O Grêmio Esportivo Maringá começou o ano de 1966 como o principal esquadrão do futebol paranaense. Era bicampeão estadual, levou pela terceira vez o título do Norte e ia decidir com o Ferroviário de Curitiba a temporada de 1965. Os torcedores colorados estavam apreensivos, nenhum torcedor alvinegro estava pessimista. O Galo do Norte, como o time era conhecido, começou a pré-temporada empatando no dia 16 de janeiro, domingo, com o Palmeiras no Willie Davids.

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O alviverde estava com seu time completo. No dia 30 de janeiro, o Grêmio enfrentou o Rapid de Viena numa partida emocionante. O time de Maringá fez dois a zero com Edgard e Célio e o pentacampeão austríaco diminuiu com Sripschi. Na etapa complementar, o time austríaco surpreendeu e em poucos minutos empatou com Sripschi e virou com Hasal. O Grêmio reagiu e empatou e virou.

No entanto, no dia 13 de fevereiro, o Grêmio faria aquela que seria considerada uma das maiores façanhas de sua história – venceu em Maringá a União Soviética, que vinha de três vitórias sobre Atlético-MG, Cruzeiro e Uberlândia. As duas primeiras vitórias deram ao escrete soviético o título de um torneio que também contou com a presença do Flamengo. O Grêmio abriu o marcador através de Luiz Roberto, aos 13 minutos do primeiro tempo, aproveitando rebatida do goleiro Lev Iashin, o lendário Aranha Negra. O Grêmio ampliou através do avante Edgard, aos 20 minutos, depois de uma tabela com Célio.

O Grêmio achou que tinha liquidado os russos e não contou com a reação vermelha. Ainda no primeiro tempo, aos 27 minutos, Shesterniev aproveitou vacilo da defesa e diminuiu depois de vencer o goleiro Maurício que nada pode fazer. Aos 42 minutos, Banischeviski empatou. No começo do segundo tempo, aos 13 minutos, Célio acertou uma bomba. Iashin não segurou e deu rebote para Edgard fazer o terceiro – o da vitória maringaense. A Tribuna registrou no dia seguinte: “Um belo gol que ficará na história do futebol paranaense”. A cidade de Maringá ficou eufórica.

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O público foi de 20 mil pessoas e a renda registrada foi de 63 milhões, mas a Tribuna assinalou: “Como houve venda antecipada de entradas calcula-se que a renda total tenha chegado à casa dos 100 milhões de cruzeiros”. Para ter ideia do que esta importância significava, basta dizer que quatro dias depois o Coritiba Foot Ball Clube contratou dois jogadores do Britânia, Krüger e Antenor, por 20 milhões de cruzeiros. A Tribuna deu de manchete: “Grêmio honrou o futebol bicampeão do mundo”. E assinalou que o “espetáculo ficará na história do esporte paranaense”. O então governador Paulo Pimentel enviou telegrama: “Peço, amigo Navarro (Mansur, presidente do Grêmio), que cumprimente aos atletas do Grêmio, leve meu abraço pessoal pela vitória magnífica do próprio futebol brasileiro nas terras araucarianas. Desejo, ainda, que sintam nesta manifestação, o calor do interesse com que acompanhei o impressionante feito esportivo internacional, conquistado pelos rapazes do Grêmio”.

O goleiro Maurício Gonçalves, considerado pela crônica esportiva ao lado de Edson Faria, Roderley, Edgard, Célio e Haroldo, destaques do Galo do Norte neste jogo, recorda que tirou uma foto ao lado do goleiro Iashin, a lenda do futebol mundial. “Era um gigante. Eu fiquei ao lado dele e minha mão tocava na cintura dele. Eu fiquei com esta foto por muito tempo. Até um fotógrafo de Londrina me emprestar para fazer uma reprodução e ficar de devolver. Ele não me devolveu e pior, eu nem lembro o nome do rapaz”, disse ele. Todo mundo saiu de campo naquela tarde com a sensação, até justificada, de que o Grêmio era o maior time do Paraná – e assim seria por muito tempo. E que seria tricampeão estadual sem dificuldades em cima do Ferroviário. Foi aí que todo mundo se enganou. Futebol costuma aplicar surpresas. Ela veio exatamente um mês depois. Num domingo. E no mesmo Willie Davids.

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Bons tempos

Ao pensar nos velhos tempos, Maurício lamenta que o fu,tebol de Maringá não tenha sido administrado de forma eficiente, pois tinha tudo para seguir entre os melhores do estado e uma referência nacional. Ele recorda que “naquele tempo tinha muita sacanagem”. Mas, ainda assim, ele acha que aquele futebol era melhor que o praticado hoje. A diferença entre o futebol atual e dos anos 60, para Maurício é que “naquele tempo o jogador sabia jogar bola”. Só isso.