A vitória de 4×1 do Londrina sobre o Atlético foi histórica e pior – numa perspectiva maringaense -, psicologicamente revigorante, colocou molho mexicano na empada do Maringá Futebol Clube e da decisão do título paranaense de 2014. Eu não diria que a decisão seria num Clássico do Café, porque respeitando o Grêmio de Maringá, que lamentavelmente nos últimos anos não respeita a sua história e está na segunda divisão, este tradicional clássico envolve o Galo do Norte e o Tubarão – que antes se chamava Caçula Gigante. O time maringaense que vai disputar o título deste ano é a Zebra. Com Z maiúsculo e com z minúsculo. O que também é histórico.

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Dito isso, não é Clássico do Café, mas vai ser quente do mesmo jeito. A coisa vai ficar pelando, como se diz no Norte do Paraná sobre aquele café que solta fumaça da xícara e queima a boca do incauto. O clássico na realidade é apenas a toalha bonita sobre a mesa em que se coloca a questão – a rivalidade entre as duas cidades. Esta aí não tem jeito, é com esta que a Zebra vai galopar. Ela existe em todos os setores, mas no futebol começou quando o Grêmio nasceu – no ano em que o Londrina foi campeão pela primeira vez (1962). O Galo do Norte veio forte no ano seguinte e tomou a dianteira, faturando dois títulos estaduais seguidos. Depois, nos anos 60, foi duas vezes vice e abiscoitou até um titulo nacional hoje reconhecido pela CBF. O Grêmio ainda faturaria o terceiro título em 1977. O Londrina respondeu com boas campanhas nas décadas seguintes.

Maringá acumula três títulos estaduais, todos conquistados pelo Grêmio. E Londrina acumula também três, todos conquistados pelo Tubarão. Os dois times foram campeões em cima do Coritiba – o Londrina em seu primeiro (1962) e o Grêmio em seu último (1977). Os dois times foram campeões contra times que não eram da capital – o Grêmio em cima do Seleto de Paranaguá (1964) e o Londrina em cima do próprio Grêmio (1981) e do União Bandeirante (1992). Com o Galo-Adap, Maringá tem mais um vice em 2002. O Londrina foi vice quatro vezes: 1959, 1980, 1993 e 1994. Já tem vice demais na coleção. Vale lembrar que o Grêmio conquistou seu último título vindo de uma repescagem.

Tudo isto coloca ainda mais pimenta mexicana na empada da decisão. Assim como antes do jogo da virada contra o Atlético, o Londrina perdia por 3×1, também Londrina perdia para Maringá perdia em número de títulos até ganhar o segundo em 1981. Empatou a parada em cima do União e pode virar agora em número de títulos em cima do Maringá – conquistando o seu quarto. Que será o mesmo número de títulos de Maringá se o seu time for campeão. Se para o Tubarão tudo isto tem sabor especial, para o Maringá Futebol Clube, que não tem a história do Grêmio para contar vantagem, a coisa é ainda mais dramática. Afinal, o time no ano passado estava na segunda divisão e já pode conquistar o primeiro título estadual. E isto não é coisa que acontece todos os dias. Principalmente no interior. Como diria Elvis Presley: it’s now or never. E Elvis gostava das cores preta e branca, da camisa do Maringá.

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Por tudo isto, meus amigos, eu acho que a jiripoca vai piar. Vai voar mais faísca do que um Atletiba na final – por várias razões. Os dois times da capital estão empanturrados de ganhar este campeonato, já disputaram algumas finais, todo mundo ganhou e todo mundo perdeu e daqui a dois meses eles nem se lembrariam de quem venceu. Afinal, os dois estão na Série A, o Atlético disputa a Libertadores, tem agenda para o ano todo, incluindo dias úteis, inúteis e feriados. Mas para Londrina e Maringá é coisa de vida ou morte. Daqui a cem anos ainda vai ter gente falando desta decisão. Quem viver verá.

(Edilson Pereira é jornalista, morou 33 anos em Maringá e dez anos em Londrina. E vai passar 15 dias no Afeganistão só para não ver a jiripoca piar.)

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