Nas grandes cidades, não tem como escapar do trânsito e da espera no transporte coletivo para cumprir o trajeto entre casa e trabalho. Para alguns, esta tarefa fica mais complicada, quando a distância é grande e ainda precisa ser percorrida de ônibus. Diariamente, mulheres de todas as classes sociais vivem esta realidade, que inclui fazer uma programação que preveja o tempo de deslocamento. Se você não faz isso, pode perder um compromisso ou chegar atrasada no emprego. Quem mora longe do trabalho garante que a maior desvantagem é o tempo perdido no trânsito, no carro ou no ônibus.

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Sueli de Fátima Martins mora em Fazenda Rio Grande e trabalha de segunda à sexta-feira como diarista em Curitiba. Ela praticamente cruza a cidade para atender clientes em bairros como Centro Cívico e Cabral. Para poder estar às 9 horas nas casas onde fará faxina, ela precisa pegar o ônibus em Fazenda Rio Grande no máximo às 7h30. E ainda corre o risco de atrasar diante do enorme movimento na BR-116 e nas ruas de Curitiba. “Tenho que acordar às 5 horas da manhã para poder fazer tudo o que preciso antes de sair de casa e ainda sair no horário. É uma distância muito grande, mas faço isto porque preciso trabalhar”, comenta.

Sueli conta que procurou trabalho em Fazenda Rio Grande, mas encontrou dificuldades para achar vagas disponíveis no município da Região Metropolitana onde mora. Quando tem, nem sempre o salário compensa, mesmo excluindo a necessidade de fazer a viagem diária até Curitiba. Ela já deixou um emprego em São José dos Pinhais por causa da distância. Além disto, a oferta de trabalho é maior em Curitiba. “Prefiro trabalhar em Curitiba, mesmo sofrendo com a questão do transporte. A gente se acostuma”, afirma.

Sueli também pensou em vender a casa que tem em Fazenda Rio Grande para comprar um imóvel em Curitiba. O plano foi esquecido porque o valor oferecido pela casa na Região Metropolitana dá apenas para comprar um terreno na capital. Mas, para Sueli, pode surgir uma saída para tudo isto. “Estou pensando em tirar a carteira de habilitação e depois comprar um carro. Ficaria bem melhor e um carro faz falta. O problema é conseguir me programar para poder frequentar as aulas”, revela. Do trânsito, Sueli pode não escapar mesmo tendo carro. No entanto, a viagem poderia ser mais confortável. Recentemente, ela machucou o pulso depois de um movimento brusco no ônibus.

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A realidade é totalmente diferente para a operadora de caixa Valéria Martins, que mora no bairro Portão, em Curitiba. Ela trabalha a apenas duas quadras de casa, em uma panificadora. Se precisa ir para a outra unidade da empresa, a situação é resolvida com uma caminhada de 20 minutos. Tudo começou com uma oportunidade, depois de deixar um emprego também na região, mas que exigia uma caminhada de 20 a 25 minutos. Ela começou a procurar outra vaga até que encontrou uma disponível na panificadora pertinho de casa e da qual já era cliente. “Foi perfeito”, comenta.

Ela está neste trabalho há quatro meses. “Vejo pelas minhas colegas de trabalho como a questão do deslocamento é difícil. Mas eu também já passei por isto, de ficar uma hora e meia, duas horas dentro de um ônibus. Trabalhar perto de casa faz uma diferença enorme, principalmente na qualidade de vida e você ainda pode ficar mais tempo em casa”, destaca Valéria. Além disto, ela consegue fazer as principais refeições na própria residência, evitando gastos maiores com alimentação em restaurantes ou lanchonetes.

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Valéria também não precisa prever recursos para o transporte em seu orçamento mensal. “Compensa ganhar um pouco menos, mas trabalhar perto de casa. Se colocar bem na balança, é fácil ver que vale a pena investir em um trabalho perto de casa”, opina. Para ela, deveria ser articulada uma política pública neste sentido, de geração de empregos em &aacu,te;reas residenciais, beneficiando os moradores daquelas regiões. “Demorar tanto dentro do ônibus ou no transito impacta diretamente no trabalho e na produtividade das pessoas, ainda mais quando o trabalho está relacionado com atendimento ao público”, aponta.