Lendas vivas

Roderly brilhou no Grêmio Maringá, mas também aprontou todas

No dia 10 de fevereiro de 1966, a Tribuna publicou com destaque: “Grêmio dá última chance a Roderley”. O jogador era bom, a torcida o idolatrava, mas ele não era fácil fora de campo. O técnico Nestor Alves da Silva, disciplinador, não conseguia segurar o indomável zagueiro. Num amistoso contra o Palmeiras no dia 16 de janeiro daquele ano, no estádio Willie Davids, Roderley se estranhou com Procópio Cardoso e os dois foram expulsos. Alguns dias antes do amistoso contra a União Soviética, ele bebeu num bar da Rodoviária e ainda assim quis enfiar a mão na cara do goleiro Viraci, que também era outro que jogava bola redonda, mas chegava miado para treinar no dia seguinte. O curioso era que os dois eram amigos.

“O Viraci foi o maior goleiro que eu vi jogar”, disse Roderley. “Ele realmente bebia, fumava, mas quando entrava em campo ele tirava energia não sei de onde e pegava tudo”, avalia. No entanto, os dois foram para o braço, o técnico alvinegro soube, a diretoria soube e suspenderam Roderley e colocaram seu passe à venda.

Mas a torcida o queria em Maringá, o jogador queria ficar e para resolver a situação ele procurou o coronel Haroldo Cordeiro, chefe de Polícia em Maringá, a maior autoridade local depois do prefeito. Cordeiro falou com a diretoria, com o técnico e eles reconsideraram a decisão. “O que me levou a tomar essa decisão foi a vinda de Roderley a meu gabinete. O rapaz é bom profissional, é jovem e tem possibilidades de melhorar seu comportamento com conselhos e não com réplicas. Ele será de grande utilidade para o Grêmio Esportivo Maringá”, disse o chefe de polícia da cidade.

O técnico Nestor Alves da Silva, diante da intervenção da autoridade policial no setor disciplinar do clube, aceitou a decisão. “Desde que o coronel Haroldo Cordeiro procurou a diretoria do clube, eu acato tal decisão e o recebo em meu plantel, pois acredito nesse jovem profissional, que poderá ser muito útil à equipe”, disse. Mas como o jogador era bocudo, Nestor Alves aproveitou parar mandar um recado: “Ele deve compreender, no entanto, que dentro do gramado é eu quem mando e tem que haver disciplina, todos tem que se esforçar”, afirmou o técnico.

Na realidade, Nestor era durão e disciplinador e Roderley era bocudo e indomável. Dois tipos que certamente em qualquer equipe bateriam um de frente com outro. Tanto que os dois profissionais encontrariam pela frente problemas semelhantes com outros profissionais. Nestor Alves da Silva teve pela frente o genial Zé Roberto em 1968, que na véspera de um jogo importante contra o Britânia que poderia definir o título para o Atlético, sumiu da concentração e foi para as boates.

Quando o encontrou, o técnico encheu o jogador de pancadas, que o jogador não sentia porque estava bêbado. Os diretores daquele tempo atribuem a esta fuga a perda do título da temporada para o Coritiba.

Quanto a Roderley, acabou batendo de frente com o técnico Francisco Sarno, quando jogava no Coritiba. Sarno ficava louco com a mania do jogador de fazer jogadas de efeito na defesa, como enfiar a bola entre as pernas dos atacantes, de fazer passes com o calcanhar. Roderley argumentava que ele sabia o que fazia. Até que um dia um atacante fechar as pernas, pegar a bola e fazer o gol. Roderley é quem conta: “Eu meti oito nas canetas do cara. Na nona deu ladrão. E ele fez o gol”. Sarno ficou uma fera e tirou Roderley na hora. Ainda hoje, com 70 anos, Roderley reclama de seu treinador nos tempos de Alto da Glória, pela jogada que lhe custou a posição de titular no time do Coxa.

“Ele me tirou de campo aquele sacana. Mas o Kosilek foi lá, fez o gol, empatou e foi no banco me dedicar o gol na cara do Sarno. O gol foi do Roderley e ele não deve mais nada para ninguém. Foi uma das coisas mais bonitas que eu vi no futebol. Isto eu nunca esqueço. Mas também eu nunca mais joguei no Coritiba”, diz Roderley, que continua o mesmo indomável de sempre. Ganhou barriga avantajada, cabelos brancos e já não corre mais atrás da bola. Mas a rebeldia, a mania de falar agitado, como estivesse dando ordens, esta ele não perde. Uma postura altiva, como estivesse explodindo numa discussão, que lhe garantiu atritos em campo e fora dele.