Corpo e mente trabalham juntos, em sintonia e harmonia. Mas, quando um deles se desiquilibra, o outro também sofre as consequências. Quando passamos por um processo doloroso, como uma demissão, divórcio, situação de violência, hospitalização, morte de um ente querido ou qualquer outro trauma, podemos estar sujeitos também a desenvolver a somatização. Ela acontece quando alguns sintomas físicos se manifestam em nosso corpo, como um reflexo dele à dor emocional, sem que estes sintomas sejam gerados ou levem a uma doença.

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Para a psicóloga do Hospital Pilar Raphaela Vasconcellos, a somatização é um processo normal, que pode ser vivenciado por qualquer pessoa em algum momento da vida. “A somatização é a expressão no corpo a um sentimento de ordem psíquica. É um fenômeno normal e comum, que acontece quando este sentimento é exteriorizado, quando vem para o corpo, sem ter causas orgânicas”, explica.

Isso quer dizer que uma pessoa com raiva pode somatizar este sentimento e sentir falta de ar, já pessoas submetidas a situações estressantes podem apresentar dor de cabeça ou desconforto gastrointestinal (dor de barriga), entre outros sintomas, que não são conscientes, ou seja, não são provocados pela vontade própria da pessoa. E, ao investigar estes sintomas, os médicos não encontram doenças como a origem dos problemas.

“Para gerar um sintoma somático, a pessoa precisa ser submetida a uma situação traumática externa, como a morte de um parente, ou a um problema interno, como um medo, conflito ou angústia. Mas as pessoas também tendem a achar que qualquer coisa é reflexo de uma tristeza, e isto não é verdade”, observa Raphaela.

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A somatização é geralmente um fenômeno isolado, que passa após alguns dias, sem trazer maiores prejuízos para as pessoas. Mas, de acordo com a psicóloga, o que preocupa os profissionais de saúde é a importância de se realizar um diagnóstico correto. “A avaliação do problema deve sempre ser feita por um médico. É ele quem pode fazer exames clínicos e laboratoriais que irão detectar ou descartar a existência de uma doença, uma possível causa orgânica que provoque os sintomas. A pessoa precisa sempre investigar se não está doente”.

Mas a pessoa também pode desenvolver transtornos somatoformes, que aparecem quando os sintomas são variados, associados e de maior duração. Os transtornos são considerados patologias psiquiátricas e, entre eles, há o Transtorno de Somatização (os pacientes têm diversos sintomas físicos de dor, gastrintestinais, sexuais e pseudoneurológicos, sem causa orgânica), Transtorno Hipocondríaco (medo da morte e de possuir alguma doença, o que leva a constante busca por atendimento médico e medicamentos), Transtorno Doloroso (o paciente relata fortes dores e pode acabar dependente de remédios para a dor), entre outros.

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Para o médico clínico-geral do Hospital Vita Batel Ricardo Rolim de Moura, receber pacientes com sintomas provocados pela somatização é algo muito comum, especialmente no serviço de pronto-atendimento. Segundo ele, entre as queixas mais frequentes dos somatizadores, estão dor no peito, palpitação, falta de ar, dor de estômago, dor de cabeça, dor nas costas, insônia, tontura, entre outros sintomas. “Estas reclamações são comuns, o paciente sente as dores de forma muito intensa, mas o médico investiga a fundo, pede muitos exames e não encontra nenhuma alteração química ou laboratorial”.

Moura diz que, mesmo não havendo doença orgânica, isto não significa que a pessoa não esteja passando por problemas. “O paciente não costuma saber que tem um problema emocional, ele imagina que está mesmo doente. E, como médico, nosso papel é ouvir suas queixas e investigar. Quando detectamos que as emoções podem ser a causa das dores e desconfortos, encaminhamos a pessoa para avalia&cced,il;ão com psiquiatras e psicólogos, para tratamento e acompanhamento psicológico”.

Com base em sua experiência, o médico diz que a somatização ocorre em maior número em pessoas mais jovens e também nas mulheres. E, além dos sintomas provocados pela somatização, doenças psicossomáticas também levam as pessoas a buscar atendimento médico. “Entre as psicossomáticas, atendemos muitos casos de gastrite, cefaleia, lombalgia e alergias, que podem ser provocadas pelo excesso de cobranças no trabalho e ritmo de vida estressante, por exemplo”, diz o médico.

Apesar de somatização e das doenças psicossomáticas terem fatores emocionais como suas causas principais, elas sãos condições diferentes. A somatização não traz nenhum problema aos órgãos do organismo. Já as doenças psicossomáticas são doenças físicas de fato, que, apesar de terem fundo emocional, têm como característica lesões e danos ao organismo.