O filho do Caju, um dos maiores ídolos do Atlético, jogava tênis. Jogou até os 15 anos e ainda pratica – hoje, aos 69 anos. A história começou quando Alberto, irmão de Caju, e que foi dirigente do Rubro-Negro, resolveu construir uma quadra para a prática da modalidade. “O tio Alberto gostava de tênis. No fundo da Baixada, ele fez uma quadra de tênis. Era uma quadra meio rústica, de asfalto, que ele conseguiu com o pessoal da prefeitura. Mas era uma quadra de tênis. Até os quinze anos, eu jogava tênis”, diz Alfredo, aposentado, tranquilo e que há dez anos não vai ao estádio ver uma partida de futebol profissional.
Futebol que entrou na vida de Alfredo não porque o pai foi um grande ídolo ou por que outros oito integrantes da família foram jogadores do Furacão. Apesar de tudo isso, ele começou a jogar bola meio por acaso. “Lá no Água Verde tinha a turma do Ipiranga, que era um time de futebol. A gente fazia umas peladas sem pretensões. O Osmar, que treinava os juvenis do Atlético, me viu e me chamou para treinar. Eu fui e acabei ficando. E o tênis ficou de lado”, diz. Outra curiosidade: Alfredo não era zagueiro. Ele foi se destacar nesta posição muitos anos depois. A princípio, jogava de -ponta-de-lança. Profissionalizou-se nesta posição, para depois ainda atuar como quarto-zagueiro e lateral direito.
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Alfredo, em 1970: recomeço da carreira aconteceu na zaga. |
Foi atuando como meio-campo que Alfredo entrou em evidência. “Em 1961, fomos convocados para a Seleção Paranaense de Juniores. Em 1962, fizemos uma bela campanha no Campeonato Brasileiro de Juniores. Empatamos com o São Paulo e perdemos a semifinal no cara e coroa. Só tinha craque disputando a competição. O Jairzinho (o Furacão da Copa) estava lá. Fui eleito o melhor júnior do futebol brasileiro e saí na capa da Revista do Esporte, que era uma revista importante da época. Aí apareceram propostas de Flamengo, Vasco e outros times”, recorda Alfredo.
Precoce, aos 17 anos ele estava profissionalizado, e pronto para ser titular. Foi aí que se revelou um jogador temperamental. Num treino, o técnico Geraldino decidiu mandá-lo para a reserva. “Eu sempre tive uma personalidade muito forte. Não gostei daquilo, pois, além de me tomar a camisa de titular, entregou-a para um jogador que sempre chegava atrasado. No primeiro lance como reserva, peguei a bola e chutei no rio Ivo. Daí disse para o Geraldino: enquanto você treinar o Atlético, eu não jogo neste time”.
Estava criado um grande problema para o Atlético, pois o Coritiba soube do que aconteceu e fez uma proposta para Alfredo. “No mesmo dia que aquilo aconteceu, à noite, um diretor do Coritiba foi lá em casa e eu acertei com ele. O pai disse: eu não aceito coxa-branca em casa. Foi difícil. A mãe entrou na história e acalmou tudo. Disse que talvez seria melhor para a minha carreira eu ir para o Coritiba, melhor que ficar parado muito tempo. Mas eu estreei profissionalmente no Coritiba”, recorda.
Depois de um ano e meio no Coxa, Alfredo sofreu uma lesão de joelho. Naquela época, machucar o joelho era grave. Por isso, quando o contrato com o Coritiba estava no fim, ele anunciou que deixaria o Alto da Glória. Isto foi em outubro de 1965. “Em 1966, comecei a treinar no Atlético e me chamaram para voltar”, diz. Na volta ao Furacão, Alfredo mudou de posição. Primeiro, foi atuar como volante. Depois, em 1969, quando o técnico já era Alfredo Ramos, começou a ser efetivado na zaga, mais uma vez por acaso. “Em um amistoso contra o Água Verde, no Orestes Thá, o Nair teve que atuar improvisado na zaga. “O Nair era bom de bola, mas era baixinho. Eu diss,e: fique no meu lugar que eu cubro você lá atrás, pois sou mais alto. No intervalo, no vestiário, o seu. Alfredo chegou com cara feia para mim, e perguntou: quem mandou você jogar de zagueiro? Eu expliquei que o Nair era mais baixo e eu era mais alto. Pensei que ia ficar bravo, mas foi aí que ele disse: gostei de sua personalidade, você vai ser zagueiro”, conta Alfredo.
Alfredo Ramos não só descobriu um zagueiraço, como o treinou. “Ele foi zagueiro e estava empenhado em me transformar num bom zagueiro. Nos treinos, foi me dando noção de cobertura, de transição, de como sentir a jogada, de saber a hora de cabecear. Na realidade, em 1969 foi que eu comecei a minha carreira de jogador de futebol”, afirma. No ano seguinte, em 1970, Alfredo foi campeão paranaense e construiu uma longa carreira no Rubro-Negro. “Fiquei até 1977 no Atlético, quando fui emprestado para o São Paulo, e depois voltei de novo para o Atlético”, recorda. Como jogador, ele também atuou no Atlas e no Vera Cruz, ambos do México, sempre honrando o sobrenome Gotardi.