisa assim, desde que colaborei com a doação de uma cadeira de rodas para uma menina carente e doei um book para ela. Desta vez, quis homenagear essas mulheres, ainda mais porque tenho um caso na família”, explica.
Para isso, ela contou com o apoio de diversos parceiros, que contribuíram com os custos de impressão, produção (inclusive, maquiagem) e da festa de entrega dos books. E foi assim que Dorian conheceu as histórias de superação da iconógrafa Magali Hecke, 44, e da enfermeira Alessandra Ofsiany, 38, entre outras. Para ambas, a iniciativa foi importante para recuperar a autoestima e redescobrir a beleza, depois de um tratamento desgastante.
Tanto uma quanto a outra passaram pela cirurgia de remoção parcial de um dos seios, mas o que mais as incomodou foi a queda de cabelo devido à quimioterapia. “Com certeza, o pior não foi tirar o seio porque, se precisar, existe a prótese. Eu mesma não precisei tirar o seio inteiro e colocar prótese. Como o outro também foi reduzido para não ficar desproporcional, até gostei porque parece que fiquei mais magra. A parte mais terrível foi ficar careca. Meu cabelo era bem comprido e já na segunda aplicação da quimio, ele começou a cair. Então, cortei antes que ele caísse de vez para fazer uma peruca”, afirma Magali.
Ela ainda conta que usou a peruca durante alguns meses, mas quando foi chegando o verão, era difícil continuar com ela por causa do calor. “Todo mundo me falava pra usar lenço, mas o problema é que não conseguia me ver sem franja. Um dia, uma amiga do trabalho disse que o dia que eu quisesse ir de lenço, ela ia também. Quando resolvi fazer isso, avisei ela e, quando cheguei no trabalho, todas as mulheres estavam de lenço. Foi emocionante”, lembra.
Nessa mesma época, ela tinha viagem marcada para visitar a irmã nos Estados Unidos. “Foi o momento que fiquei mais feia, mas me diverti muito”, avalia. Mesmo tendo recuperado o cabelo, as sobrancelhas e os cílios, que também caíram, ela diz que ainda se sente horrível. Neste sentido, o book foi tão especial. “Estava me sentindo péssima, achava que todo mundo me olhava na rua, mas na produção do book me senti linda. Achava que não ia mostrá-lo pra ninguém, mas agora tenho orgulho da,s fotos. Não sei para as outras, mas para mim, foi importantíssimo”.
Com Alessandra, o processo foi parecido. “Minha autoestima foi lá no chão. Não gostava de me expor sem cabelo. Em casa, estava tudo bem, mas era só pôr o pé para fora de casa que tinha que colocar o lenço na cabeça. E ainda teve a queda de cílios e sobrancelha, que deu uma aparência de doente”, comenta. Apesar de ter superado o câncer de mama, a enfermeira desenvolveu novamente a doença recentemente, na caixa torácica. Ela enfrenta novo tratamento, sempre com o apoio da filha Maria Fernanda, de dez anos, que participou das fotos com ela.
O book, portanto, foi uma injeção de ânimo, o que prova que uma simples ação pode ajudar a superar momentos difíceis. “Eu nunca buscaria uma produção dessas agora, mas caiu como uma forma de mostrar que, mesmo com a doença, com as cicatrizes, ainda há um aspecto bonito. Foi como um raio de sol num dia chuvoso. Me senti a Gisele Bündchen”.