Caxias começou jogando bola no Caxias-RS. “Eu trabalhava no almoxarifado de uma loja de calçados, chamada KKK. Dois jogadores do Internacional, emprestados para o Caxias, foram comprar na loja e eu convidei para assistir nosso jogo no sábado, depois teria um jantar. Eles foram, me viram jogar e me chamaram para treinar no Caxias”, diz. Isto em 1974, quando tinha 14 anos.
Na época, o Caxias tinha um zagueiro raçudo – entre as qualidades dele não estavam o refinamento e a elegância. Era um mestre em mandar a bola para o mato, quando o jogo era de campeonato. Seu nome: Felipe Scolari, o Felipão. Aquele estilo de arrepiar a bola ensinou alguma coisa para o jovem Alceu Mentta, que por ser loiro ganhou o apelido de Gringo.
Gringo treinou no Caxias com os profissionais de outubro de 1974 a maio de 1975. O Caxias gostou do “estilo Felipão” do rapaz e propôs contrato de gaveta. Sabia que o moço podia dar samba com a chuteira no pé e a bola no mato. “Eu estava com 16 anos”, lembra. Antes de assinar contrato, ele propôs: “Quero treinar no Internacional para ver no que vai dar. Se não der certo, volto e assino com o Caxias”, recorda. Mas o pessoal do Caxias queria que ele fosse para o Grêmio. No bate-boca, Gringo foi treinar no Inter.
Ele chegou a Porto Alegre e foi direto para o estádio dos Eucaliptos, onde treinavam e dormiam os garotos do time juvenil. Agradou e disse que queria ser chamado de Gringo. Primeiro susto: ali ele não podia ser Gringo, por que com a camisa do Inter só havia um Gringo. Era Figueroa. “Imagine se eles iam me deixar chegar e pegar o nome do Figueroa?”. Mandaram o novato arrumar outro nome. De cara disseram que Alceu não era legal, que não era nome de jogador. “Como eu vim do Caxias, meu nome ficou Caxias até hoje. Para os amigos, Caixa”, afirma.
No primeiro treino no Internacional, Gringo – que virou Caxias – lembrou que chegou em Porto Alegre sem chuteiras. O roupeiro deu um jeito. Procurou pelos cantos, achou e deu um par a ele. Mas não deve ter reparado muito bem. Quando o novato calçou, sentiu algo estranho. As chuteiras estavam cheia de pregos. Caxias pensou: “Eles estão de sacanagem comigo. Estão querendo me testar”. Achou que aquilo era truque, provocação para ele desistir. Mexeram com o cara errado.
Então, para provar que ele era duro na queda, Caxias botou as chuteiras com pregos e foi para campo. Ele provou que era duro na queda. “Treinei que nem um leão, fazendo de conta que não tinha pregos na chuteira”, diz. Naquele treino, literalmente ele deu o sangue. O pessoal do Inter percebeu que o garoto tinha algum futuro. Quando o treino terminou, ele foi para o vestiário, tirou a chuteira e quase desmaiou. “A chuteira pregou na sola dos meus pés. Quando aquilo desgrudou, doeu até o fundo da alma. Olhei e meus pés estavam em carne viva. O roupeiro arregalou os olhos e disse: o que é isso, meu Deus? Minhas meias brancas estavam vermelhas. Quando o técnico entrou, e viu, deu esporro em todo mundo”, relembra.
O roupeiro disse que ele devia ter pedido outra chuteira. Caxias disse que pensou que o roupeiro estava de sacanagem. Resumo: depois do primeiro treino, Caxias ficou dez dias sem pisar no chão e, naturalmente, sem treinar. De qualquer forma, estava aprovado. Certamente o técnico pensou: se o garoto joga bem com chuteiras de pregos, com chuteiras sem pregos a tendência é ir melhor. “Eu fui aprovado e o Internacional me contratou pagando o Caxias com cinquenta garrafas de água mineral”.