Nilo é um caso raro no futebol. Primeiro, não era de gandaia, não fumava e tampouco bebia: “Nunca fumei, nunca bebi. O máximo que tomo é um copo de Malzbier. Se tomar mais eu fico com dor de cabeça”, revela. Até aí tudo bem, embora seja famosa a preferência de boleiros por baladas, bebidas e, no caso de alguns, cigarros. Sem contar que outros gostam de coisas ainda mais nocivas para a saúde de um atleta profissional. Mas o que surpreende mais em Nilo é a declaração seguinte:

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“Eu nunca fui louco por bola. Eu não queria jogar futebol. Quem começou isso foi o Paulo Vecchio, que morava perto de minha casa, em Porto Alegre, que ficava perto do campo do Internacional. Ele sempre insistiu para eu ir treinar no Inter. Eu não ia. Um dia ele foi e disse que não saía de casa enquanto eu não fosse treinar. Então eu fui. E foi assim que comecei a jogar no Inter”, confessa. Isto foi em 1957, quando ele tinha 15 anos. Mas quem pensa que ele pegou gosto pela bola, apesar de jogar bem, se engana. “Jogar era uma tristeza”.

Nilo foi jogando pelo Internacional e aos 16 anos se profissionalizou. Aí, algum tempo depois, chegou um certo Capitão Bruneli e resolveu fazer uma renovação no clube. “Eu era jovem e ele queria fazer uma renovação me tirando do time. Eu disse tudo bem e fui embora”, diz Nilo. Isto foi em 1963. No entanto, Luizinho, que foi seu treinador no Inter, assumiu o São José, de Porto Alegre e disse: “Vem jogar no meu time que lá você é titular”. Nilo não queria. Mas, por insistência, foi e ficou no São José, onde foi capitão do time até 1968, quando foi contratado pelo Coritiba. Por esta época ele começou a trabalhar no Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) e por conta disso passou a jogar no campeonato bancário, de volante e não de lateral-esquerdo, sua posição no futebol profissional.

Sua vontade era parar com a bola. Primeiro, o São José não era de pagar em dia e depois outros times estavam interessados nele, como o Grêmio de Porto Alegre, o Santos e o Metropol de Criciúma. O São José não vendia, nem emprestava. E Nilo desistiu do futebol. Mas o futebol foi atrás dele. “Quando eu vim para o Coxa, eu tinha parado com o futebol. E isto já tinha acontecido também no Inter, quando eu estava servindo o exército e preparei minha transferência para uma unidade militar em Santa Maria. Um dirigente do Inter soube e conseguiu minha liberação no exército, liberação que eu não queria. E agora, o São José não pagava e eu também não jogava. O pessoal passava em casa quando tinha jogo, mas eu não ia”, conta ele.

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No entanto, aconteceu um daqueles episódios que só acontecem no futebol. Motorzinho, que era gaúcho e estava trabalhando no futebol paranaense, foi a Porto Alegre buscar um lateral esquerdo para o Coritiba. Ele foi com um nome na cabeça: Paulo Ortunho, que era do Grêmio. Motorzinho passou no Internacional e o pessoal disse: “Ficou louco! Ortunho está em final de carreira. Leva o Nilo que está no São José e joga um bolão”, lembra Nilo. Motorzinho foi na casa de Nilo, que disse não. Mas Motorzinho abriu uma mala de dinheiro e disse: “A grana é esta. Vamos embora?”. Motorzinho queria levar o lateral naquele instante. O jogador disse: “Deixa eu avisar e me despedir do pessoal do banco, pelo menos”.

Nilo chegou a Curitiba no dia 1º de maio de 1968, com o campeonato paranaense em andamento e o Alviverde não fazendo boa campanha. Ele entrou no segundo turno, disputou todas as partidas e ainda fez o cruzamento do gol do título, aquele antológico de Paulo Vecchio, o mesmo que teve a ideia de botar Nilo no futebol.

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