Qualquer mulher que engravida por livre e espontânea vontade não pensa, de maneira nenhuma, na possibilidade em interromper a gravidez, mas, muitas vezes, essa decisão foge do controle da gestante. O aborto espontâneo pode atingir mulheres de diferentes idades e em qualquer gestação. O risco pode estar na primeira, na segunda ou na terceira gravidez. As grávidas devem ficar atentas e começar o pré-natal o quanto antes. Infelizmente, o aborto espontâneo é comum e tem diferentes causas. No Brasil, não há estatísticas precisas, mas especialistas estimam que 10% das gestantes sofrem aborto.
Seja qual for a causa, o aborto é um momento estressante para a mulher, pois envolve não apenas a condição de saúde, mas também o aspecto emocional. Vanessa (nome fictício), de 33 anos, passou por um aborto espontâneo no final do ano passado, entre a 11ª e a 12ª semanas de gravidez. Era a segunda gestação dela. Vanessa já tem uma filha e não teve problemas durante a primeira gravidez
Em um dia de dezembro, próximo do Natal, ela acordou com um pequeno sangramento e lembrou o que o médico havia comentado durante o pré-natal. “O médico disse que todo sangramento em gravidez é preocupante”, lembra. Apesar do sinal, Vanessa foi tomar banho e fazer algumas coisas em casa, quando percebeu uma hemorragia muito forte. Ela correu para o hospital e, no caminho, ligou para o seu médico, que a tranquilizou. Assim que chegou ao hospital, foi direto para o serviço de ecografia, feito por outro médico. Aos poucos, este profissional foi mudando de feição, ficando cada vez mais sério, fazendo uma série de perguntas e usando termos que Vanessa não conhecia. Até que veio a confirmação de que o aborto estava em andamento.
“Deu aquele choque e meu mundo desabou naquela hora. Saí da sala da ecografia chorando. As pessoas ficaram olhando, ficou aquele silêncio. Voltei para o consultório do médico e ele confirmou o aborto. Disse que não tinha mais o que ser feito”, conta Vanessa. “No dia do aborto, eu me conformei. Achei que ia lidar com tranquilidade. Mas a ficha só caiu no dia seguinte. Não tinha vontade de fazer nada. Os dias que vieram na sequência foram muito difíceis”, avalia Vanessa.
Ela acredita que o fato de já ter uma filha ajudou na recuperação após o estresse do aborto. A experiência na própria família, de uma parente que teve um aborto na segunda gestação e depois teve uma filha sem qualquer problema na terceira gravidez, também ajudou Vanessa a lidar com a situação. Depois de alguns meses, ela teve vontade de engravidar novamente, mas ainda não colocou o plano em prática depois de mudanças na carreira, o que demandaria ainda mais dedicação.
Má formação é a principal causa
A interrupção involuntária na gravidez acontece até na 12ª semana de gravidez, sendo mais comum entre seis e oito semanas de gestação. Entre as causas para o aborto espontâneo, está a má formação genética do ovo fecundado, afetando o desenvolvimento do embrião, de acordo com o médico ginecologista e obstetra Gleden Teixeira Prates, da Hospital Maternidade Santa Brígida.
O próprio corpo dá sinal para que esta gestação não prossiga. Segundo o médico ginecologista Edison Luiz de Almeida Tizzot, do Hospital Nossa Senhora das Graças, a maior parte dos abortos espontâneos – principalmente os que ocorrem nos dois primeiros meses da gravidez – tem origem desconhecida. Pode haver relação com a má formação do ovo. “A formação inadequada faz que o que organismo rejeite este ovo. Não há o que a mulher possa fazer”, explica.
O aborto também pod,e ser gerado por problemas hormonais e causas infecciosas (presença dos vírus causadores da rubéola ou da herpes, por exemplo). A mulher que possui diabetes grave ou disfunção preocupante na tireoide também deve ficar atenta. “Todos os casos, com exceção da má formação genética, podem ser diagnosticados, com tratamento ou prevenção”, destaca Prates.
O principal sinal de alerta é o sangramento, que pode aparecer com um tom vermelho bem vivo ou até mais na coloração marrom escuro. A gestante deve procurar o médico imediatamente para poder passar por uma ecografia, na qual se confere as condições de saúde da mulher e do bebê. “O saco gestacional pode ter se descolado, mas pode voltar para a parede uterina, não oferecendo riscos para o bebê”, pondera Prates.
Para o médico, existe a impressão de que os abortos são mais frequentes hoje em dia. No entanto, não há explicação para isto. Prates ressalta que as mulheres comentam mais sobre o aborto espontâneo, o que antes era camuflado. Antigamente, muitas mulheres nem sabiam que estavam grávidas e sofriam o aborto, que não era diagnosticado. Se a mulher pensa em engravidar, ela deve passar por uma avaliação completa antes de tentar. “A recomendação é a mulher passar por esta boa avaliação antes de tentar ficar grávida. Este preparo é muito importante”, enfatiza Tizzot.