No começo de 1968 o técnico do Coritiba, Hélio Alves, ligou para o quarto-zagueiro Roderley em Maringá e disse: “Eu quero você no Coritiba. Precisamos de alguém para encarar os caras. Chega de ser bonzinho. Precisamos de um cara malvado, precisamos de bandidos”. Quem conta a história é o próprio Roderley, que nos anos anteriores conquistara a fama de melhor quarto-zagueiro do Paraná.

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Foi assim que ele foi para o Coritiba nas primeiras semanas de 1968. Esta história ele contou na varanda de sua casa no Jardim Acema, em Maringá, no dia 30 de agosto deste ano, um sábado. “Só que quando eu cheguei, o Hélio Alves disse que me queria jogando mais adiantado, como um meio-campo de apoio”, acrescentou. E foi jogando nesta posição que ele estreou com a camisa do Coxa no dia 18 de fevereiro de 1968. O Santos vinha com time completo. Mas Pelé acabou não jogando. De qualquer forma, o resultado não podia ser melhor e chegou a surpreender: 3×1. Para o Coritiba.

Os gols foram marcados por Antoninho de pênalti aos 12 minutos do primeiro tempo, Oromar de falta aumentou aos 27 minutos ainda da primeira etapa. No final do segundo tempo Toninho Guerreiro diminuiu para o Santos, mas ainda deu tempo para Walter fazer o terceiro aos 48 minutos. Sobre o estreante Roderley, a Tribuna registrou: “Mostrou adaptabilidade na nova posição de médio volante e muitas alegrias ainda dará ao Coritiba”. Na estreia do Coritiba no Belfort Duarte, pelo campeonato, no dia 7 de março, o técnico Hélio Alves também estava em dúvida se escalava Kruger ou Kosilek – ou os dois. Mas em campo, Roderley acabou fazendo dois gols e Kosilek o terceiro. Roderley achou seu lugar no time do Alto da Glória naqueles anos, quando o Coritiba reencontrou o caminho dos títulos em 1968 e repetiu a dose no ano seguinte.

“Eu me considero quatro vezes campeão estadual”, diz Roderley. ‘Duas pelo Grêmio Maringá, porque no primeiro título eu não estive em campo, mas já tinha assinado com o clube, e duas com o Coritiba”, diz Roderley. O Coxa também proporcionou ao jogador algumas alegrias como a excursão para a Europa, durante a qual ele fez o que considera o melhor jogo de sua vida. E o jogo ao qual Roderley se refere aconteceu no dia 8 de agosto de 1969 contra o Borussia, em Dortmund, diante de 35 mil pessoas, partida transmitida pela televisão para toda a Alemanha.

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“Perdemos o jogo na sacanagem do juiz. Ele meteu a mão descaradamente no nosso time. A bola bateu no ombro do Nico e ele deu pênalti e no final não deu dois pênaltis a nosso favor. O time deles tinha dois jogadores da seleção alemã. Eu chutei duas bolas na trave. Foi a melhor partida de minha vida”, conta Roderley. A coisa ficou tão feia que Munir Calluf, diretor do Coritiba, foi ao vestiário tirar satisfação do juiz e acabou suspenso pela Fifa. Roderley conta que nesta excursão ocorreu um episódio enquanto os jogadores estavam no hotel e passavam algumas alemãs bonitas. “Os caras começaram a mexer com as moças. Eu disse: gente, cuidado! Vocês ficam mexendo com as meninas. Vocês vão acabar encontrando uma que fala português”, contou ele.

“E não é que levantou um alemão com cara de alemão e falou em português pra mim: você é um cavalheiro”, conta Roderley. Os outros levaram o maior susto. “O sujeito era alemão, mas trabalhou durante vinte anos no Brasil. O nome dele era Herbert Meyer”, contou Roderley. “Ele disse que depois daquele jogo contra o Borussia, o time alemão queria me contratar. Juro pelos meus olhos que o Borussia queria me contratar. E até hoje não sei por que o Coritiba não se interessou em me vender”, diz ele.

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