Quando fez 22 anos, Gralak ganhou um grande presente

No dia 18 de agosto de 1991, o zagueiro Nenê, do Paraná Clube, ficou fora da partida contra o Londrina, na Vila Capanema, pelo Campeonato Paranaense. Nenê foi expulso e cumpria suspensão automática. Era domingo. O reserva Paulo Sérgio Gralak foi para o jogo, fez boa partida, o tricolor venceu o Londrina por 2 a 1. No jogo seguinte, Nenê voltou, atuou mais duas vezes, se machucou e Gralak voltou ao time titular. E foi assim que ele se firmou como o grande beque no Paraná Clube na primeira metade dos anos 90, quando o tricolor voava baixo e papava tudo. “Depois nunca mais sai. Eu fui zagueiro titular do Paraná Clube por muito tempo, até ser vendido para o Corinthians no final de 1993”, diz Gralak. Ele nunca se esquece daquele dia 18 de agosto, porque era dia de seu aniversário. “Eu estava fazendo 22 anos”, diz ele. Aquela partida foi uma espécie de presente de aniversário, um divisor de águas na carreira, que começou num time amador de Irati, o Metalúrgica Thoms e Benato, campeão amador da cidade em 1987. No final do ano o diretor do time amador de Irati convidou o Pinheiros para o jogo de entrega das faixas e o diretor Jorge Celestino Buso, do time da capital, gostou do zagueiro que segurou o centroavante Silvio, que estreava.

“Eu tinha 18 anos, ele quis me levar e eu vim para Curitiba. Mas eu não joguei. Começou a discussão para a fusão com o Colorado e eu acabei mesmo foi jogando pelo Vila Fanny, no final de 1989”, diz Gralak. E acabou sendo bom, porque ele se destacou no Vila Fanny, mas estava vinculado ao Pinheiros. “Com a fusão dos dois times, havia 89 jogadores. A maioria não seria aproveitada”, diz Gralak. “O Paraná trouxe o Rubens Minelli, o Valdir de Moraes e o Carlinhos Neves para a comissão técnica, que ficou encarregada de montar o novo time. Os três ficavam na arquibancada enquanto a gente fazia três coletivos por dia. Eles iam avaliando, escolhendo uns e dispensando outros”, diz o zagueiro. E Gralak foi ficando.

“O pessoal que não era aproveitado ia sendo emprestado para o Caramuru de Castro, Ibaiti, alguns eram dispensados, eu mesmo quase fui parar no Flamengo de Varginha, na terra dos discos voadores”, diz ele. Enquanto dispensava a maior parte do elenco, Minelli ia formando a nova equipe. “Vieram Adoilson, João Antonio, Vagner Bacharel e outros. E quando fui perceber, estava no grupo do Paraná Clube”, diz ele. Como era reserva, jogava pouco. “Aí saiu o Minelli e veio o Otácílio Gonçalves. E eu continuei no banco, entrando num jogo e saindo no outro”, diz ele. O primeiro jogo como profissional foi contra o União Bandeirante, em 1990, porque o Paraná foi com um time misto. E foi assim até que naquele agosto de 1991, quando ele finalmente ele virou titular. E a partir daí a carreira deslanchou. Pelo Paraná Clube, Gralak conquistou dois títulos estaduais, os de 1991 e 1992, além do título da Série B.

Aquilo foi uma guerra

Arquivo

‘Aquela decisão da Série B contra o Vitória, em Salvador, foi a maior partida da minha vida. Aquilo não foi uma partida. Aquilo foi uma guerra’.

Jogava em todas

‘Quando eu era pequeno em Irati, eu jogava todo tipo de esporte. Joguei basquete, vôlei, handebol, futebol de salão, futebol de campo, participava dos jogos internos, os jogos escolares, os Jogos Abertos do Paraná. Joguei até dominó.”

