Toda mulher grávida sabe que para garantir uma gestação saudável e o desenvolvimento adequado do bebê é preciso seguir uma rotina de consultas e exames do pré-natal. Além do acompanhamento médico, a gestante também precisa se preocupar em manter uma alimentação equilibrada e uma rotina normal. Mas para as gestantes que enfrentam a dependência química, este período pode ser um grande desafio. Além das alterações hormonais, físicas e emocionais provocadas pela gravidez, ainda há as complicações que o uso de substâncias lícitas ou ilícitas pode trazer.
De acordo com Cleuza Canan, psicóloga especialista em dependência química da Clínica e Centro de Tratamento Cleuza Canan, a gravidez de dependentes químicas é uma situação comum, já que grande parte destas mulheres engravida sem desejar, mas poucas buscam tratamentos por causa do preconceito. “O uso de drogas por mulheres está muito ligado à sexualidade. Elas geralmente começam a utilizar os entorpecentes na companhia dos namorados e, com eles, deixam de se prevenir em relação a uma gestação ou doença sexualmente transmissível”, explica a psicóloga, que também aponta o fácil acesso às drogas como um complicador. “Elas utilizam as substâncias de forma cada vez mais intensa e precoce”, lamenta.
Para Cleuza, porém, o problema não está especificamente no crack ou no álcool. Na sua avaliação, a pior droga é aquela que a pessoa consome, já que a dependência na mulher é mais complexa do que no homem, em função de suas características metabólicas, hormonais e psicológicas. “O importante é iniciar o tratamento que envolva a mulher e a família, para que todos voltem a exercer seus papéis sociais. Depois que a mulher conseguir resgatar sua função maternal e estiver reinserida na sociedade, ela deve seguir durante toda a vida em fase de manutenção e vigilância”, explica.
O ginecologista e obstetra, Vinicius Zanlorenci, credenciado do Paraná Clínicas Planos de Saúde Empresarias, orienta ainda que as dependentes químicas busquem orientações para prevenir uma gravidez indesejada e, se possível, iniciem o tratamento para a dependência antes de engravidar. “Quando estiverem com a saúde melhor, podem fazer uma consulta pré-concepcional, para avaliar suas condições físicas para uma gestação”.
Riscos pra saúde da mãe e do bebê
Quando a mãe é usuária de drogas seu corpo sofre, mas o do bebê também é atingido. O médico neuropediatra Antônio Carlos de Faria, do Hospital Pequeno Príncipe, diz que filhos de mães dependentes químicas podem ter o desenvolvimento afetado, especialmente no primeiro trimestre da gestação, quando o cérebro está em formação. “Drogas como maconha, cocaína e crack podem provocar má formação e danos irreversíveis ao sistema nervoso do bebê, prejudicando o funcionamento do cérebro”, alerta. Os bebês expostos às substâncias do cigarro podem nascer pequenos e prematuros. Já o álcool pode causar a síndrome de abstinência após o nascimento.
Além da má formação, o médico lembra que as crianças expostas às drogas na gravidez ou na amamentação podem ter atraso no desenvolvimento, problemas de atenção e de aprendizagem. “Outra situação comum é que muitas gestantes nem conseguem levar a gravidez até o final, com abortos espontâneos ou induzidos”, afirma o neuropediatra.
Também são várias as complicações para as mulheres que utilizam substâncias químicas durante a gravidez. “Ela pode ter alteraç&o,tilde;es como pressão alta, descolamento da placenta, sangramentos, risco de aborto, de parto prematuro e até risco de vida”, explica o ginecologista e obstetra Vinicius Zanlorenci.
Ele alerta que não há tolerância e nem nível seguro para o consumo de drogas na gestação. “O consumo deve ser zero na gestação e na fase de amamentação. As drogas ilícitas são ainda piores, com efeitos devastadores”, diz.