O garoto Jairo do Nascimento, aos 10 anos, queria jogar futebol. Mas ele tinha dois problemas: primeiro, não jogava bem; segundo, era muito alto. O mais indicado seria jogar basquete. Mas poucos praticavam basquete em Joinville-SC, por volta de 1956. Mas o que é do homem o bicho não come. Jairo comprou uma rifa de escola e ganhou uma bola de couro – produto raro naquela época. Jairo chegava com a bola, mas impunha condição: “Quero jogar”. O jeito foi arrumar um lugar para Jairo atuar, e ele foi para o gol. Naquela época, se contassem para alguém que o grandalhão se tornaria em um dos melhores goleiros do país, ninguém ia acreditar. Mas foi assim que tudo começou. Aos 14 anos, Jairo já estava nas categorias de base do Caxias de Joinville. Aos 16, treinava no time profissional da equipe catarinense. A evolução era cristalina e Jairo deixou o emprego na fábrica de refrigeradores Consul e passou a se dedicar apenas à profissão de goleiro.
Allan Costa Pinto |
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Jairo hoje comanda uma escolinha de futebol em Curitiba. |
A carreira decolou quando ele passou a ser observado por dirigentes do Fluminense. Os cartolas do tricolor carioca gostaram do que viram e, além de Jairo, levaram também o atacante Mickey. “Aos 17 anos, fui para ser treinado pelo Telê Santana e para ser reserva do Félix, o goleiro da Seleção Brasileira”, recorda. Em 1969, Jairo era o terceiro goleiro do Fluminense. O primeiro era Félix e o segundo era Jorge Vitório. Isso não era pouca coisa, por que o tricolor das Laranjeiras tinha onze goleiros em seu elenco naquela época.
Nesta altura do campeonato, embora muito jovem, Jairo já estava casado e tinha um filho. A coisa estava indo bem e ia melhorar. “Félix, que os amigos chamavam de Papel, gostava muito de mim e eu aprendi muito com ele”, diz Jairo. Não só isso: “Ele não gostava muito do Jorge Vitório, e acabou estimulando a minha promoção para segundo goleiro”, lembra. Mais ainda: “Sempre que o jogo estava garantido, Félix dava um jeito de ter algum problema no joelho para eu entrar. O pessoal já sabia e, no banco, brincava: vai lá Jairo, que o Félix resolveu ficar machucado. E assim eu ganhava o bicho integral. Ele me ajudou muito. Tanto ensinando, me ajudando a aprimorar, quanto me dando esta força para que eu jogasse e reforçasse o meu orçamento com o bicho”, diz.
Jairo ficou dois anos e meio no Fluminense e lembra quando conseguiu jogar uma partida inteira pelo Fluminense. “Foi em 4 de novembro de 1970, pela Taça de Prata (o Campeonato Brasileiro da época) e ganhamos por 6 x 1 da Ponte Preta. “Atuei por que o Félix estava na Seleção que ia disputar a Copa do Mundo no México. “Mas quando ele voltou, assumiu a posição e eu voltei para a reserva”, comenta.
Em 1970, o Fluminense foi campeão da Taça de Prata, do Carioca e da Taça Guanabara. Na época, o técnico do tricolor já era Paulo Amaral. Parecia que a carreira de Jairo ia se resolver no Fluminense, quando, no começo de 1972, apareceu a primeira pedra na carreira do goleiro. Mário Jorge Lobo Zagallo, que foi técnico da Seleção campeã no México, assumiu o tricolor. “Zagallo nem me conhecia e foi chegando e dizendo que eu era o terceiro goleiro. Não explicou, baixou o decreto e pronto. Trombei com ele”, conta. Jairo foi encostado e passou a disputar amistosos.
Na época, o supervisor do Coritiba era Almir de Almeida, que tinha boas relações com o Fluminense, e indicou Jairo ao presidente Evangelino Neves. “Ele chegou para mim e disse: você não quer ir para o Coritiba?”, lembra. O goleiro nem pensou duas vezes. Foi assim que começou a história de Jairo com o time do Alto da Glória.
Coração
“N&ati,lde;o tem nem como ser de outra maneira. Eu sou Coritiba. Doze anos de minha carreira foram lá, meus melhores momentos foram lá, bati recordes lá, então eu sou Coritiba. Agora, embora não tenha ficado o mesmo tempo em que fiquei no Coritiba, eu também levo o Corinthians no coração. Então, diria que são Coritiba e Corinthians. Olha que fiquei no Fluminense quase o mesmo tempo em que fiquei no Corinthians. Mas eu não o coloco na mesma categoria. Apesar de minha carreira ter começado a deslanchar por lá, e eu ter me aperfeiçoado e muito por lá, a forma como eu saí, aquela história do Zagallo, tudo aquilo me deixou magoado.”
Carreira
“Eu nasci no dia 23 de outubro de 1946. Fiquei no Caxias de 1965 até 1969, quando fui para o Fluminense. Encerrei a carreira em 1991 no Trespontense-MG, onde fiquei apenas seis meses. Antes eu tinha jogado pelo Atlético de Três Corações e por pouco não acabei ficando naquela cidade mineira. Saí do América-MG, onde fiquei de 1988 e 1989, e gostei muito daquele lugar. O pessoal era maravilhoso comigo. Os diretores do Atlético queriam que eu encerrasse a carreira por lá e virasse político. Eles queriam que eu fosse candidato a vereador, mas acabei indo para Três Pontas, e acabou ali.”
Solidariedade
No dia 11 de maio de 1980, Jairo era goleiro do Corinthians, que perdeu para o Coritiba por 1 x 0, no Couto Pereira. O presidente Vicente Matheus acusou publicamente Jairo de ter falhado no gol. Na rodada seguinte, o Timão venceu o Grêmio de Porto Alegre por 5 x 0 e, como prova de solidariedade, a cada gol marcado, os jogadores corintianos atravessavam o campo para abraçar o companheiro e comemorar o gol com ele. Ele voltou ao Coritiba e sua última apresentação pelo time do Alto da Glória foi no dia 31 de maio de 1987, cinco meses antes de completar 40 anos.
Trairagem
No Coritiba, Rafael ironizou publicamente Jairo, quando o clube perdeu um Atletiba por 2 x 1. Resultado: apanhou da muralha negra.
Paredão
Jairo estava na Seleção Brasileira, naquele polêmico jogo contra o Uruguai, em 1976. Foi ele quem salvou Rivellino de apanhar de Ramirez.