Lendas vivas

Para Paquito, gol contra o Flamengo foi um dos mais bonitos

Nas rodadas posteriores, o Coritiba não teve medo de cara feia. Se perdeu para o Internacional (10/9), venceu o São Paulo (14/9) e atropelou o Botafogo (21/9). Em seguida foi atropelado pelo Atlético-MG (24/9), mas a Tribuna estampou: “Fica tranquilo Coritiba, time grande também perde”. Mas o Coxa pensou em reforços. No dia 30 de setembro, a Tribuna informou que o alviverde emprestou Paquito, Augusto e Sérgio. Até o fim do ano. No dia 12 de outubro de 1969, Paquito fez sua estreia com a camisa do Coritiba. O time do Alto da Glória encurralou o Flamengo nos 30 minutos iniciais. Aos 9 minutos do primeiro tempo, Passarinho recebeu a bola de Augusto, driblou Tinho e Paulo Henrique cruzou na área.

Paquito subiu mais que Brito e de cabeça abriu o marcador. “Este gol eu considero um dos três gols memoráveis de minha carreira”, disse Paquito. O Coritiba massacrava o Flamengo, mas não traduziu o domínio em mais gols. E, no final, em vez de fazer o segundo, levou o empate, através de Bianchini. Um castigo. A Tribuna registrou no dia seguinte: empate com gosto amargo. Nas rodadas seguintes, Paquito disputava vaga no time titular com Kruger e Kosilek. Às vezes jogavam os três, mas Paquito era deslocado para a ponta-direita.

No dia 25 de outubro, ele voltou a marcar na vitória de 2×0 contra o América-RJ. Nair lançou Passarinho, que virou o jogo para Nilson. O atacante cedido pelo Atlético matou a bola e cruzou rasteiro. Paquito entrou e empurrou para o fundo das redes. O Coxa tinha chances de se classificar para o quadrangular final, mas não podia vacilar, como no jogo contra o Flamengo e principalmente no empate sem gols contra o Bahia, ambos no Belfort Duarte, além da derrota de 3×1 para o Santos, também em Curitiba. Mas perder para Pelé e companhia não era vexame.

No dia 1 de novembro, o Coritiba enfrentou o poderoso esquadrão do Cruzeiro no Alto da Glória e empatou. A classificação começava a ficar difícil. Em São Paulo, no dia 4 de novembro, policiais encurralaram Carlos Marighella, líder da Aliança Libertadora Nacional, organização que havia participado do sequestro do embaixador americano e o mataram.

No dia 9 de novembro, o Coritiba recebeu o Palmeiras. Estava correndo atrás do empate, quando sofreu o terceiro gol. Por incrível que pareça, depois desta derrota o alviverde ainda tinha chances de classificação que seria decidida no próximo jogo contra o Corinthians. Foi um jogaço: Rivelino abriu o marcador para o Corinthians aos 13 minutos e Nilson empatou aos 17. Ainda no primeiro tempo, Paquito pegou a bola na intermediária e tentou a sorte. E teve. Ado falhou e o Coxa virou. Mas o Corinthians veio melhor no segundo tempo e empatou com Benê aos 5 minutos e virou com Suingue aos 34 minutos. A Tribuna noticiou: “Coxa liquidado”.

No entanto, o time do Alto da Glória não fez feio. Ficou em 12º lugar na classificação geral, em sua primeira participação numa competição nacional, à frente de forças tradicionais como Flamengo, Vasco, São Paulo e Portuguesa. Uma curiosidade: o Palmeiras foi campeão com 23 pontos, pontuação menor que a de Corinthians e Cruzeiro, vice e terceiro lugares, que fizeram 27 e 26 pontos, respectivamente. Paquito acredita que poderia ter ficado no Alto da Glória já na temporada seguinte não fosse um episódio que aconteceu depois do Robertão.

“Em 1970, eu vinha de Curitiba para o Norte do Paraná, quando sofri acidente automobilístico muito grave, que me deixou quase um ano sem jogar”, conta ele. “Estourei o joelho, perfurei o pulmão esquerdo, quebrei costela e aí quando eu volvei quase um ano depois, voltei a fazer os gols e fui para o Coritiba, desta vez com o Tião Abatiá”, diz ele. Mas esta é outra história.

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