Em 1948, o Botafogo tinha craques como Juvenal, Paraguaio e Pirillo. O técnico era Zezé Moreira. A equipe foi campeã carioca quebrando um jejum de 12 anos, derrotando o Vasco, então chamado de Expresso da Vitória, por 3 x 1. Porém, mesmo com um time forte, o alvinegro achou providencial reforçar a defesa para fazer uma excursão na Bolívia. Por isso, decidiu convidar Fedato, que, apesar de jovem, já era capitão do Coritiba e também da Seleção do Paraná. O jogador já tinha criado fama de excelente zagueiro e era cobiçado há tempos pelo jovem diretor botafoguense, João Saldanha, que chegou a fazer um pré-contrato para levar o paranaense para o Rio de Janeiro.
Fedato foi emprestado por um mês. Viajou com o Botafogo, jogou e foi considerado o melhor do time de General Severiano. Além disso, ganhou dos jornais locais o apelido de Estampilla Rubia. Fedato guarda até hoje a foto de um fotógrafo boliviano com a seguinte dedicatória: “Al mejor back que he visto em mi vida”. Nesta excursão, havia um jovem que estava na reserva e viria a ser titular do Botafogo. O nome dele era Nilton Santos, um dos maiores laterais esquerdos de todos os tempos.
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Fedato, no Coritiba: dono da zaga até o final dos anos 1950. |
São episódios como estes que pontuam a carreira de um dos mais notáveis jogadores do Paraná: Aroldo Fedato. Este senhor, hoje com seus 88 anos -vai completar 89 em outubro -, mora num apartamento que, da janela, é possível ver o estádio Couto Pereira como um cartão postal. No local, ele atuou por mais de 55 anos. Na época, chamava-se estádio Belfort Duarte. Belfort Duarte, aliás, é o título de uma honraria que Fedato recebeu por disputar mais de 80 partidas sem ser expulso, reconhecimento que se dava apenas aos jogadores disciplinados. Fedato era clássico, disciplinado e elegante.
Polaquinho bom de samba
A longa vida de Fedato começou no dia 16 de outubro de 1924, em Ponta Grossa, com o nome de Haroldo Fedatto – escolhido pelo pai, em homenagem ao ator cômico Harold Lloyd. Como sempre acontece no Brasil, os escrivães fazem bagunça na hora de grafar o nome da criança: o Haroldo virou Aroldo e o Fedatto, quando o rapaz começou a jogar bola, perdeu um dos dois “t”. Alguns meses depois de o filho nascer, o João Fedatto conseguiu emprego na Marmoraria Vardânega, no centro de Curitiba, e a família mudou-se para a Rua Sete de Abril, no Alto da XV.
Foi nas ruas do bairro que o garoto começou a jogar futebol. Entre um chute e outro, Fedato estudava e tentava ajudar os pais vendendo peras ou produzindo vinho de laranja que era consumido pela família. Uma de suas professoras no Grupo Escolar Conselheiro Zacarias, no Alto da Glória, era Alda Villanova Artigas, mãe de João Batista Villanova Artigas, um dos maiores arquitetos brasileiros de todos os tempos e o mais premiado no século 20 pela União Internacional dos Arquitetos.
Na escola, Fedato fez algum sucesso, mas não como jogador de futebol, e sim como sambista. Ele estava com onze anos e apresentou-se como sambista de morro em uma peça teatral. Foi de cara pintada de preto, por que sambista polaco não seria levado a sério. São coisas assim que Fedato recorda até os dias de hoje.
Gol e goleada
No dia 7 de agosto de 1949, Fedato marcou o seu único gol na carreira – naquele tempo, os defensores jogavam mais fixos e os atacantes normalmente não ajudavam na defesa. Foi no 1.º turno do Campeonato Paranaense. O Coritiba, no entanto, perdeu. No Belfort Duarte, o Atlético aplicou uma goleada de 5 x 1. “A situação estava tão feia para nós que resolvi ir para o ataque e da intermediária chutei. Peguei o goleiro Laio desprevenido. Foi o meu, único gol como profissional”, recorda.
Honras e glórias
Fedato encerrou a carreira em 1958, depois de 13 anos jogando pelo Coritiba. Foi o jogador que por mais tempo vestiu a jaqueta do Coxa. Está ligado para sempre ao clube do Alto da Glória, até geograficamente: ele mora a 500 metros do estádio, num apartamento de onde pode ver o Couto Pereira. Além de sete vezes campeão estadual (1946, 47, 51, 52, 54, 56 e 57) ele também foi campeão e três vezes vice-campeão universitário brasileiro. Fedato atuou por dez anos pela Seleção Paranaense.