Quem desembarca no Paraguai, sem conhecimento prévio do País, corre o risco de achar que os três edifícios suntuosos na Avenida Sudamericana, em Luque, entre o aeroporto e Assunção, abrigam o governo, o congresso e a corte suprema. Mas ali se encontra apenas o centro administrativo da Confederação Sul-Americana de Futebol, o centro de convenções Dr. Nicolás Leoz, que aos 83 anos é presidente do Conmebol desde 1986, e o Hotel Bourbon, que preferencialmente recepciona delegações esportivas.

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O centro de convenções Dr. Nicolás Leoz tem em seu interior um auditório que leva o nome de João Havelange, além de museu do futebol. O museu foi inaugurado em 29 de janeiro de 2009, num espaço de mil metros quadrados, e nele há poucas reverências a talentos individuais fora do panteão de cada país.

Garrincha, Romário, Maradona, Kempes, Figueroa, Cubillas, Gamarra, Pedro Rocha e outros grandes do continente são lembrados na galeria de seus países. Não há objetos que pertenceram a estes jogadores. Apenas dois atletas têm as suas fotos em destaque por serem sul-americanos e terem sido recentemente escolhidos os melhores do mundo: a brasileira Marta e o argentino Messi – uma honraria que certamente será transferida a outros do continente brevemente.

De todos os atletas sul-americanos fora de atividade, apenas um merece deferência especial e quase sutil na entrada do salão dedicado aos países. A reprodução de um cartaz de teatro em que os atores avisam o público: “Hoje não trabalhamos, porque vamos ver Pelé”. Pelé é também a principal figura na galeria dedicada ao Brasil com a reprodução da famosa foto em que ele dá uma bicicleta.

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Neutralidade

Esta preocupação isonômica também pode ser conferida no salão circular. Cada país tem destaque com o mesmo tamanho e referências a seus principais craques e conquistas – ou se não há conquistas, pelo menos atuações heroicas. Na parte central do salão circular, uma estrutura reserva para cada país informações com audiovisual e objetos sobre cultura, literatura e manifestações populares de cada nação sul-americana.

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Há ainda um grande espaço multimídia dedicado às copas Libertadores da América, Sul-americana e Recopa, além das extintas Conmebol e Mercosul. O visitante pode ainda conferir o grande painel de seleções, com bandeira de cada nação num pequeno pedestal, sob o qual um monitor de TV apresenta rápidos momentos de destaques de cada uma no futebol. No Brasil, com cenas de Pelé; no caso argentino, com as conquistas comandadas por Maradona. Depois, uma rampa enorme conduz ao salão das nações. Nas paredes desta rampa estão flâmulas com escudos dos principais clubes do continente, reunidos por países.

No caso brasileiro há muitas ausências e presenças inesperadas, como os escudos – para ficar no caso paranaense – de Pinheiros e Colorado, dois times que não existem mais. Há também o Grêmio Maringá, hoje na Terceira Divisão estadual, e o Londrina, que ascendeu este ano à Primeira Divisão paranaense, mas que há muitos anos não participa de uma competição nacional de relevância. Isso sem esquecer o Operário Ponta Grossa.

O passeio é monitorado pelo guia Alberto Benitez, torcedor do Cerro Porteño, que ao longo do percurso desafia os visitantes com perguntas. “Você, brasileiro! Qual equipe perdeu seis partidas pela Copa Libertadores e ainda foi campeã?”. Silêncio. “É do Brasil”. Como ninguém sabe, Benitez arremata feliz: “Cruzeiro de Belo Horizonte perdeu seis partidas, mas ainda assim foi campeão”. O homem parece um banco de dados quando o assunto é futebol continental. Ele sabe números, datas, nomes, jogadores e parece que sua cabeça foi programada para isso. Além de tudo, é atencioso. O museu é interessante e divertido. Mas deixa no visitante a sensação de que poderia, de fato, valorizar os melhores.

O jornalista Edílson Pereira viajou a Assunção a convite da Secretaria Nacional de Turismo de Paraguay.