Ciska treinava as categorias de base do Grêmio em 1984, depois de formado em Educação Física, pela Universidade de Maringá, quando apareceu um sujeito e perguntou: “Maluco, você não quer ir para Angola?”. Ciska explica: “Meu apelido era Maluco”. Acontece que este sujeito conheceu na CBF um cara da Odebrecht, que tinha grandes investimentos em Angola e estava interessada em contratar um ex-jogador para treinar os times nos canteiros de obra, para competições destinadas a estimular o intercâmbio entre funcionários e angolanos. O salário era de até dez mil dólares. Ciska mandou currículo para o Rio de Janeiro e depois foi chamado para uma entrevista destinada fazer peneira entre os selecionados.
“Eu fui para a Ilha do Governador. Chegando lá, não era só eu que estava interessado. Tinha jogador do Botafogo, cara que jogou em outros times do Rio. Eu tive sorte porque lá na Odebrecht eu dei de cara com o Cabeção, um vizinho meu de Santos. Ele me levou para jantar e me apresentou para o pessoal da Odebrecht. O pessoal gostou e eu fui aprovado. Eu fui para Angola. Fiquei dois anos lá. Eu trabalhava às margens do rio Kwanza, na província de Malanje. Tudo no coração da selva. Um dia começou a aparecer boleiro angolano de tudo que era lado. Eu vi aquilo e pensei: que maravilha! Vai dar para montar um bom time aqui. Mas os caras não vinham para jogar. Eles sabiam que no acampamento tinha supermercado da empreiteira, ou seja, tinha comida, vinham bater uma bola, mas estavam de olho na nossa comida”, diz ele.
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Era, ainda, um período difícil para Angola, que se libertou do colonialismo na década anterior, mas continuou em guerra com três grupos internos de orientações distintas brigando pelo controle do país. “O problema lá era a guerra civil no país que deixava sequelas. E uma delas eram as minas. Tinha minas para todos os lados e em tudo que era lugar. Angola foi o país com o maior número de mutilados que eu vi. Uma coisa feia. O pessoal todo aleijado, homens, velhos, crianças”, conta Ciska. “Um dia quando eu vi um trator explodir na minha frente, porque passou em cima de uma mina. Quando eu vi aquilo, eu nem quis saber, eu vazei de lá. Meu contrato era para dez anos. Eu ganhava de cinco a dez mil dólares. Mas eu sai de fininho. Não levei nem as minhas camisas coloridas, porque os angolanos quando souberam que eu queria vazar, eles foram lá e pegaram tudo. Fazia tempo que eles estavam de olho nas minhas camisas coloridas. Me roubaram todas”, conta Ciska.
Mas este não era o único problema em Angola. “Sem contar que lá tinha muita malária. Eu vi sujeito de 150 quilos pegar malária e ficar com 50 quilos”, diz Ciska. “O dinheiro era bom, mas os riscos eram maiores”, diz Ciska, que voltou para o Brasil, mas não perdeu o gosto pela aventura. Quando voltou de Angola, Ciska foi trabalhar no Sport de Campo Mourão. Quando o time acabou, ele conheceu um tal Yamamoto. “Eu entrei em contato com uma máfia danada que me levou para o Japão. Mas acabei entrando legalmente no Japão. Tinha visto, passaporte e montei a primeira escola de futebol no Japão. Eu estava no país quando começou o interesse pelo futebol. Eu vi o que aconteceu no país. E posso te dizer: foi uma coisa de louco. Eles desmanchavam estádios de beisebol para fazer estádio de futebol. De uma hora para outra eles queriam jogar futebol. Lá eu me encontrei com o Zico. Eu até tirei uma foto com ele. Fiquei catorze anos no Japão, de 1988 a 2002. Posso dizer que criei meus filhos lá. No início eu tinha tradutor, mas com o tempo fui pegando alguma coisa e hoje eu falo o básico em japonês”, diz ele. No entanto, como tudo tem começo, início e fim, o ciclo no Japão também encerrou. E quando isto aconteceu, mais uma vez Ciska voltou para o Brasil. Para o Paraná. Para Maringá. Onde mora atualmente.
Históri,a
Alguns meses depois do Torneio dos Campeões o Galo fecharia as portas, uma vez que as forças políticas apoiadas pelo então governador Haroldo Leon Peres (Arena), vitoriosas na cidade, cortaram os recursos para o clube.