Lenda Viva

No Furacão, Galalau ganhou título de “doutor do futebol”

Do lendário time do Atlético de 1949, que ficou conhecido como Furacão, apenas dois jogadores estão vivos. Um é Jackson. O outro é Waldemiro Galalau, o becão que parava até assombração. Quando atuava, ele era forte como um touro. A bola ou o atacante tinham que escolher, pois um deles ia ficar. “Quando a bola passava, o atacante ficava. Se o atacante passava, quem ficava era a bola. Ele parava até assombração”, recorda o jornalista Levi Mulford, que o viu atuar. “Eu era alto. Tinha 1,80m. Agora, depois que fiquei velho, encolhi”, diz Galalau, acusando os efeitos do tempo.

Na época em que defendeu a camisa rubro-negra.

Octogenário, Galalau, 87 anos, é atleticano. Dentro de sua casa, sobre uma cristaleira cheia de medalhas, fotos e troféus, ele destaca uma placa que colocaram em seu portão e que guarda como fosse condecoração de uma grande batalha: “Aqui mora um atleticano feliz”. Ele ri satisfeito, apesar do esforço que hoje precisa fazer para andar. “Esse joelho direito não me deixa andar direito. E eu fico nervoso”, completa o imortal zagueiro do Rubro-Negro, entre faixas dos tempos em que jogou pelo time profissional do Atlético, recortes de jornais e diplomas.

O título de 1949 é um dos mais cultuados da história do Atlético. O Rubro-Negro montou uma equipe tão forte e superior aos adversários que foi chamado de Tufão e depois de Furacão – apelido que perdura até hoje. O técnico era Motorzinho, um dos responsáveis pela armação do esquadrão. Como jogador, Motorzinho integrou o histórico time do Internacional de Porto Alegre, que ficou conhecido por Rolo Compressor, por praticar um futebol extremamente ofensivo. No Atlético, ele implantou a mesma filosofia. O Furacão era um time que atropelava todo mundo no dia 7 de agosto meteu 5 x 1 no Coritiba no campo do Coxa e no dia 18 de setembro aplicou 7 x 3 no Água Verde, na abertura do returno, no campo do adversário. Só para dar dois exemplos. O time fazia gols com uma facilidade quase absurda.

Faltando quatro rodadas para o fim do campeonato, não havia dúvida: o campeão seria o Furacão. Na última partida, no dia 4 de dezembro de 1949, o time invicto perdeu para o Ferroviário por 2 x 0. Mas não fez diferença. O Atlético foi campeão com três rodadas de antecipação e todos os jogadores do clube receberam o diploma de “doutores em futebol”. Aquele ano entrou para a história como um dos melhores do Rubro-Negro. Aqueles jogadores foram reverenciados na galeria rubro-negra. Entre eles, estava Waldemiro Galalau, que até hoje guarda duas relíquias: uma é o diploma “doutor em futebol” e outra é o anel de “formatura” no “doutorado de futebol”.

“Ué, a gente também ganha?”

Diploma de “doutor em futebol”.

Galalau era profissional. Assinou contrato. Estava registrado. Só que ele não sabia que jogador de futebol também ganhava salário. Pelo menos, no caso dele. “A primeira vez que eu recebi salário foi uma surpresa”, diz. Uma pessoa da tesouraria foi até o campo onde os jogadores estavam treinando para avisar Galalau que ele tinha de pegar o salário. “Eu nem sabia que ganhava 200 mil réis por mês. Era mais que eu ganhava por mês na oficina mecânica, onde eu tirava 180 mil réis. Eu nem acreditei quando sai com 800 mil réis, porque estavam acumulados quatro meses de salário”, diz ele. Com ,o dinheiro do futebol que foi entrando ele foi comprando terrenos nas proximidades de sua casa. “Todos estes terrenos que eu tenho hoje comprei com dinheiro do Atlético”, diz ele.

Por que Galalau?

“Nós fomos jogar em Recife contra o Náutico e o Sport, e eu fui considerado um dos melhores jogadores do Atlético. As mulheres ficavam comentando: mas este Galalau joga muito. Este Galalau é bom de bola. Os companheiros ficaram perguntando para mim o que era aquele negócio de Galalau. Eu não tinha a menor ideia. Até que um deles foi e perguntou para os pernambucanos o que elas queriam dizer com aquele negócio de Galalau. Eles responderam que Galalau é um homem grande, forte. Eu naquela época tinha um 1,80m. Agora, com mais de 80 anos, encolhi. Mas eu era um cara grande e quando nós voltamos todo mundo começou a me chamar de Galalau. E ficou Waldemiro Galalau”.

“Arrebentei o Heleno”

Galalau é um dos dois jogadores do lendário Furacão que ainda estão vivos.

“Em 1947, o Botafogo veio jogar na Baixada. As pessoas diziam que eu batia muito. Eu batia forte, mas nunca fui desleal. Neste amistoso contra o Botafogo, o Rui cruzou uma bola e o Heleno subiu, mas eu subi mais que ele. Eu cabeceei a bola e ele se chocou contra o meu corpo, bem aqui no peito. O choque foi tão forte que nós dois fomos ao chão. Foi um grande susto, por que ele espumava pela boca.

Malandragem

“O cara tem que ser experiente e esperto. As maiores malandragens eu fiz no amador. Teve uma partida que o juiz estava perdido e eu percebi. A gente seria campeão com um empate. E o jogo estava empatado e o time deles em cima. Eu cheguei para o juiz e disse, você não vai apitar o fim do jogo. Ele levou um susto, apitou e o jogo terminou. Só que era por volta dos 32 do segundo tempo. Foi um sururu danado. O juiz voltou atrás, deu mais alguns minutos e mesmo assim eu fiquei em cima dele e ele terminou antes do tempo normal. Outra vez, em União da Vitória, jogando pelo Real e o jogo estava complicado. Eu percebi que só tinha uma bola no campo. E a gente precisava acalmar o jogo. A bola saiu pela lateral e eu deixei ela ir até o alambrado, que na realidade era um daqueles palanques ou mourão, onde tinha um prego com a ponta para fora. Eu enfiei a bola no prego, tirei a bola, tampei o buraco para ela não murchar na minha mão e cobrei o lateral. A bola caiu em campo e quando foram chutar ela ficou murcha. Até achar outra bola, o jogo tinha esfriado e o time deles perdeu o embalo.

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