O ano de 1981 seria um dos mais irônicos na carreira do atacante Itamar Bellasalmas. Depois de quatro anos no Grêmio de Maringá, ele foi vendido para o Colorado Esporte Clube, da capital paranaense. “Estava tudo certo entre os clubes e em janeiro eu cheguei a Curitiba, me apresentei, vesti a camisa do Colorado, posei para foto, mas faltou um detalhe para assinar: quem ia me pagar os 15 por cento aos quais eu tinha direito?”, conta Itamar. O presidente do Colorado, Aziz Domingos, queria Itamar, agora um veterano, para ser campeão da temporada. Mas não falou nada em pagar os 15 por cento. Como o Grêmio também não pagou, Itamar disse: “Depois de velho não vou tomar balão”. E voltou para Maringá onde morava.
Em Maringá, Carlos Coelho e Navarro Mansur, diretores do Grêmio de Maringá, diziam que era o Colorado que tinha de pagar. E o Grêmio já tinha recebido o dinheiro do Colorado. “Como ninguém assumiu o pagamento eu sumi. Era época de Carnaval. Eu fui para São Carlos, no interior de São Paulo, que era a cidade de minha família”, diz Itamar. “Aí o presidente do Londrina Esporte Clube, o Jacy Scaff, entrou em contato comigo dizendo que queria me contratar. Ele me contratou em março, pagou a minha parte e também pagou o Grêmio que deve ter acertado com o Colorado e assim eu fui para o Londrina”, acrescenta ele. “Quando eu cheguei, o Londrina estava numa situação terrível no campeonato, não ia bem”, diz Itamar.
Além disso, o Colorado havia pedido a suspensão do contrato do atacante e para jogar no Londrina, ele teve que esperar trinta dias até regularizar a situação. “Quando eu fiquei livre para jogar, o Londrina precisava ganhar três partidas para sobreviver na competição. Ele não estava bem. A situação era crítica. A gente dizia que tinha que passar pelos três Cês. Que eram o Coritiba, o Cascavel e o time de Cambará, que era o Matsubara. Ganhamos dos três. E estas vitórias motivaram o Londrina, o time cresceu no campeonato e fomos decidir o título justamente contra o Grêmio de Maringá. O time não tinha dinheiro. Viajávamos no dia do jogo para não ficar em hotel. No primeiro jogo da decisão, viajamos no dia, almoçamos em Apucarana. Chegamos e ganhamos o primeiro jogo em Maringá por 3×2 no dia 22 de novembro no estádio Willie Davids e depois ganhamos o segundo jogo no outro domingo, no dia 29 de novembro, em Londrina por 2×1 no estádio do Café. E fomos campeões. Eu sou o único jogador que foi campeão paranaense pelo Grêmio e pelo Londrina e ainda por cima jogando uma final entre os dois times, aqui e lá”, diz ele. E o Colorado terminou o campeonato em oitavo lugar.
Cigano no banco do Tubarão
Depois de conquistar o título estadual de 1981 com a camisa azul e branca do Tubarão, Itamar ficou vinculado ao Londrina por mais duas temporadas. Até 1983, embora tenha disputado o campeonato de 1982 pelo Paranavaí. Quando terminou a temporada ele voltou para Londrina. Foi aí que inesperadamente ele virou técnico, embora reconheça que já em 1981 quando estava no banco de reservas já estava ajudando o técnico Urubatão Calvo Nunes a mexer no time. “O Jacy Scaff, que foi um pai para mim e me considerava como um filho, estava numa situação que precisava vender os melhores jogadores do Londrina – Carlos Henrique, Luiz Gustavo, o Márcio Alcântara e outros. Ele precisava fazer dinheiro e também precisava reformular o time”, conta Itamar.
Na realidade, segundo reportagem da revista Placar de 8 de julho de 1983, a situação do Tubarão era simplesmente desesperadora. Depois de uma campanha cheia de altos e baixos na Taça de Prata, na temporada anterior, o clube estava com dívida enorme que chegava a 100 milhões de cruzeiros. O time vendeu Toninho, Gustavo e Paulinho para o Santos e Márcio e Carlos Henrique para o Palmeiras. E, mesmo assim, não tinha dinheiro para contratar reforços e tampouco um técnico de renome, porque ficou ainda um bom volume d,e dívida para ser rolada para frente. Itamar conta qual foi a solução do Londrina: “Então o Jacy me pediu para assumir o comando do time como técnico. Era para fazer uma campanha para não cair. Eu aceitei o desafio. Pedi apenas para deixar uns cobras criadas para dar segurança para os meninos. Ficaram o Neneca, o Zé Dias e o Zequinha e mais alguns. Eu subi onze meninos do time júnior. A campanha até que foi boa e o investimento foi ótimo”, conta Itamar.
A Placar resumiu: “Londrina com raça e coração”. Na realidade, a solução contagiou a cidade que chamou o time londrinense de “Meninos do Itamar”. Podiam não ter experiência e não serem grandes craques, mas não faltava vontade, raça e entrega. O diretor de futebol do Londrina Carlos Scalassara explicou a escolha de Itamar para dirigir o Tubarão: “Ele foi um bom jogador, dentro e fora de campo. E teve uma carreira longa, onde trabalhou com muitos técnicos bons no Palmeiras e no São Paulo. Demos um voto de confiança a ele e estamos sentindo-nos recompensados”.
Mais recompensado sentiu-se Itamar depois que os seus meninos jogaram contra o forte Coritiba no Estádio do Café e conseguiram com um empate sem gols segurar o Coxa – que tinha em suas fileiras Gardel, Aladim, Freitas, Lela e outras feras. O técnico Osvaldo Brandão, um dos maiores do futebol brasileiro, se aproximou de Itamar e disse: “Você está de parabéns. Sua equipe é taticamente muito disciplinada e tem uma disposição de fazer inveja”. Foi o batismo de fogo.
E foi assim que o atacante pendurou as chuteiras de jogador e continuou no futebol agora à beira do gramado. “Fiquei como técnico em Londrina até setembro de 1983. Aí eu sai pro mundo”, diz Itamar que virou técnico, profissão que desempenhou de 1983 até 2010. Ele perdeu a conta de quantos times dirigiu por este Brasil afora. Embora tenha sido técnico por dezessete anos, as lembranças mais fortes ainda são do tempo em que era goleador. “O que fica na memória é o cara como atleta”, diz ele.