Baixa remuneração é o que mais desmotiva no trabalho

Trabalhar num ambiente organizacional equilibrado, mantendo um bom relacionamento com demais colaboradores e gestores, e ainda receber um bom salário é o desejo de todo profissional. Ser reconhecido pelo chefe e pelos colegas certamente é um incentivo a desempenhar melhor as tarefas e bater as metas. No entanto, não é toda empresa que tem a visão de investir no colaborador, oferecendo benefícios ou proporcionando um ambiente de trabalho adequado, uma comunicação transparente e um tratamento respeitoso.

Há pessoas que atuam na profissão que sempre sonharam, mas se decepcionam com a filosofia da empresa. A motivação de antes dá lugar à insatisfação e o trabalho passa a ser visto como um fardo, uma mera obrigação. O ambiente de trabalho e a relação com os colegas rapidamente se deteriora e o estresse passa a dominar a rotina da profissional, como já mostramos aqui no TDelas anteriormente. Quando o salário não é compensatório, a situação tende a piorar ainda mais.

Pesquisa realizada em 2012 pela 4hunter Consultoria com mais de 500 profissionais, homens e mulheres, de várias áreas de todo o país, apontou que os fatores que mais desmotivam o colaborador são a baixa remuneração (29,6%), a falta de reconhecimento profissional (25,6%) e o clima organizacional (20,6%). O cargo, o desentendimento com o gestor e a falta de satisfação pessoal ficaram em último lugar no ranking. A pesquisa, porém, revela que, entre as mulheres, há empate entre salário e clima organizacional.

O professor e coordenador do curso de Psicologia da Universidade Positivo (UP), Raphael Di Lascio, acredita que o salário já não é o principal estímulo para alguns profissionais se manterem no emprego. “O ambiente fideliza o profissional. Conheço gente que recebeu proposta de ganhar mais em outra empresa, mas não aceitou por não concordar com a filosofia dela. Há pessoas que ganham menos, mas são mais respeitadas e tem mais status”, compara. Ele participou de mesa redonda sobre saúde mental e trabalho, semana passada, no Conselho Regional de Psicologia do Paraná.

Para ele, comunicação, transparência e integração no ambiente de trabalho são fatores fundamentais para manter um clima organizacional harmônico e um bom relacionamento entre gestores e colaboradores e entre os próprios colegas de trabalho. O comportamento do chefe e o modo como ele se dirige ao subordinado influencia significativamente na manutenção de uma relação saudável. “O gerente precisa se apresentar de uma forma razoável na hora de se comunicar com a equipe. A pressão de atingir as metas, oferecer soluções e mostrar resultados faz parte de qualquer cotidiano, mas tudo depende do jeito como essa informação é transmitida”, explica.

É preciso que isso seja colocado de uma forma natural e que as pessoas consigam entender quando a empresa está com resultados ruins e precisa melhorar, segundo ele. “Deve-se discutir abertamente a situação e não esconder o jogo”, diz. Caso contrário, um ambiente nebuloso, cheio de dúvidas e onde não há diálogo contribui para um funcionário desmotivado. “O gestor não deve ficar gritando. Se ele quer falar algo que alguém fez errado, deve chamar o funcionário no canto e não expô-lo em público. Também não precisa ficar passando a mão na cabeça”, completa.

A capacidade do gestor em dar respostas – o famoso feedback – e avaliar o desempenho do subalterno é fundamental. É importante que os diálogos sejam sempre claros e transparentes. “O gestor deve acompanhar não só o resultado geral, mas de cada funcionário. Quando percebe que alguém está com problema, ele deve agir, conversando diretamente com ele”. Para a psicóloga Guisela Schmidt, que atuou durante 23 anos em empr,esas, a transparência na relação gera confiança. “É fundamental que a empresa deixe claro o que ela quer do funcionário”, diz.

Com as funcionárias, o tratamento deve ser ainda mais cauteloso, principalmente porque homens e mulheres têm formas diferentes de interpretar a vida. “O papel da mulher é fundamental para a sociedade e ela deve ser muito respeitada. Afinal, se não ficassem grávidas, ninguém teria chefe”, brinca Di Lascio. Mas é importante que o ambiente de trabalho não se transforme numa patotinha, misturando amizade com profissionalismo. “Trabalhei numa empresa de RH só com mulheres. O ambiente era ótimo, mas às vezes tinha de chamá-las e dizer que elas não eram um grupo de escoteiras”, lembra Guisela.

Puxa-saco

Bajular o chefe já não é sinônimo de promoção garantida. É claro que uma aproximação com a chefia torna a relação mais harmoniosa, mas não necessariamente significa que a funcionária terá um aumento por causa disso. “É claro que esse funcionário tem mais condições de crescer do que o tímido ou o irritado. Mas, hoje, muitas empresas trabalham com o método de avaliação de competências, que escolhe quem é mais adequado para ocupar determinado cargo, um modelo mais justo”, acredita a psicóloga.

Para tornar o clima saudável, não depende apenas do gestor. O colaborador também deve manter uma postura que contribua pra isso. “Ele precisa ter respeito, comunicação, possibilidade tratar assunto profissional. Tem que colaborar para que os objetivos de todos sejam alcançados, como um time de futebol. Sozinho, ele não ganha a partida”. É importante também que o colaborador tenha abertura para expor sua insatisfação. Mas não adianta só reclamar. É preciso correr atrás de suas pretensões.

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