O jogo contra a Costa Rica não era dureza naquele dia 13 de junho de 2002, no Suwon World Cup Stadium, na Coréia do Sul. Por isso Luiz Felipe Scolari resolveu tirar Edilson e colocar o meia Kleberson no time para ver o que acontecia. Era o último jogo para teste dentro da Copa do Mundo de 2002. Depois, cada vacilo seria fatal. Felipão não sabia, mas aquele foi um momento histórico para o futebol paranaense: pela primeira vez um jogador que nasceu no Estado e jogava num clube paranaense disputava uma partida de Copa do Mundo. Kleberson veio de Uraí no Norte do Paraná e jogava com a camisa do Atlético.
O importante para Felipão foi que a entrada de Kleberson mudou o panorama do jogo: o meia deu maior cadência ao time do Brasil e ajudou a seleção a conquistar a folgada vitória de 5×2. No jogo seguinte, contra a Bélgica, Kleberson continuou no banco. O Brasil continuava empacando, os belgas atacando e Marcos pegando tudo. Até que aos 22 minutos do segundo tempo, Ronaldinho Gaúcho avançou pela direita e cruzou para Rivaldo que, de costas e de fora da área, virou e de voleio fez o primeiro gol brasileiro. Ele tirou a camisa e saiu vibrando. Vitória suada.
O jogo continuava difícil. Faltavam dez minutos para o fim da partida, quando Scolari decidiu reforçar a marcação, para garantir o resultado. Ele tirou Ronaldinho Gaúcho e colocou Kleberson. O meia ajudou na marcação e também passou a escapar em contra-ataques, levando perigo ao gol da Bélgica. E numa destas escapadas, ele deu um passe magistral para Ronaldo que, aos 41 minutos do segundo tempo, fez o segundo gol brasileiro. O gol da tranquilidade. Que decretou o fim do sufoco. Os belgas foram embora.
Felipão também ficou tranquilo. Com Kleberson ele finalmente conseguiu algo que procurava desde o começo da Copa. Ele consertou o time. No dia seguinte a Tribuna deu de manchete: “Kleberson, do banco para a glória”. Dali para frente, o meia deixou a condição de reserva e foi titular até o fim da competição. Kleberson jogou na vitória de 2×1 contra a Inglaterra no dia 21. E no dia 26 contra a Turquia ele correu o campo inteiro. Saiu aos 40 minutos do segundo tempo, porque não aguentava as cãibras. “É a cãibra mais gostosa que senti na minha vida”, disse ele ao fim da partida. O Brasil estava na final. Contra a Alemanha.
Na véspera da decisão, a torcida no Paraná era pelo Brasil e por Kleberson. Priscila Alexandra, noiva do jogador no Norte do Paraná, dizia: “Tudo aconteceu muito rápido e o significado desta final para ele é inexplicável”. O então senador Roberto Requião conseguiu ver brilho no número da camisa de Kleberson, 15: “Permitam-me uma referência especial ao paranaense Kleberson que mais uma vez vai vestir a gloriosa camisa 15”.
Na final, Kleberson não fez o gol de ouro, mas fez quase tudo. Ele arrebentou. No final do primeiro tempo, arriscou uma pancada que explodiu no travessão do goleiro Oliver Kahn. No segundo tempo, Rivaldo chutou, o goleiro alemão rebateu e Ronaldo abriu o marcador. Kleberson apareceu no segundo gol: ele recebeu a bola no lado direito do ataque, próximo da lateral. Deu um corte no zagueiro alemão, foi para dentro e viu Rivaldo e Ronaldo na entrada da área. Enfiou a bola para Rivaldo, que deu um corta-luz mágico e a bola sobrou limpa para Ronaldo dar tapinha, arrumando a bola, e chutar em seguida no canto.
Naquele dia 30 de junho de 2002 o Brasil foi pentacampeão. E Kleberson entrou numa vitrine mundial. O jogador sabia e o Atlético também: vendê-lo era questão de tempo. Ele foi parar no Manchester United. Mas o seu melhor futebol gostou tanto do Japão que ficou para sempre por lá, como o mais importante camisa 15 da seleção brasileira.