Lendas vivas

Hidalgo veio de uma geração rica de talento no futebol brasileiro

Observador do futebol brasileiro como jogador e depois como cronista de rádio, Hidalgo tem a consciência de que estava dentro das quatro linhas do gramado numa época de ouro. Esteve no futebol paulista nos anos 60, apogeu do reinado de Pelé no Santos, além de muitos outros cobras. E esteve no Paraná quando o Coritiba montou um time que virou lenda e colocou o futebol do Estado em evidência.

“Era um período em que jogar em clubes do interior de São Paulo, por exemplo, era muito bom, porque só tinha craques”, diz ele. Ainda jovem, no Juventus, ao disputar uma partida pela Seleção Paulista, ele se alinhou a craques como Ivair, da Portuguesa de Desportos e Dias e Paraná, do São Paulo. “O time daquela partida foi o formado por Orlando; Osvaldo, Ditão, Dias e Ferrari; Hidalgo e Nair; Almir, Ivair, Servílio e Paraná”. Ele era o único juventino do time. “O técnico era o Aymoré Moreira”, diz ele.

Ivair, por exemplo, foi denominado Príncipe pelo próprio Pelé, depois de uma partida em que o Santos perdeu da Lusa por 3×2, os três gols marcados pelo avante adversário. Antes, ainda na escalada para o profissionalismo, Hidalgo participou de partidas com jogadores então em fim de carreira, mas ídolos nacionais da década anterior, como Pinga, Luizinho, Gino, Milton Buzzeto, Clóvis, Rafael Chiarello, que participou do até então último título estadual do Corinthians, o do Quarto Centenário. “Eu lembro que quando o Rivelino estava subindo para o time profissional de Parque São Jorge, o Corinthians cogitou a ideia de formar dupla de meio campo comigo e ele, mas o Juventus não me largava. A imprensa achava que eu ia para o Corinthians, mas não fui”, diz Hidalgo. “Fiquei sabendo que o Wadih Helu, presidente corintiano, fez proposta. O Juventus pediu um caminhão de dinheiro”, diz.

Nesta altura do campeonato, o volante queria deixar o time da Mooca. O técnico Silvio Pirillo foi contra. Finalmente, em fevereiro de 1966, ele acabou saindo do Juventus, mas para um time do interior: o XV de Novembro. Quando veio para o Paraná, atuou ao lado de um elenco de craques. “Eram muitos, como o Rinaldo, Aladim, Negreiros, Leocádio, o Tião Abatiá se adaptou bem naquele time. Mas tecnicamente exuberantes o Coritiba tinha dois jogadores: o Zé Roberto lá na frente e o Negreiros no meio campo”, diz ele. Sobre os famosos problemas extracampo de Zé Roberto, Hidalgo não valoriza e não se alonga: “O Zé era uma criança que gostava de ser idolatrada”.

Sobre os técnicos com os quais atuou, ele destaca três. “Elba de Pádua Lima, o Tim, o Filpo Nuñes e o Armando Renganeschi. Sobre o Tim o que eu posso dizer é que foi o maior estrategista do futebol brasileiro de todos os tempos. Não houve outro como ele. Sabia mexer no time na hora certa e do jeito certo. O Tim era fantástico”, diz Hidalgo. Em resumo, Hidalgo não tem do que se lamentar, no que se refere à sua carreira de jogador de futebol: “Eu joguei numa época de ouro do futebol brasileiro. Os grandes jogadores atuavam aqui no Brasil. Os craques da seleção estavam por aqui mesmo”, diz ele. Para a volta dos bons tempos? “Alguma coisa tem que ser feita”.