No dia 12 de agosto de 1990, o jogador Marquinhos acordou, levantou e desceu para a portaria do Hotel Leon, na cidade de Leon, no México. Ele procurou pelo empresário Lamberto Giulidoro que o levou para o Clube León, da mesma cidade. “Eu falei com a recepcionista e ela me disse que o Sr. Lamberto deixou o hotel de madrugada e ainda por cima não pagou a conta. Resumindo, ele fugiu”, conta Marquinhos. O jogador ficou sem saber o que fazer. Não queria ir para o México. Foi porque o passe oficialmente pertencia ao Pinheiros, mas nos bastidores havia sido comprado por empresários, entre eles, Lamberto Giulidoro, que tinha dívidas e os credores para fazer dinheiro o pressionaram para vender os seus ativos, entre eles o passe do jogador.
“Foram reuniões e mais reuniões”, diz Marquinhos. “Eu não queria ir, mas os caras disseram que se eu não fosse eu ia entrar na geladeira e não jogava mais no Brasil”, completa. Com esta diplomacia truculenta ele cedeu e foi para o México. Mas, antes de ir fez um acerto com o Coritiba: ele ficaria seis meses por lá e depois voltaria no final do ano e acertaria com o Coxa. Chegando lá, o treinador Victor Vulcetich disse que queria ver o jogador treinando para aconselhar a diretoria do clube se o contratava ou não. “Eu disse que não vim para treinar, mas para jogar”, disse ele. Então Giulidoro teve aquela ideia: “Você vai lá, corre em volta do campo e depois volta para o hotel. Enquanto isso, eu converso com o pessoal do Leon e assino o contrato”, conta Marquinhos. O jogador fez o que ele pediu, voltou para o hotel, foi dormir e quando acordou, o empresário fugiu.
Foi então que apareceu na cidade um jogador brasileiro chamado Cabinho. Evanivaldo de Castro e Silva foi um atacante revelando nas categorias de base do Flamengo, jogou no Atlético Mineiro, passou pela Portuguesa de Desportos, até aparecer no México, onde fez grande sucesso. Ele foi artilheiro do campeonato mexicano por nove temporadas nos anos 70 e 80, além de estabelecer o maior número absoluto de gols no campeonato nacional daquele país. Entre os clubes que Cabinho defendeu estava exatamente o León, nas temporadas de 1983 a 1985. “Eu estava querendo cair fora do México, mas ele me aconselhou a ficar. Disse que o pessoal era bacana, honrava compromissos e eu ia gostar. Ele disse: vai por mim, que você não vai se arrepender. Pode ficar”, conta Marquinhos. Como Marquinhos pretendia ficar até o final do ano, ele aceitou fazer o jogo dos mexicanos. Mesmo porque não tinha outra opção.
“Que viva México!”
Foi um negócio empurrado garganta abaixo de Marquinhos, o empresário fugiu do hotel e o que parecia uma tragédia, acabou sendo bom negócio.