O inferno chegou com o quarto gol do Colorado, marcado por Tyrso aos 28 minutos do segundo tempo, numa partida importante no estádio Joaquim Américo, no dia 5 de novembro de 1978. Parecia uma tarde para ser esquecida para sempre, mas ela se tornou na realidade uma tarde histórica para o Atlético. O jogo era acompanhado por 8.276 torcedores dos dois times. A maior parte da torcida atleticana tinha deixado o estádio revoltada com a goleada humilhante, quando Ziquita marcou o primeiro gol aos 30 minutos, e não parou. Ele marcou o segundo aos 34, marcou o terceiro aos 36 e ainda fez o quarto aos 43 minutos. A torcida atleticana já havia ido embora, mas voltou correndo a tempo de ver Ziquita meter a bola na trave aos 44 minutos. Aquilo era ir do inferno ao paraíso em 14 minutos.
O 4 x 4 transformou o cenário para a segunda partida entre Colorado e Atlético, naquela semifinal do Campeonato Paranaense, no dia 19 de novembro. Ziquita não brilhou, mas Rotta marcou de cabeça o gol que colocou o Atlético na final, para encarar um Coritiba que vinha abalado após passar pela repescagem. “Aquele foi o gol mais importante da minha carreira, assim como aquelas duas partidas contra o Colorado estão entre as mais importantes das quais participei”, diz Rotta, lembrando que o Atlético foi para a decisão como o grande favorito. Nunca foi tão grande a certeza de que o Rubro-Negro, que estava sem ganhar um título desde 1970, seria campeão. “Nosso time estava muito confiante. Nem treinamos muito a cobrança de pênalti, por que nossa confiança era grande demais”, recorda.
O campeão sairia de uma melhor de três pontos em duas partidas ou o vencedor de uma terceira, se houvesse empate nas anteriores. E foi o que aconteceu. A primeira partida terminou empatada por 0 x 0; a segunda também e a terceira idem. Na prorrogação, novo empate por 0 x 0. “As três partidas mexeram com a torcida. Cada uma delas era acompanhada por mais de 50 mil pessoas. No primeiro jogo fomos confiantes, mas nos outros dois houve mais cautela”, relembra Rotta, contando por que o Furacão perdeu aquele título. “Acho que perdemos aquele título no banco. Tínhamos o Aladim, que era um craque e poderia ajudar o time. Mas o técnico Diede Lameiro não escalava o Aladim. Eles tiveram um desentendimento quando trabalharam juntos no Coritiba. Aladim podia ajudar nas três partidas e principalmente na cobrança de pênalti. Ele fez falta. Foi um reserva de luxo. Se ele entrasse a história poderia ter sido outra”, avalia.
Apesar do resultado frustrante, Rotta continuou é lembrado pelos torcedores do Atlético como um dos nomes mais importantes do clube naqueles anos de vacas magras. Por um simples motivo: ele nunca deixou de lutar em campo para conquistar o objetivo de ser campeão. Característica que vem dos tempos de exército, que foi onde ele despontou para o futebol. Nascido em Concórdia-SC, no dia 15 de outubro de 1958, o primeiro olheiro que botou fé em seu futebol foi o coronel Ricardo Gianordolli, comandante do 5.º Batalhão de Engenharia de Combate (hoje Blindado), em Porto União, na fronteira do Paraná com Santa Catarina. Em 1971, o coronel resolveu fundar um time em União da Vitória: a Associação Atlética Iguaçu. Gianordolli levou o recruta para o novo clube, onde ficou até 1975, quando Rotta seria transferido para o Londrina. “Eu fui para Londrina e o presidente do clube, o Jacy Scaff, disse que eu tinha que fazer teste para ser contratado. Achei aquilo um desrespeito. Eu já estava jogando fazia cinco anos e ele queria que eu fizesse teste? Eu não gostei”, diz. Aí o presidente do Iguaçu à época, Kinko Fernandes, ligou para o presidente do Atlético, Aníbal Khury, que também estava interessado no jogador. Foi assim que Rotta foi para o Rubro-Negro, onde ficou até 1980. “Eu tive bons momentos no Atlético, mas a melhor temporada foi aquela de 1978. Só faltou ser coroada com o título”, diz. No Atlético, Rotta também jogou com aquele que considera um dos me,lhores jogadores com os quais atuou: Didi, que veio do Grêmio de Maringá. “Ele era perfeito. Um grande jogador. Muito bom”, afirma.
Despedida
Em 1980, Rotta deixou o Atlético e foi para o América de Ribeirão Preto, onde acabou reencontrando outros meio-campistas que tinham passado pelo Atlético, como Gerson Andreotti e Serginho Índio. Depois de três anos no América, Rotta foi para o seu quarto e último clube como jogador profissional, o Santo André, onde se transformou em ídolo da torcida. Isto aconteceu em 1983. “Fiquei sete anos como jogador no Santo André. Depois que encerrei a carreira, comecei como técnico nos juniores do clube”, diz.
Rotta é considerado um dos maiores ídolos do Ramalhão, tanto como jogador quanto como treinador. Seu auge foi noCampeonato Brasileiro de 1984. Em 1985, foi emprestado para o Goiás e disputou o Campeonato Brasileiro de 1986. Daí, voltou para o Santo André, onde ficou até o fim de 1987, quando encerrou a carreira.
“Vi o nascimento de três craques”
Como técnico, Rotta disse que viu nascer alguns craques. “Quando estava treinando o Rio Branco, eu puxei o Romarinho para o futebol profissional. Isto foi em 2009. Aí ele foi para o Bragantino, onde se destacou antes de ir para o Corinthians”, diz. Outros três jogadores que ele viu despontar para o futebol profissional foram Alex, Lúcio Flávio e Ricardinho, no tempo em que era preparador físico na AABB, em Curitiba. “O Alex jogava futebol de campo no Coritiba, mas jogava futebol de salão na AABB, onde eu cuidava da escolinha de futebol e era preparador físico do time de futebol de salão. Dei muito vale transporte para ele voltar para casa”, relembra. Caso semelhante ocorreu com Lúcio Flávio, que também era do time de futebol de salão da AABB. “Quanto a Ricardinho, ele era do time do Paraná Clube. Mas a gente via jogar nas partidas de futebol de salão e percebia quando algum garoto é diferenciado. Não tem segredo. Quando alguém se destaca, você sabe que ele é craque. A gente via que eles tinham uma qualidade acima da média e que poderiam ter uma boa carreira no futebol. Aqueles três garotos se tornaram três craques”, completa.
Bicampeão mundial
A amizade com Luís Pereira nos tempos em que ambos jogaram no Santo André levou Rotta para o futebol master em 1989. “Eu fiquei na seleção master de 1989 a 1997. Dois anos como jogador e o restante fazendo preparação física, que se resumia a aquecimentos antes dos jogos e todo o trabalho de pré-temporada, quando tinha Copa do Mundo”, recorda. Aliás, foi na seleção master que ele começou a sentir o gosto de ser campeão, um gosto que se prolongou em sua carreira de técnico. O primeiro título de campeão mundial veio em São Paulo, em 1989, e o segundo em 1991, em Miami, nos Estados Unidos. Na terceira disputa em Trieste, na Itália, em 1993, a seleção master ficou em terceiro lugar.