Craque Tostão foi um ídolo Coxa-Branca

Tostão estreou no Coritiba no dia 26 de janeiro de 1986 contra o Apucarana que, curiosamente, também tinha um meia chamado Tostão. O Coxa ganhou por 4 x 2. No primeiro Atletiba no dia 2 de fevereiro do mesmo ano ele fez o que é considerada uma de suas melhores jogadas: ele aplicou três dribles entre as pernas de seus marcadores e chutou por cima do goleiro Marolla, que ainda defendeu com a ponta dos dedos. No entanto, como o técnico do Coxa era Leão, linha dura e que aplicava exercícios rigorosos, Tostão começou a ter dificuldades.

“Eu vim para o Coxa na primeira quinzena de 1986, para reforçar o time que ia disputar a Libertadores. Na realidade, o Coritiba contratou todos os 11 jogadores para o torneio. No entanto, no começo, foi muito difícil para mim”, conta Tostão. “Em Belo Horizonte, eu estava acostumado com maior ênfase na parte técnica e aqui encontrei um clima de maior preocupação com a parte física”, diz ele. O resultado foi que “eu comecei a sofrer. Meu corpo doía. Eu fiquei quatro a cinco meses com dores no corpo. Eu simplesmente não conseguia jogar por estar com dores de tanto fazer exercícios físicos”.

A coisa só mudou quando o técnico Leão foi embora e chegou um novo treinador, em maio de 1986. Este era Valdir Spinoza. “Ele me conhecia do Cruzeiro e perguntou o que estava acontecendo e eu disse: não aguento mais fazer tantos exercícios. Aí ele maneirou, eu ficava correndo, dando aquele migué, e foi então que, livre das dores, eu comecei a jogar. E quando chegamos ao quadrangular do campeonato de 1986, eu decidia todos os jogos. Fomos campeões do segundo turno. E fomos decidir contra o Pinheiros. Ganhamos na Vila Olímpica por 1 x 0 e no Couto por 3 x 0. Eu fiz o gol na Vila e o segundo no Couto”, diz ele, que finalmente começou a engrenar no Alto da Glória.

Em 1988, começou a nascer o time de 1989. “O Edu, irmão do Zico, aprimorou o time de 1988 e fomos campeões. Aquele foi um grande time do Coritiba. E nós tínhamos tudo para ser os campeões brasileiros, estávamos sempre entre os primeiros, o campeão foi o Vasco, que a gente tinha derrotado. Aí veio aquele caso do Santos e complicou tudo”, relembra.
Com a camisa do Coxa, Tostão fez 48 gols. Tostão deixou o clube em 1992.

Duas fases atleticanas

Embora seja um dos grandes ídolos do Coritiba, Tostão teve duas fases atleticanas – uma logo no começo da carreira profissional e a segunda exatamente no fim da carreira. Uma antes e outra depois de passar pelo Coxa. “Em 1977, antes de sair do Santos e ir para o Goiás, era para eu vir para o Atlético Paranaense. Estava tudo certo. Eu vim, fiz teste, fui aprovado. Mas, na hora de assinar o contrato, aquilo que foi combinado por telefone, não era o que estava no contrato. E por isso não houve acordo”, diz Tostão. Resumo da ópera: ele foi para o Goiás.

A outra fase atleticana já foi no final de carreira, no segundo semestre de 1992. Com o fim de seu contrato no Coritiba, ele aceitou o convite do ponta-direita Carlinhos Sabiá, que havia jogado com ele no Cruzeiro, para reviver a parceria no Atlético Paranaense. “No segundo semestre de 1992, eu disputei o estadual pelo Atlético. Fomos bem. Perdemos a semifinal para o Londrina nos pênaltis”, diz Tostão. Foram seis meses, sete gols e uma surpresa: dos sete gols, três foram parar no Gol do Fantástico. O gol mais bonito que ele marcou com a camisa do Atlético foi em Cambará, numa vitória por 2 x 1. “O lateral esquerdo virou o jogo, aí eu dominei no peito e já bati de primeira”, relata Tostão. Bola no fundo da rede. Um gol de placa. Uma curiosidade da passagem de Tostão pelo Rubro-Negro é que Carlinhos Sabiá, que convidou o meia para jogar no Atlético, acabou indo embora e a dupla não foi revivida na Baixada.

