‘Balzaquianas” já sabem enfrentar os 30 anos

É comum a mulher que se aproxima dos 30 anos fazer aquele “check list” de sua vida: Já casei? Tenho filhos? Estou satisfeita com o meu emprego? Aproveitei bastante os meus 20 anos? Essas são algumas das questões que surgem na chamada crise dos 30, idade que ficou estigmatizada por causa de um escritor francês, Honoré de Balzac, autor do clássico A mulher de trinta anos. A partir daí, toda trintona passou a ser rotulada de “balzaquiana”, apesar de muitas delas nem saberem porque são chamadas assim.

Reprodução
Balzac: o defensor das mulheres de 30 anos.

O romance do francês foi escrito no século XIX, quando a mulher de 30 anos já era considerada velha, muito diferente dos padrões atuais. No livro, os personagens Carlos de Vandenesse e Julia d’Aiglemont têm a mesma idade e se apaixonam perdidamente. O problema é que o homem de 30 ainda é considerado um jovem, mas a mulher não. Balzac, então, valoriza essa mulher mais madura, ou seja, mais experiente.

Nos anos 1950, os 30 anos da mulher também foram inspiração para uma marchinha de Carnaval e, hoje, são o tema de inúmeros blogs, pois a passagem dos 20 para os 30 ainda é um marco na vida das mulheres. Algumas até fazem aquela festa de arromba para celebrar. Outras, porém, encaram essa etapa como um momento de introspecção que traz à tona o sentimento de frustração e o medo de envelhecer.

Para Fernanda Sabino de Melo, analista em uma empresa de tecnologia, a vantagem da nova idade é ter mais experiência e segurança para tomar decisões. Já as desvantagens vão desde piadinhas dos amigos mais novos até a pressa de querer conquistar o que ainda não conseguiu. “Acho que os 30 anos pesam muito nos fatores vaidade, para umas, e status, para outras. Chegar a essa idade sem conquistas é muito frustrante. Eu, por exemplo, ainda não tenho filhos”, avalia.

Até completar 30, Fernanda pensava que a famosa crise era exagero, mas diz que sentiu na pele a mudança. “Passei o dia do meu aniversário na cama, nem telefone quis atender. Só meu namorado ficou comigo no dia”, lembra Fernanda. Para ela, além do conflito de ainda não ser mãe, há o temido medo de envelhecer. “O medo de envelhecer é terrível, mas é real”. Ela completa 32 anos na próxima quarta.

Para a analistas de processos Andréia de Oliveira Melo, 34, a passagem também foi difícil. “Faço aniversário no final do ano e na metade do ano em que iria completar 30 anos, comecei a pirar”, lembra Andréia. Foi então que ela começou a analisar sua vida em todos os aspectos, profissional, pessoal, amoroso. Apesar de ter passado por muitas experiências, como um casamento que durou dez anos e gerou uma filha, essa autoanálise não trouxe bons resultados.

“Quando você começa a se analisar, começa também a se julgar de certa forma. Aí começaram os problemas. Vi que já se passava 30 anos e o que eu havia feito? Na minha concepção: nada”, afirma. Depois da angústia, Andréia superou a marca dos 30 e agora se sente muito melhor, com um bom emprego e cursando uma faculdade. “Hoje me sinto muito mais mulher, mais bonita, com maturidade, eu me gosto muito, mas não foi fácil passar por essa etapa”, admite.

Os reflexos no corpo e na mente


Arquivo Pessoal
Fernanda sente os efeitos da idade e lamenta não ter filhos ainda.

Para quem acha que essa crise dos 30 é apenas frescura, saiba que a mulher passa sim por transformações: são as diferenças hormonais que começam a alterar o corpo feminino. Andreia, por exemplo, sentiu diferença. “Antes, podia comer sem problema e não engordava. Hoje, mudou. Engordei cinco quilos desde então. Não perco mais peso com facilidade”. Além de dificuldade de emagrecer, Fernanda também sentiu menos disposição para fazer tarefas.

A chegada da menopausa acontece entre os 45 e 50, quando ocorre uma queda do estrogênio, mas existe a chamada menopausa precoce, aos 35 anos, como explica o ginecologista do Hospital e Maternidade Santa Brígida Afonso Clemer Tosin Lopes. “A queda do hormônio ocorre pela falta do folículo ovariano, onde os óvulos ficam guardados. E é esse folículo que gera o bebê. Como a mulher já nasce com a quantidade certa de óvulos, quando acaba, não recupera”, afirma o médico.

Com os níveis baixos do estrogênio, a quantidade de testosterona aumenta e transforma o metabolismo da mulher. “Com o acúmulo desse outro hormônio, a mulher perde cintura, fica com a voz mais grossa, tem a libido diminuída”, diz o médico. Por conta de todas essas mudanças, o ideal é que ela tenha filhos até os 35 anos. “Mas infelizmente, o meio exige que a mulher contribua no orçamento familiar e ela acaba se distanciando do desejo de ser mãe. Por outro lado, quanto mais tarde ela tiver filho, o lado emocional dela estará mais forte para enfrentar uma gravidez”.

Mas o psicólogo e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Américo Agostinho Walger, garante que fazer 30 anos está longe de ser o início do fim do mundo e não há motivos para tanto drama. “A expectativa de vida aumentou muito e as pessoas também mudaram se compararmos com a realidade de 170 anos atrás. Hoje, as mulheres têm a opção de ter filhos mais tarde e a pressão do casamento diminuiu”.

professor também acredita que a idade não interfere muito. “Na maioria das vezes, não há restrições. Pois, quanto mais experiência de vida ela tem, mais inovações para a empresa ela vai trazer. Tem até uma passagem do livro de Balzac que diz que a mulher dos 30 ensina e, com menos idade, ela quer aprender. Com 30, ela mescla as duas coisas: experiência e juventude”.

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