O verdadeiro Leão

Felix Lezcano ainda é admirado pela torcida em Mandaguari

Manhã de domingo. Dia 31 de agosto de 2014. O campo do Country Clube de Maringá foi dividido em três campos, nos quais seis times correm em busca da vitória como se ela fosse a coisa mais importante de suas vidas. Naqueles minutos, era para senhores com idade entre 50 e 70 anos. Na arquibancada, torcedores improvisados, jogadores da rodada seguinte, fazem comentários interrompidos por piadas e brincadeiras: “Quero-quero, joga direito! Olha lá! O que ele pensa que está fazendo?”. A brincadeira acaba quando um senhor de baixa estatura, de camiseta esportiva vermelha, preta e branca e de seriedade ibérica se aproxima. “Bom dia Dom Felix Lezcano!”. O velho responde com forte sotaque espanhol e fica observando o campo de futebol.

Aos 87 anos, Felix Lezcano sofre do Mal de Alzheimer, uma doença que afeta paulatinamente a memória. No entanto, ele ainda aparenta ser um homem forte, sério, altivo, orgulhoso e educado. Todos ao redor sabem que se trata de uma lenda do futebol paranaense. Ele contempla o campo de futebol. Não esquece que aquele foi o seu território. Conviveu com craques jogadores. E ajudou a escrever as melhores páginas do futebol do Norte do Paraná, quando este rivalizou e por alguns anos sobrepujou as fortes agremiações do sul do Estado.

Felix Lezcano, que jornais da época também escreviam Lescano, Lescanho ou Lescagno, foi maestro da equipe vencedora do Mandaguari Esporte Clube, campeão do Norte do Estado em 1960, depois de sobrepujar o Comercial de Cornélio Procópio em três partidas. A primeira no dia 12 de março de 1961, o Comercial venceu por 1×0. Mas as duas seguintes, respectivamente nos dias 15 e 19 do mesmo mês, foram vencidas pelo time azul anil, pelos placares de 3×0 e 2×0. Lescano era o leão do Leão do Norte, como o Mandaguari era conhecido.

Ídolo

Para os torcedores do Mandaguari, até hoje, Dom Felix é um herói. E quando seu filho Felix Daniel o leva de Maringá para a cidade vizinha, ele é rapidamente abordado pelos que o viram jogar e admirado por aqueles que conhecem a sua história. Alguns recordam que ele entrava em campo todo alinhado e saia com os cabelos desgrenhados de tanto correr em campo. “Ele era um leão em campo”, diz o filho Felix Daniel. Outros recordam de uma cena ocorrida quando o Mandaguari conquistou o título de campeão do Norte: as autoridades locais queriam que o time desfilasse pela cidade em um caminhão para receber a ovação dos torcedores. Lescano, no entanto, pediu para os jogadores irem a pé pelas ruas da cidade, para abraçar o povo, porque o título também era deles.

Há os que recordam que ele treinava um período e em outro dava meio expediente em empresas para reforçar o orçamento. Uma destas empresas era uma pedreira na entrada de Mandaguari, em cujo escritório ele prestava serviços. Por tudo isto ele ainda hoje é considerado o maior craque da cidade. Do tempo em que a Mandaguari tinha um grande time. Lescano ainda jogou mais alguns anos, depois da decisão de 1960, sempre com a camisa do Mandaguari. Mas já era veterano. Alternou banco de reservas com partidas, até pendurar as chuteiras definitivamente. E, hoje, mora em Maringá. Ele tem cinco filhos, uma nascida na Colômbia, uma no Paraguai e outros três em Mandaguari, todos com Dona Sara. Os filhos lhe deram 13 netos e dois bisnetos.

História

Na realidade, existem dois Felix Lescano: o paraguaio e o brasileiro. A história do primeiro começa em dia 18 de maio de 1927, em Assunção, numa região ocupada por trabalhadores na erva-mate e em indústrias madeireiras.

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