Comprando no escuro

“O time do Cruzeiro da época (1982) tinha 140 jogadores. Se alguém aparecia fazendo gol na TV, os caras compravam sem saber se o cara era bom ou não. De repente tinha um sujeito bom no, Ceará e ele aparecia no Cruzeiro. Hoje a coisa é diferente, tem dossiê, os caras pesquisam um pouco mais. Naquela época, se o cara fazia gol bonito e aparecia no Fantástico, no outro dia os clubes mandavam chamar ele. Aí o cara fazia uma partida razoável, na outra não ia bem e acabava sendo encostado”.

Ídolo de Alex

Para a nova geração ter uma ideia da bola que Tostão jogava e da importância de seu futebol, basta dizer que o meia Alex, do Coritiba, já declarou várias vezes que seu estilo de jogo foi inspirado em Tostão.

Tostão, um craque

Allan Costa Pinto
Tostão fez história com a camisa do Coritiba e também do Cruzeiro.

No dia 7 de dezembro de 1966, uma quarta-feira, o Cruzeiro perdia para o Santos por 2 x 0, quando o juiz apitou uma falta para o time mineiro: Tostão cobrou com maestria e diminuiu a vantagem santista. Dirceu Lopes e Natal ampliaram e decretaram a vitória do Cruzeiro pela Taça Brasil, em pleno Pacaembu. No dia 27 de setembro de 1970, o Santos vencia o Cruzeiro no Mineirão diante de 50 mil pessoas, quando houve outra falta para o Cruzeiro. Tostão foi lá, bateu e empatou a partida. Estas cobranças de falta de Tostão ficaram na cabeça dos garotos de Santos. Bater falta daquele jeito era coisa de craque. E foi o que fez o garoto Luís Antonio Fernandes, de 13 anos, do Brasil Futebol Clube, do bairro de Macuco, em Santos, num domingo de 1970. Ele foi encarregado de bater a cobrança numa área do campo semelhante àquela em que Tostão marcou o seu gol. Ele tomou distância, cobrou, a bola entrou na gaveta. Igualzinho a cobrança de falta do craque mineiro.

Em vez de gritar gol, os colegas de equipe saíram berrando: “Tostão, Tostão, Tostão”. E Luís Antonio, depois daquele dia, nunca mais foi Luís Antônio. Nasceu naquele domingo um novo Tostão. Esta história tinha tudo para ser mais uma brincadeira de criança, se este Tostão não tivesse ido para o Santos, justamente o adversário do Cruzeiro, e alguns anos depois ido parar justamente no Cruzeiro. O time em que o primeiro Tostão era ídolo absoluto, sagrado e incontestável – e a mesma coisa se podia dizer de seu nome. “Quando eu cheguei ao Cruzeiro, havia uma grande resistência não comigo, mas com o fato de eu usar o nome do maior ídolo do time, em todos os tempos. Eles achavam que Tostão só havia um”, confessa Tostão, aquele que foi o garoto de Santos. Então, para sacramentar de vez que o parentesco entre o primeiro e o segundo não estava somente no nome, Luís Antonio estreou pela Raposa num clássico contra o Galo. Batismo de fogo para derrubar qualquer um. Mas Tostão tinha DNA de craque: foi para campo e meteu dois gols no empate de 2 x 2. O primeiro de pênalti e o segundo empatando a partida. No dia seguinte, o segundo Tostão sabia que podia usar o nome do primeiro. Os jornais destacavam: “Tostão voltou, Tostão voltou”. O técnico do Cruzeiro era o polêmico Yustrich e o do Atlético, Carlos Alberto Silva. Uma curiosidade deste jogo realizado no dia 2 de maio de 1982, diante de 60 mil pessoas: foi a primeira vez que Nelinho, ídolo histórico do Cruzeiro jogava com a camisa atleticana. E foi a primeira vez que o Cruzeiro jogou com Tostão II. Foram duas estreias antológicas.

