No dia da estreia do Brasil no Campeonato Sul-Americano o Diário da Tarde traduzia a expectativa do torcedor paranaense com o Selecionado Brasileiro e principalmente com a atuação do goleiro Caju: “O arco será entregue à responsabilidade de Caju. A este ponto abstemos de fazer qualquer comentário, pois – mais que ninguém – nós, paranaenses, sabemos do quanto é capaz a Majestade do Arco. Ele saberá defender com toda a sua perícia, classe, experiência e arrojo, a cidadela brasileira, dando o seu último esforço para evitar a queda”. Na primeira página do jornal, duas fotos: a primeira de Caju fazendo uma defesa e a segunda de Servílio.
A estreia do Brasil foi tranquila, como previra a crônica esportiva da capital: “Num ligeiro retrospecto a equipe que hoje fará a sua estreia no estádio Centenário representando o futebol brasileiro é de uma grande eficiência material”. Não deu outra. Passou como um trator sobre o Chile: 6×1. Sobre a atuação de Caju, embora ele não tivesse sido muito requisitado: “O grande arqueiro rubro-negro teve oportunidade de praticar ótimas defesas”. E eles sabiam disso porque acompanharam a porfia de ouvidos grudados nos grandes aparelhos de rádio, porque a partida, realizada no dia 14 de janeiro de 1942, foi transmitida para todo o Brasil pela Rádio Mayrink Veiga, do Rio de Janeiro.
Todo mundo sabia que o problema do Brasil era a Argentina. Se passasse pelos portenhos, a Seleção tinha chance – embora tivesse de enfrentar os fortes uruguaios que torciam em massa para o Brasil despachar os argentinos e facilitar o trabalho deles. O jogo seria às 22 horas de 17 de janeiro de 1942. O Brasil fez bela partida, dizem testemunhas que acompanharam o jogo. Mas perdeu por 2 a 1. “O placar, apesar de favorável à equipe portenha, não condiz de modo algum com o desenrolar da partida. A equipe brasileira mereceu o triunfo, pois durante todos os 90 minutos de luta, esteve superior à Argentina, atacando com mais sobriedade”, disse o cronista esportivo do jornal da capital.
O Brasil já não dependia mais de si para ser campeão. Mas no dia 24, quase ninguém falou de seleção brasileira, quase ninguém falou de Uruguai e tampouco de Sul-Americano. O assunto era outro. Os jornais traziam com destaque: “O Brasil rompeu com o Eixo”. O país se posicionava na guerra ao lado dos aliados, principalmente porque as notícias que vinham da Rússia e do Norte da África apontavam para um cacete sem tamanho nos alemães: “Hitler cometeu os mesmos erros de Napoleão”, destacavam os jornais, referindo-se à invasão da Rússia pelos nazistas. E foi assim que o Brasil foi a campo naquela noite no Centenário e perdeu por 1×0. “O Brasil perdeu devido à linha atacante que nada realizou de positivo”, avaliou o Diário da Tarde em sua edição do dia 26, não escondendo a decepção com os homens de frente.
O destino da Seleção na competição estava selado. E pelo jeito que as coisas andavam na Europa, o dos alemães também. Era apenas questão de tempo. Não teve Copa. Mas teve futebol no Uruguai. Foi o possível naquele 1942. E no gol Caju fez o possível e muitas vezes o impossível.
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Ele veio do Savoia
Caju começou a jogar no Savoia, que depois virou Água Verde e mais adiante, Pinheiros. Mas, muito jovem, transferiu-se para o Atlético.
Homenagens
Quando Caju chegou do Uruguai no dia 13 de fevereiro em Curitiba, tinha garantido a sua condição de ídolo que só iria reforçar nos anos seguintes, defendendo o Clube Atlético Paranaense. A firma Prima Lattes se prontificou a dar uma taça valiosa para o goleiro. Outros clubes como o Britânia, se juntaram à homenagem – que seria um jantar ou uma c,hurrascada – que o rubro-negro ia oferecer a seu jogador. Os jornais o saldaram na primeira página. O Diário da Tarde publicou: “Salve, Caju. Regressou ontem à sua terra natal, Caju, isto depois de lutar em prélios internacionais erguendo bem alto o nome esportivo da nossa pátria comum e especialmente da terra nativa, o Paraná, que tem alegria de vê-lo nascido em seu solo querido”.
Joanino
No jogo em que o Brasil ganhou por 5 a 1 do Equador, o lateral-esquerdo Joanino saiu do banco e entrou no lugar de Claudio Pinho, como titular. O jogo foi realizado no dia 31 de janeiro no Estádio Centenário e a fatura para o lado do Brasil já estava selada com as derrotas de 2 a 1 para a Argentina e de 1 a 0 para o Uruguai. Só faltava um compromisso para a Seleção Nacional se despedir do Sul-Americano de 1942. Seria no dia 5 de fevereiro contra o Paraguai: o jogo terminou empatado
em 1 gol.
Ídolo Rubro-negro
Caju defendeu o Atlético Paranaense de 1933 a 1950, em 620 jogos. Pela Seleção Brasileira foi convocado em duas oportunidades (1942 e 1945) e fez cinco jogos. Foi campeão pelo Atlético em 1934, 1936, 1940, 1943, 1945 e 1949, no ano em que o rubro-negro ganhou ou apelido de Furacão. Caju recebeu proposta de Vasco, Botafogo, Flamengo e Peñarol, mas não queria deixar o Atlético – e também não gostava que os amigos bons de bola fossem embora do Paraná. Encerrou sua carreira num jogo contra o Botafogo do Rio de Janeiro que terminou sem gols. Ele morreu aos 86 anos, em Curitiba, no dia 24 de abril de 2001, e foi enterrado no Cemitério da Água Verde. Seu apelido e nome são a denominação de um dos mais modernos centros de treinamento da América do Sul: o Centro de Treinamento Alfredo Gottardi, ou simplesmente CT do Caju.