Ao se falar de grandes nomes que passaram pela Seleção Alemã, a lista é longa, porque se trata de um time tradicional e presente em quase todas as copas do mundo. Destacam-se Franz Beckenbauer, Karl-Heinz Rummenigge, Lothar Matthäus, Jürgen Klinsmann e Gerd Müller, entre muitos outros. E é exatamente por isso que a menção de um brasileiro na história deste time – ou Die Mannschaft, como chamam os alemães – chega a surpreender. E a surpresa aconteceu no final dos anos 90, quando o técnico Berti Vogts, que tinha levado os alemães à conquista da Eurocopa de 1996, resolveu consultar Paulo Rink, brasileiro que tinha se naturalizado alemão em outubro de 1998 e jogava pelo Bayer Leverkusen, se ele não tinha interesse em defender o selecionado nacional. Da Alemanha.
O convite fazia sentido. O Bayer Leverkusen estava fazendo boas campanhas naqueles anos. Foi uma vez campeão e duas vice. Disputou Liga dos Campeões e mais de meia dúzia de jogadores de seu elenco faziam parte da seleção. Rink gostou da ideia, mas também estava de olho na seleção brasileira. “Eu fiquei num dilema muito grande. E liguei para o Luxemburgo que era o técnico da seleção brasileira entre 1998 e 2000, para saber se eu tinha chance de ser convocado pelo Brasil”, conta ele. Luxemburgo jogou limpo. “Ele disse que a concorrência no ataque do Brasil era grande e ele tinha vários jogadores que estavam atuando bem como o Ronaldo, Bebeto, Rivaldo e o Edmundo e que as minhas chances eram pequenas”, relata Rink.
Era a resposta que precisava para aceitar o convite de Vogts para envergar a jaqueta do time nacional alemão – e assim dar adeus a qualquer chance futura no selecionado brasileiro. “Acabei optando pela Alemanha e foi tudo muito tranquilo, principalmente porque metade da seleção alemã era conhecida e sete jogadores eram do Leverkusen”, diz Rink. Ele foi convocado em 1998 por Vogts para disputar naquele ano dois amistosos contra a Romênia e Malta. Um ano depois, ele foi novamente convocado, desta vez para disputar a Copa das Confederações de 1999, no México. Em 2000, foi novamente convocado para jogar a Eurocopa 2000, disputada na Bélgica e Países Baixos. Rink fez 23 jogos com a camisa do time nacional alemão e fez três gols. Ele teve como técnicos Berti Vogts, Erich Ribbeck e finalmente Rudi Völler.
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Convocação pra seleção foi fruto do bom pelo Bayer Leverkusen. |
Segundo Rink, as suas chances de disputar a Copa do Mundo na Coréia e Japão desabaram quando ele se contundiu. “Eu tive um problema nos ligamentos do tornozelo e fiquei seis meses parado. Quem entrou no meu lugar foi o Miroslav Klose. Mas ainda assim a comissão técnica me convidou e eu fiz parte do grupo, não como jogador, mas como um integrante da delegação”, diz ele. Ele também garante que foi convidado para comentar a partida final entre Brasil e Alemanha, vencida pelo Brasil, para a Rede Globo, mas recusou. “Não fazia sentido. Além disso, não era esta a minha função”, disse ele.
O atacante brasileiro jogou oito temporadas do campeonato alemão por três equipes diferentes, segundos seus cálculos ele marcou 65 gols em aproximadamente 190 jogos. Além disso, disputou a liga dos campeões. Em uma delas, o Bayer Leverkusen foi vice-campeão, na melhor colocação que o time que vai completar cem anos de existência no dia 1º de julho próximo conseguiu na competição. Numa das partidas mais emocionantes do Bayer Leverkusen na Liga dos Campeões de 2000/2001, Rink marcou um gol aos 33 minutos do segundo tempo contra o Real Madri no dia 17 de outubro de 2000, no estádio Santiago Bernabéu, em Madri. O Real ganhava de 4 a 2, o gol de Rink deu esperança ao time alemão que foi para cima, mas Figo ampliou a contagem de pênalti no fina,l do jogo, aos 42 minutos. E os anfitriões venceram por 5 a 3.