Açougueiros

Quando um beque é muito violento, ele ganha a fama de açougueiro – porque, na gíria do futebol, o cara bate até tirar bife, pedaços de carne. Mas no caso de Gralak, ele vem de uma família de açougueiros. O avô era açougueiro em Rebouças e ensinou os macetes do ofício aos dois filhos – pai e tio de Gralak. Que para não concorrer,em com o velho, foram para Irati, aonde Gralak chegou com três anos. ‘Eu tinha um vizinho, o Angelim Alves Pires, que era treinador do time júnior do Irati Sport Clube. Ele me via jogar num terreno ao lado da casa dele e me chamou para treinar no time dele’, conta Gralak. Foi assim que ele começou. Do Irati ele foi para o futebol amador e de lá para o Pinheiros.

Implacável

Quando Gralak chegou à França, o Bordeaux botou um professor de francês em tempo integral para o brasileiro aprender o idioma local o mais rápido possível. ‘O cara era meio doido. Era um marcador implacável. Ele não deixava a gente em paz. Era de manhã, de tarde, de noite, falando francês. Ele não dava sossego. Era um sujeito que falava uns vinte idiomas. Chegou uma hora que minha maior preocupação era fugir do cara, que eu não aguentava mais. Aí quando a minha mulher chegou ela me ajudava a fugir dele. Este cara ficou um mês no meu pé. Mas acabou sendo bom, porque o básico eu aprendi. Depois veio outro professor, um haitiano bacana, cuja tese na faculdade foi sobre Jorge Amado. Eu tinha aula com ele duas vezes por semana, até que aprendi a falar o francês. Mas o primeiro professor me deixou com uma base muito boa”, reconhece Gralak.

Quase

Gralak esteve perto de defender o Palmeiras e o Grêmio de Porto Alegre. Ele disse que o técnico Vanderlei Luxemburgo o queria no Parque Antártica. E o presidente do Grêmio, Fábio Koff, chegou a ligar para o pai do jogador em Irati, para contratá-lo. Mas nas duas vezes não deu certo.

La mano del defensor

Allan Costa Pinto
Gralak guarda até hoje o video do gol de mão contra o Umuarama.

Gralak tem 1m86 e acha que tinha duas qualidades para ser um bom zagueiro. “Eu tinha boa impulsão e bom posicionamento. Eu acho que estas são as duas qualidades fundamentais para um zagueiro. Elas superam até a altura no caso de zagueiros, pois já vi jogadores de baixa estatura na defesa se sair muito bem e já muitos grandões se darem mal”, diz ele. Mas o ex-zagueiro tinha duas outras qualidades que foram, talvez, mais importantes para ele conquistar prestigio em campo no seu tempo de jogador profissional: Gralak tinha chute potente, tanto que marcou gols por todos os clubes em que jogou, principalmente cobrando faltas e pênaltis.

No caso dos pênaltis ele ensina: “Se você chutar forte, à meia altura e no canto, mesmo que o goleiro pular na bola vai ser muito difícil ele pegar”, diz ele. A pancada certeira e forte no canto e a meia altura é a que tem mais chances de matar o goleiro na cobrança. No entanto, Gralak tinha outra habilidade que passava meio despercebida e era fatal para o adversário: ele tinha muita força nos braços. “Para você ter uma ideia, quando eu era estudante, eu disputei todo tipo de esporte pelas escolas em que estudei. Numa edição dos Jogos Abertos disputada em Ponta Grossa, eu ganhei medalha no arremesso de peso”, conta Gralak.

Para quem arremessava pesos de ferro a metros de distância, cobrar lateral e jogar a bola dentro da pequena área era quase uma brincadeira. A bola chegava com força e certeira como um escanteio bem batido. A fama de jogar a bola com força da lateral na pequena área era tão grande que o locutor Silvio Luiz dizia: “Agora lá vai o Gralak jogar o boi no caminhão”. ‘E numa destas cobranças, num jogo contra o Umuarama, eu acabei marcando gol. Um gol de mão que foi parar no Jornal Nacional. O Fernando Vanucchi anunciou como gol histórico”, diz ele. A partida aconteceu em Umuarama num sábado, dia 6 de março de 1993. Era o jogo número 159 do Paraná Clube. A partida terminou em 5 a 0 para o tricolor de Vila Capanema. Os outros quatro gols foram marcados por Tadeu, Marques e Saulo, que fez dois. Mas o lance até hoje lembrado daquela partida foi o gol de mão feito na cobrança de um lateral.

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