O pequeno Levi era tão maluco por futebol que ele pegava revistas emprestadas, porque não tinha dinheiro para comprar todas elas, e copiava num caderno reportagens e assuntos que considerava interessantes. Numa página ao lado do caderno tem uma mulher bonita, na outra a página a longa reportagem copiada com boa caligrafia. Trabalho de copista. “Foi assim que eu comecei a colecionar as coisas relativas ao futebol. Primeiro eu copiava. Depois, eu pegava os jornais recortava as notícias, colava numa folha e guardava. Depois, eu fui tirando fotos e também guardando. Agora, tudo isto está aí. Guardei jornais, guardei revistas, guardei súmulas”, conta Levi Mulford mostrando o seu arquivo no pavimento inferior de sua residência no bairro onde mora, e onde agasalhou toda a coleção feita dos tempos de criança no final dos anos 30 até os dias de hoje.
Antes que alguém se assanhe, não se trata de algo valioso para quem não gosta de garimpar a história do futebol. Não seria um arquivo minucioso, mas uma coleção feita de forma aleatória, movida pela paixão, ao longo do tempo. “Aqui tem pastas do Coritiba, do Atlético, do Ferroviário e dos times que fazem parte da história do Paraná Clube. Tem pastas do Britânia, do Palestra, do Primavera e de muitos clubes amadores da cidade, que disputaram a suburbana”, diz ele. Um estudioso pode se entediar com alguma coisa que encontrar, mas também se entusiasmar com muitas outras que provavelmente não estarão em nenhum outro lugar que não sejam naquelas pastas. “Eu tenho, por exemplo, um bom número encadernado do Paraná Esportivo”, diz Mulford, sobre o jornal esportivo dos anos 40 e 50 em Curitiba, para o qual trabalhou.
“Eu fui ao litoral e consegui estes jornais e depois encadernei. Eu quase consegui a coleção do Paraná Esportivo dos anos 40. Se tivesse conseguido seria maravilhoso, pois a teria quase completa”, diz ele. Como as pessoas atualmente valorizam mais o digital que o papel, a coleção de Levi Mulford vai com os anos ganhando importância por ser uma das poucas referências de ‘velhos papéis’ sobre o passado de nosso futebol. Com informações muitas das quais que não se encontram em lugar nenhum, muito menos na internet. A grande dúvida de Mulford é o que será feito com o arquivo nos próximos anos. “Eu gostaria que meus filhos, que torcem para o Coritiba, ficassem com ele”, diz num tom de preocupação, quase cômica. “Mas quem se interessou por meu arquivo foi o Heriberto Ivan Machado que é atleticano”, diz com mistura de angustia e alívio.
Afinal, os dois, Levi Mulford e Heriberto já fizeram parceria de êxito que, se não é um tratado profundo sobre o futebol paranaense desde os primórdios, pelo menos é um mapa seguro para estabelecer o DNA do esporte bretão em nosso estado. Este trabalho é um calhamaço com mais de 900 páginas com o título de “Futebol do Paraná – 100 anos de história”. Um almanaque seguro do futebol paranaense com todos os seus momentos importantes, todos os campeões anuais, os momentos mais tensos e emocionantes de cada temporada, enfim, uma pequena enciclopédia que inclui os primeiros campeonatos, primeiros campeões, todas as partidas, fusões, com direito a resultados e participações dos clubes do estado em competições nacionais. E para quem gosta de iconografia, evolução dos escudos dos clubes, desde os primórdios até os mais recentes.