Depois de vestir a camisa do Bayer Leverkusen por cinco temporadas, sendo campeão alemão em uma e vice em duas, Rink foi para o Nuremberg, onde disputou duas temporadas e em 2003/2004, ele disputou a sua última temporada alemã pelo pequeno Energie Cottbus. A partir de 2004, ele jogou no Olympiakos Nicósia, no Vitesse Arnhem, da Holanda, no Jeonbuk Hyundai, da Coréia, de onde voltou para o Chipre para mais duas temporadas e finalmente retornou para o Atlético Paranaense, para encerrar a carreira no dia 26 de novembro de 2006. Uma curiosidade: em 2001, num intervalo de sua temporada internacional, o atacante voltou para o Brasil para jogar 12 partidas pelo Santos.
Dedurado pela Tribuna
“Em 1994 eu fui ao 5.º Batalhão de Logística pegar a minha dispensa do exército, por excesso de contingente. Eu estava lá esperando e o Capitão Newton estava lendo a Tribuna. Quando ele me viu, ele olhou a Tribuna e na primeira página tinha duas fotos, uma minha e outra do Andrade, aquele jogador de meio campo que foi do Flamengo e que virou técnico. Aí o Capitão Newton falou: este cara aí é este aqui na Tribuna. Não dispensa ele não que eu preciso dele pro time do Exército. E foi assim que eu não fui dispensado e fui convocado pelo Exército para disputar o Campeonato Nacional de unidades do Exército. Fui eu, o Cuca, que jogava no Coxa e o Emanuel, que jogava vôlei e foi campeão Olímpico. Todos convocados para servir o Exército no Campeonato Nacional do Exército. Ainda bem que no final nós fomos campeões”, diz Rink.
Poliglota
Paulo Rink passou por onze clubes, alguns do Brasil e outros no exterior. A sua experiência por vários países lhe rendeu o aprendizado em várias línguas. Ele é fluente em seis idiomas: alemão, inglês, espanhol, grego, italiano, além do português. O alemão ele aprendeu quando foi contratado pelo Bayer Leverkusen. “Eu tinha aulas duas vezes por semana, todas as terças e quintas-feiras, promovidas pelo próprio clube. Eu chegava mais cedo, ia para as aulas e depois da aula ia para o treino”, diz ele.
Virando alemão
Rink nasceu em Curitiba no dia 21 de fevereiro de 1973. . Muito antes de se transferir para o futebol alemão, Rink deu início ao processo para obter cidadania alemã, por conta de sua ascendência. “Foi em 1995, que fui ao consulado alemão que naquela época ficava na Avenida João Gualberto para retirar o passaporte. O processo se arrastou. Mas quando eu fui para a Alemanha, o Bayer Leverkusen acelerou o processo e eu consegui o passaporte comunitário. E com isso abri vaga para mais um estrangeiro no time”, diz ele.
Eleito pelo povo
Em agosto de 2000, a revista Kicker fez uma consulta para saber quais jogadores que pertenciam à seleção alemã que não foi bem sucedida na Europa de 2000, deviam permanecer na equipe. Rink foi o preferido entre todos com um índice de aceitação superior a 70%.
Gostei muito
Paulo Rink considera a sua passagem por Chipre como a mais agradável experiência no exterior. Ele morou em Nicosia, capital cipriota, onde defendeu o Olympiakos Nicosia e numa outra temporada o Omonia Nicosia. Depois que pendurou as chuteiras voltou várias vezes ao pequeno país. “Gostei muito. É o lugar que se não fosse Curitiba, eu escolheria para morar. O Chipre combina uma série de coisas boas. É um lugar paradisíaco, tem tudo o que a Europa tem e ao mesmo tempo tem as vantagens de uma cidade pequena”.
No repolho
“Não gostei de minha temporada na Coreia. Eu deixei a Holanda e assinei um contrato vantajoso para jogar três anos na Coreia pelo Jeonju. Mas eu não consegui ficar seis meses. Poucas pessoas falam inglês na Coreia do Sul. Eu andava com tradutores quase o tempo todo e ainda assim não deu certo. Eu simplesmente não conseguia me comunicar com ninguém. Foi muito difícil”, diz Paulo Rink. Resumo da experiência: ele chegou a comer cachorro, emagreceu alguns quilos e no final só estava comendo repolho em conserva.