Na medicina, um problema conhecido como hérnia pode afetar vários órgãos do corpo humano. E, embora tenham o mesmo nome, dependendo do órgão ou estrutura do nosso organismo em que se manifestam, as hérnias podem provocar sintomas, oferecer consequências e necessitar de tratamentos diferenciados. Mas, de modo geral, hérnias são escapes de um órgão, que passa por uma abertura e ultrapassa a região onde deveria ficar posicionado, criando uma espécie de nódulo no local. “Hérnia é uma fraqueza em uma parede muscular ou nos tecidos que protegem os órgãos, fazendo com que a parte mais mole de um órgão seja empurrada para fora, gerando um aumento de volume”, explica o médico clínico-geral do Hospital Marcelino Champagnat Bruno Spadoni.
Entre os diversos tipos de hérnias, as mais frequentes, que se desenvolvem na região do abdômen, são a inguinal (surge na região da virilha), a epigástrica (se desenvolve na linha média do abdômen) e a umbilical (aparece em volta do umbigo). Também são comuns a de hiato, que acomete a ligação do estômago com o esôfago, e a de disco, que afeta os discos intervertebrais da coluna. Além dessas, ainda há a incisional, que resulta de cortes cirúrgicos e as cerebrais.
“A hérnia é sempre um problema que envolve o aspecto mecânico, que envolve força. É essa a característica comum aos diferentes tipos de hérnias. Nas abdominais, o esforço pode fazer com que se abra uma passagem entre os músculos, fazendo com que órgãos como o intestino saiam da cavidade abdominal. Nas de disco, o esforço em pegar muito peso ou fazer exercícios de forma errada força o disco e piora o problema. Já na de hiato, o esforço pode estar relacionado ao sobrepeso e ao aumento de volume, que pode prejudicar o fechamento da passagem entre estômago e esôfago, causando refluxo do ácido estomacal”, diz Spadoni.
Segundo o clínico-geral, isso faz com que as causas principais dessa má formação estejam relacionadas a uma combinação de fatores, hábitos de vida e, em alguns casos, à herança genética. No entanto, especialistas alertam que a constipação e o esforço para evacuar, a tosse crônica, levantar peso em excesso, estar com sobrepeso ou obeso, manter uma alimentação ruim, a gestação, entre outras características, podem ser considerados fatores de risco, que aumentam as chances de desenvolver uma hérnia.
Procedimentos cirúrgicos podem ser necessários
As hérnias podem trazer muita dor ou apresentar sintomas mais leves. Nas hérnias abdominais, por exemplo, após sair da cavidade abdominal, o intestino pode ter dificuldade para retornar à sua posição, gerando encarceramento e até o estrangulamento, que é quando as alças intestinais deixam de receber sangue, gerando uma emergência médica e a necessidade de uma cirurgia rápida para a reparação do problema, que pode levar à morte. Já uma hérnia de hiato, dependendo de seu tamanho, pode causar apenas azia, por conta do refluxo gastroesofágico.
Mas, de acordo com o cirurgião do aparelho digestivo do VITA Batel Rodrigo Fontan, a consulta com um médico, para fazer o diagnóstico correto, é fundamental. “Nas hérnias de hiato, que podem apresentar a azia e a queimação no peito, o diagnóstico é feito com a ajuda de exames como a endoscopia, que, com uma microcâmera, avalia o interior do estômago e a ligação entre ele e o esôfago. A hérnia de hiato deve ser tratada, senão, a longo prazo, pode causar até câncer de esôfago”.
Com a doença confirmada, Fontan esclarece que o tratamento pode ser feito apenas com medicamentos, adoção de hábitos alimentares mais saudáveis ou, em casos de hérnias de hiato maiores, com ,intervenção cirúrgica, feita geralmente coma técnica da vídeolaparoscopia.
Já as hérnias abdominais, como a umbilical, epigástrica e inguinal, segundo a Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal (SBH), tem seu tratamento feito por meio de cirurgias. “Em geral, somente o procedimento cirúrgico é eficaz para tratar a hérnia. Qualquer outro recurso poderá, no máximo, atenuar os sintomas. Sem o tratamento adequado, a doença tende a progredir e corre o risco de exigir cirurgia de urgência, causando até risco de morte”, orienta a SBH, em seus materiais informativos.
No caso das hérnias de disco, o diagnóstico é feito com exames físicos conduzidos pelo médico ortopedista e com a realização de ressonâncias magnéticas. Já o tratamento, que dependerá de fatores como os sintomas e a idade do paciente, pode envolver a diminuição das atividades físicas, fisioterapia, uso de medicamentos, compressas quentes ou frias e em alguns casos, também há a indicação de cirurgias.