No começo da Rua Fernando Amaro, no Alto da XV, em Curitiba, as árvores nas calçadas são maiores que muitos edifícios de cinco, seis, sete andares. São gigantes, cheias de galhos fortes, cobertos de outras vegetações. É justamente em frente a uma destas árvores que fica a casa em que mora Sicupira, uma das maiores lendas do futebol paranaense. Para ser mais exato, Barcímio Sicupira Júnior, 69 anos, pai de três filhos e avô de alguns netos. Descendente de alagoanos, nascido na Lapa, filho de Barcímio e pai de Barcímio.
Sicupira já seria um dos maiores jogadores do futebol paranaense se contabilizasse apenas sua carreira no clube para o qual passou a torcer depois de adulto: o Atlético. No Joaquim Américo, onde chegou com 24 anos, ele tornou-se o eterno dono da camisa 8. Atuou por oito anos pelo Furacão e marcou 158 gols – é o maior artilheiro da história do clube até hoje. Em 1975, de forma quase abrupta, encerrou a carreira de jogador de futebol, com apenas 31 anos.
Mas foi por um triz que Sicupira não vestiu a camisa do rival rubro-negro, o Coritiba. “Hoje eu sou atleticano. Nossa, minha vida é o Atlético. Mas no começo eu torcia para o Coxa, porque morava perto e ia treinar lá. Meu pai (Barcímilio Sicupira, que dedicou sua vida ao Ferrovário – um dos ancestrais do Paraná Clube) não queria que eu fosse treinar no Ferroviário, por que tinha de passar a linha do trem e era perigoso. Morria muita gente atropelada. Além disso, o Fedato era meu vizinho. Ele era um grande jogador do Coritiba, a gente conversava com ele e aquilo para uma criança era uma honra. Por isso eu ia lá no Alto da Glória. Mas como eu era franzino, não passei de categorias no Coritiba e fui para o Ferroviário. Aí então fui treinando e fui ficando mais encorpado. Entrei para o aspirante e depois fui para o time titular. Desta época, até o tempo do Botafogo, eu torcia para o Ferroviário. Aí eu vim para o Atlético, fui artilheiro do time duas vezes e criei uma história forte e bonita com o Atlético, que me marcou para sempre”, relata.
Revelado pelo Ferroviário, Sicupira estreou profissionalmente em 1962, aos 18 anos. “Eu me lembro do primeiro jogo. Foi contra o Operário, em Ponta Grossa. Fiz três gols”, recorda o hoje comentarista Barcímio Sicupira Júnior, da rádio Banda B, em Curitiba. Ele lembra mais: “Em todos os clubes em que joguei, estreei fazendo gols”, arremata. Não é para qualquer um. Além de Ferroviário e Atlético, Sicupira jogou no Botafogo de Futebol e Regatas por quase quatro anos. Foi o seu segundo time como profissional. Ele atuou numa época em que a equipe da da Estrela Solitária tinha uma verdadeira constelação em seu elenco, com Manga, Nilton Santos, Rildo, Gérson, Didi, Garrincha, Jairzinho e Zagalo. Só fera. Tudo Seleção Brasileira. E no meio desta gente, lá estava Sicupira. “Eu cheguei no dia 9 de abril de 1964, fiz testes e no dia 17 de abril assinei contrato. Na estreia, marquei o segundo gol na vitória de 2 x 1 contra o Bangu”, recorda.
Substituto de Garrincha
No meio daquele time de feras, ele entrou muitas vezes no lugar de Garrincha e, para ficar no time, acabou mudando de estilo. “Eu fui me adaptando. O que eu queria era jogar. Era centroavante no Ferroviário e no Botafogo comecei a jogar mais recuado, como terceiro homem de meio-campo, posição que me consagrou anos depois no Atlético”, diz, referindo-se à mudança que o consagrou como o “craque da camisa 8”.
Depois do Botafogo do Rio, Sicupira foi para o Botafogo de Ribeirão Preto, em 1967. A estreia foi num amistoso contra o Borússia da Alemanha. O time brasileiro ganhou de 2 x 0 e o estreante fez o segundo gol da partida. Jogou um ano no clube e ainda hoje tem em casa o troféu por marcar o primeiro gol na inauguração do estádio Santa Cruz, de Ribeirão Preto. Foi então que o jogador veio para, o Atlético, já em 1968, trazido pelo então presidente Jofre Cabral e Silva. Com 24 anos, Sicupira já era um cara experiente.
No Furacão, foi jogar com mais três feras do futebol brasileiro: Djalma Santos, Belini e Dorval. Em sua primeira partida pelo Rubro-Negro, no dia 2 de setembro de 1968, fez um gol de bicicleta contra o São Paulo, na Vila Capanema. A partida terminou empatada por 1 x 1. Porém, a história no Atlético foi interrompida em 1972, quando o Corinthians o levou emprestado para disputar o Campeonato Brasileiro daquele ano. Sicupira fez 22 jogos pelo Timão, com dez vitórias, oito empates, quatro derrotas e quatro gols marcados. Depois, voltou ao Atlético e foi fazendo gols até janeiro de 1975, quando encerrou a carreira para se tornar uma lenda do futebol paranaense.