Fim de carreira

“Quando eu parei de jogar, ainda tinha futebol para mais um ou dois anos. Mas eu preferi parar porque nesta altura da carreira, é difícil o jogador atuar nos clubes grandes e os pequenos não pagam direito. Então você sai de casa, vai trabalhar e não ganha. Achei que isto não fazia sentido e que se fosse para jogar sem ganhar, eu preferia ficar com minha família. E foi o que eu fiz”.

Altos e baixos no Brasil Central

“Eu fiquei dois anos no Goiás. Nos primeiros seis meses, em 1978, participei de apenas duas partidas. Um jogo contra o Santos em que o nosso time perdeu de 3 x 0, pelo Campeonato Brasileiro. E o segundo foi na última rodada contra o Goytacaz. Ganhamos de 4 x 0 e eu fiz dois gols”, relata Tostão, que ainda atuava como centroavante. “Aí, o Ailton do Goiás, foi vendido e eu entrei no lugar dele”, diz. Começou a jogar de meia-direita. Foi então que as coisas começaram a acontecer. “Eu fui vice-artilheiro do campeonato goiano com 29 gols e o nosso time foi vice-campeão”, diz. Ele estava otimista, mas no ano seguinte, em 1979, mudou tudo no Goiás: diretoria, time e treinador.

No começo do ano ele não era titular. Entrava no segundo tempo e ainda assim fez 14 gols. E no ano seguinte, parecia que sua carreira pegou um viés de baixa: ele foi parar no Mixto de Cuiabá para disputar o Campeonato Brasileiro. Foi aí que as coisas começaram a engrenar. “Eu fiquei no Mixto em 1980, 1981 e metade de 1982”. Foi bicampeão do Mato Grosso e artilheiro do time nos dois anos. Sem contar que, finalmente, estava jogando na posição em que mais se encaixava, a de meia-direita, “vindo de trás para fazer a jogada”. Como o Mixto começou a fazer bons jogos pelo Campeonato Nacional, os chamados times grandes começaram a ficar de olho em seus jogadores, como o centroavante Bife e o meia-esquerda Pastoril, que fizeram sucesso no Vasco da Gama.

Tostão lembra bem estes tempos: “Era um time muito forte e, além disso, a gente tinha um aliado: o calor de Cuiabá. Não era fácil enfrentar um time como o nosso com aquele calor de 40 graus. E foi ali no Mixto que eu apareci no mercado”, confessa Tostão. Apareceu e convenceu da maneira mais inesperada. O Cruzeiro foi jogar contra o Mixto no dia 31 de janeiro de 1982 no estádio Verdão e levou um chocolate de 4 x 2. “Eu marquei três gols”, conta. Além de uma atuação considerada pela crônica local como espetacular, aliás um dos melhores jogos da história do alvinegro de Mato Grosso, esta partida é considerada a que projetou Tostão para o futebol brasileiro.

A diretoria do Cruzeiro ficou tão impressionada que depois do jogo contratou o meia do Mixto. “Os caras me negociaram depois da partida, foram conversando no caminho para o aeroporto e compraram no aeroporto, antes de ir embora para Belo Horizonte”, revela. Isto foi em janeiro. Tostão ainda ficou no Mixto até terminar a participação do clube cuiabano no Campeonato Brasileiro. Ele chegou em Belo Horizonte no final de abril.

Fase mineira

A estreia de Tostão com a camisa do Cruzeiro aconteceu no dia 2 de maio de 1982 contra o Atlético Mineiro, no Mineirão, no empate em dois gols – ele fez os dois gols. “Houve antes desta estreia um jogo em Montes Claros, nós ganhamos, mas foi uma partida para o time pegar ritmo. A verdadeira estreia seria neste torneio contra o Atlético Mineiro”, conta Tostão. Em seguida, o time foi para a Europa participar de uma temporada de verão.

