Ele esteve em campo nas duas últimas vezes que o Clube Atlético Ferroviário foi campeão estadual – 1965 e 1966. O meia ponta de lança gaúcho Paulo Roberto Vecchio é um caso raro de ídolo e campeão em três clubes distintos no Paraná. Ele deixou saudades por onde passou – campeão pelo Londrina em 1962 e quatro vezes campeão pelo Coritiba, 1968, 1969, 1971 e 1973. E todas elas com passagens recheadas de boas histórias. Uma história que começou em Porto Alegre, quando era criança. “Eu morava bem em frente do Beira Rio, quando ainda não existia Beira Rio. E depois fui treinar no Independência, estádio do Inter. Era vizinho do Nilo que anos depois veio jogar no Coritiba. Fui eu que levei o Nilo para treinar no Inter”, recorda.
Aos 16 anos, estourando no juvenil do Inter, ele fez seis gols numa goleada de 8 x 0 que o colorado gaúcho aplicou no Cruzeiro de Porto Alegre. Um diretor viu aquilo e como o time profissional ia fazer partida amistosa em Montevidéu contra o Peñarol, que tinha sete jogadores da seleção uruguaia, e o time gaúcho ficou desfalcado de três atacantes, aquele diretor resolveu levar três juvenis. Entre eles, Paulo Vecchio.
Na semana seguinte, numa partida contra o Guarani de Bagé, vencida pelo Inter por 4 x 2, Paulo Vecchio fez dois gols. E como naquele tempo, quem jogava pelo profissional não podia mais voltar para o juvenil, virou profissional aos 16 anos. Algum tempo depois o futebol dele atraiu o interesse do Bologna, da Itália. “Eu fiquei animado, mas o Inter pediu uma fortuna na época. Acho que não queria me vender. Pediu 8 milhões de cruzeiros”, recorda. A recusa do time em vendê-lo deixou-o enfurecido com o Internacional. Para acalmar o jogador e dar experiência a ele, o clube o emprestou por um ano ao Londrina.
Coleção de títulos
Paulo Vecchio chegou ao Londrina em 1962, com 19 anos. Era alto, habilidoso e se encaixou como uma luva naquele time que foi campeão estadual em cima do Coritiba. O contrato de empréstimo com o Inter continha uma cláusula: o Londrina ficava com o jogador em definitivo se ao final do empréstimo depositasse 2 milhões de cruzeiros na federação gaúcha. O Tubarão depositou, ficou com o jogador e o vendeu ao Ferroviário por 3 milhões, e ainda ficou com a renda da partida entre os dois times em Curitiba, que rendeu 1 milhão e 750 mil cruzeiros.
O habilidoso gaúcho chegou em 1964 ao Ferroviário e no ano seguinte foi campeão estadual em cima do Grêmio de Maringá, em duas partidas memoráveis. “Foram as duas melhores partidas de minha vida. O time do Grêmio Maringá era muito mais técnico, mas o nosso estava fisicamente muito melhor. Em Maringá eu enfiei a bola na área, ela fez uma curva, enganou o goleiro e o Mário Madureira só teve o trabalho de empurrar para as redes. No jogo de volta, eu levei a bola para casa. Ela era minha. Porque eu joguei muito”, recorda.
Sobre o time do Ferroviário ele diz: “Era uma turma muito boa. Todo mundo era amigo”. Sem contar que ele esteve no primeiro time paranaense que disputou o torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967, embora a campanha não tenha sido um primor. Depois de dois anos no Boca Negra, o jogador teve uma passagem relâmpago pelo Metropol de Criciúma. Sem planejar ele acabou voltando para Curitiba, para jogar no Atlético. Mas depois de treinar alguns dias, Paulo Vecchio foi parar justamente no maior rival, o Coritiba, numa destas histórias que só acontecem mo futebol. E mais que isso: ele marcou no final do segundo tempo de uma partida decisiva o gol que deu ao Coxa o título que não experimentava há sete anos. “Até hoje quando eu passo pela Rua Buenos Aires eu me lembro aquele dia em que sai da secretaria do Atlético, entrei num táxi DKW que estava passando e fui me encontrar com o Munir Caluf na Rua XV”.