O adversário não era qualquer um – o Atlético-MG foi naquele ano o primeiro campeão brasileiro, na mudança que colocou os campeonatos estaduais em segundo plano. O Coritiba vencia o jogo no estádio Belfort Duarte num domingo, dia 3 de outubro de 1971, com um golaço de Paquito aos 19 minutos do segundo tempo. O jogo estava terminando quando aconteceu: perto dos 45 minutos do segundo tempo, Hidalgo lançou a bola para Paquito, que fez o passe na esquerda para Tião Abatiá, que entrou na área, driblou Humberto Monteiro, driblou Vantuir, driblou Grapete, driblou o goleiro Renato, que foi tentar consertar o estrago. O goleiro levou mais um drible, protegeu o ângulo, mas ficou sem saber o que fazer.
Tião Abatiá ficou sem ângulo para fazer o gol e cruzou com açúcar na cabeça de Leocádio, que desviou em direção do gol vazio, mas a bola foi para fora. Quando isto aconteceu a torcida coxa já estava de pé no estádio e apesar de o gol não ter saído aplaudiu e aquilo não parava mais. Depois do jogo, o atacante Dario, o Dadá Maravilha, resumiu sua admiração: “Olha, isso que o Tião Abatiá fez no fim do encontro não existe no futebol. Foi uma coisa notável”. A jogada foi de uma perfeição plástica tão grande que as emissoras de televisão do Paraná a usaram na abertura de seus programas esportivos por muito tempo. E a Tribuna deu de manchete: “Foi o lance mais lindo do nosso futebol”.
Tião estava no Coritiba há pouco mais de um mês – ele chegou com Paquito numa quarta-feira, dia 11 de agosto e no domingo seguinte, dia 15 já foi para o jogo contra a Portuguesa – e já tinha conquistado o coração da torcida. No entanto, depois desta jogada no final da partida contra o Galo ele conquistou mais que o coração da torcida: conquistou um lugar eterno na galeria dos grandes craques do clube. A cena, ao correr o país, mostrou que o Paraná não estava para brincadeira. E que o alviverde tinha bala na agulha.
“O jogo acabou e a torcida ficou aplaudindo. A minha ficha foi cair no vestiário. Foi lá que eu percebi que eu fiz uma coisa bonita. Eu olhei para o Leocádio e ele estava chorando. Chorando porque não fez o gol”, conta Tião Abatiá. Leocádio chorou por quinze minutos e foi consolado pelo centroavante com a seguinte frase: “Você errou porque é um craque”. Mas a jogada ficaria gravada para sempre na vida de Sebastião Ferri, o Tião Abatiá. “Eu acho que este foi o meu melhor momento no futebol, o mais marcante”, recorda numa conversa no hall do Hotel Curitiba Palace, a poucos metros da Boca Maldita.
“E é curioso porque o gol do Paquito foi um golaço, mas a cena da minha jogada, ainda que não tenha resultado em gol, realmente mexeu com a torcida”, diz ele. Depois daquele jogo o centroavante passou a ser chamado de “Super Abatiá”. Não por conta apenas desta jogada, mas o jogador que veio do União Bandeirante com seu parceiro Paquito, chegou detonando. Na primeira partida da dupla o Coxa venceu a Portuguesa por 2×1 – gols de Tião Abatiá e Paquito. Tião fez um gol histórico. O primeiro do Coxa na história dos campeonatos brasileiros. Isto é coisa que fica para sempre.
Bola de Prata 1971
Andrada (Vasco), H. Monteiro (Atlético-MG), Pescuma (Coritiba), Vantuir (Atlético-MG), Carlindo (Ceará), Vanderlei (Atlético-MG), D. Lopes (Cruzeiro), Rivelino (Corinthians), A. Carlos (América-RJ), Abatiá e Edu (Santos).