Tostão recorda que foram três torneios: Santander, Valladolid e Zaragoza. “Nós ganhamos todos eles e eu fiz seis gols nesta viagem”, diz. Esta é considerada até hoje a maior campanha do Cruzeiro no exterior. O Cruzeiro tinha um time bom com Joãozinho, Palhinha, Seixas e Tostão encaixou como uma luva. Os clássicos contra o Galo também eram muito disputados porque no outro lado tinha Reinaldo, Paulo Izidoro e Luizinho. As partidas eram grandes espetáculos.

“Eu fiz muitos gols com a camisa do Cruzeiro. No estadual eu não fazia menos de 25 gols por temporada”, diz Tostão. Ele está na lista dos 14 maiores artilheiros do time mineiro, com 97 gols, de acordo com as estatísticas oficiais. “Eu estava entre os 40 convocados nas eliminatórias para a Seleção de 1986. Quem acabou indo foi o Renato do São Paulo. Eu fiquei no Cruzeiro até o final de 1985, quando eu vim para o Coritiba”, diz ele. No Cruzeiro, foi campeão em 1984 e artilheiro do Mineiro nos anos de 1982 e 1983, além de artilheiro do Cruzeiro no Brasileiro de 1983, 84 e 85.

Atacante por imposição

Tostão começou no pequeno Brasil Futebol Clube e logo foi para as categorias de base do Santos Futebol Clube. Jogava de meia-direita naquele time que veio a ser conhecido como os garotos da Vila, primeira versão. Um grupo que tinha nomes que vieram a se destacar no futebol brasileiro como Juari, Pita, Ailton Lira e Nilton Batata. Um grupo que veio dar título de campeão estadual para o Santos em 1978. “Eu não tive uma evolução com este grupo e isto me prejudicou muito porque eu fui sacado do juvenil precocemente em 1975. Eu subi em 1975, el,es subiram em 1977. Eles subiram com espírito de grupo, entrosamento e acabaram se dando bem. Este grupo acabou sendo campeão em 1978, quando eu já estava no Goiás”, conta Tostão. Mas esta mudança de juvenil para o profissional aconteceu por uma necessidade interna do time de Vila Belmiro.

“Acontece que o Cláudio Adão estava na Seleção e o Santos ia fazer um jogo contra o Vitória, na Fonte Nova, pelo Campeonato Brasileiro. Era segundo semestre de 1975. O time precisava de um centroavante e foram me buscar no juvenil. Eu entrei, marquei dois gols”, recorda Tostão. O técnico Pepe tinha deixado o alvinegro que estava sendo dirigido por Olavo, um zagueiro que jogou no Santos. Ele foi o técnico de Tostão em seu primeiro jogo como profissional. Este jogo aconteceu no dia 26 de outubro de 1975, na Fonte Nova, pela repescagem do Campeonato Brasileiro daquele ano. O Santos ganhou de 3 x 1.

Tostão conta que ainda jogou mais umas duas partidas como profissional pelo Santos. “Com isto, me profissionalizei. Mas quando o Cláudio Adão voltou da Seleção, eu fui para a reserva”, diz ele. Ele ainda jogou no empate sem gols no dia 29 de outubro contra a Portuguesa de Desportos na Vila Belmiro e na goleada de 5 x 1 contra o Campinense, no dia 1 de novembro, também na Vila Belmiro. No entanto, o que parecia ser um bom negócio acabou não sendo. “Eu tive poucas oportunidades na reserva do time profissional. Fiquei dois anos e não jogava”, diz ele. Cláudio Adão era considerado o sucessor de Pelé. “Todo jogador moreninho que aparecia no Santos com o perfil de Pelé era chamado de novo Pelé”, diz Tostão. Isto aconteceu com Cláudio Adão. Ele voltou, assumiu a posição titular e um ano depois, ele foi embora. Vieram outros e Tostão continuou na reserva.

Transferência

Em 1977, ele continuava na reserva e então ele pediu para sair. “Então eu pedi para a diretoria me colocar no mercado. E foi assim que eu acabei indo para o Goiás, onde cheguei e também comecei jogando de centroavante. Saí com 20 anos”, diz Tostão.

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