A Copa do Mundo de 1970 foi conquistada pelo Brasil em meio a grande repressão política interna do governo militar. Até a troca do técnico João Saldanha, que era comunista, teve o dedo do general Emílio Garrastazu Médici, que era presidente e queria meter o centroavante Dario do Atlético Mineiro no time verde-amarelo. Saldanha mandou recado: “O presidente escala o ministério dele e o meu time quem escala sou eu”. Médici escalou o ministério e o time. E quem pegou a banquete servido por Saldanha foi Mário Jorge Lobo Zagallo. Foi Saldanha quem convocou Ado. E quando ele caiu, o goleiro do Corinthians foi mantido por Zagallo como reserva imediato de Félix.

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O curioso é que um terceiro goleiro foi convocado: Leão, do Palmeiras. Até 1970, a Seleção tinha dois goleiros: o titular e o reserva. Foram Félix e Ado que tiveram a ideia de sugerir a convocação de um terceiro, para o caso de um dos dois ficar machucado e o Brasil não ficar com apenas um goleiro na competição. Os dois foram recepcionar Leão no aeroporto. Leão passou pelos dois e não aceitou o aperto de mão que ofereciam. Leão estava emburrado porque achava que ele devia ser titular.

Ado recorda o período. “Na véspera da Copa do Mundo no México era a época de repressão no Brasil. A nossa comissão técnica da CBD era toda militar. Havia nomes como o capitão do Exército Cláudio Coutinho e do brigadeiro Jerônimo Bastos. Foram meses difíceis. Quando saímos do Brasil, passamos por Brasília e nos foi dito que teríamos de ganhar a Copa para apaziguar a situação do Brasil. Aquilo me deixou constrangido porque eu pensei: quem somos nós para resolver o problema do País?”. Mas o Brasil ganhou: “Voltar com a Taça Jules Rimet foi uma loucura. Graças a Deus, ganhamos. Não sei se foi bom para o Brasil, pois nossa conquista enganou o povo com festa, e o brasileiro gosta disso. Mas também penso que, caso contrário, poderia ter acontecido o pior com a gente e com o País. O título apaziguou um pouco. A derrota poderia aumentar os conflitos”, contou o ex-goleiro da Seleção em abril deste ano ao repórter Eduardo Bucholz, do Diário do Nordeste.

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Futebol e sexo

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O sucesso de Ado no Corinthians e na Seleção atraiu uma multidão de mulheres. Até a atriz Leila Diniz procurou Ado para conhecê-lo.