Alma bandeirante

Como técnico, De Sordi montou um time guerreiro

Foi no dia 11 de julho de 1965. Naquele tempo o Campeonato Paranaense era dividido em dois, disputados entre os clubes do Sul e os clubes do Norte, cada qual em sua região. Os campeões das competições regionais disputavam entre si o título da temporada. O União Bandeirante estava apenas começando a sua história – afinal fora fundado alguns meses antes, no dia 15 de novembro de 1964. Mas começava forte. Os comentários eram de que investiu milhões de cruzeiros na contratação de jogadores. Tinha até um que foi da Seleção Brasileira. Nilton De Sordi. No entanto, justamente no dia da estreia do lateral-direito que jogou seis partidas com a camisa da Seleção no primeiro título mundial do Brasil, na Suécia, aconteceu algo raro na história do União: “Tomamos uma goleada de 4×0 do Arapongas”, relembra Serafim Meneghel, fundador e ex-presidente do glorioso alvinegro da Usina Bandeirante.

No dia seguinte, segunda-feira, a edição número 2.594 da Tribuna destacava: “Mesmo atuando com De Sordi e outros elementos que custaram milhões ao Bandeirante, a equipe da Usina foi goleada em sua própria casa pelo Arapongas por 4×0. Vitória categórica dos companheiros de Silvano, que desconheceram o famoso time da Usina. Silvano, Jamil (contra), Nugget e Sabino construíram a goleada”. No entanto, este resultado, raro na história do União Bandeirante, foi um acidente de percurso. O time foi cinco vezes vice-campeão do Estado, teve por quatro ocasiões o artilheiro do campeonato e revelou grandes jogadores como Tião Abatiá, Paquito e Pescuma. E toda esta história tem relação com Nilton De Sordi, pois a maior parte destas estatísticas aconteceu quando De Sordi comandava, como técnico, o time da Usina.

Os torcedores do Norte do Paraná costumam dizer que o União Bandeirante não foi campeão do Estado naqueles anos 60 e 70 porque tinha pela frente o Coritiba em seu auge, com o qual combatia de igual para igual no campo. Mas o time do Alto da Glória tinha um reforço quase invencível: o presidente Evangelino Neves era craque nos bastidores. Serafim Meneghel tentava equilibrar promovendo terrorismo no estádio de Bandeirantes, que os adversários chamavam de alçapão, arapuca, caldeirão e outros nomes ainda mais pejorativos. Jogar no Comendador Meneghel era um sofrimento. Os adversários começavam a suar quando entravam na cidade. Era como entrar numa cidade do Velho Oeste cheia de pistoleiros de caras feias, doidos para sacarem suas armas contra os forasteiros. Principalmente se usassem camisas dos adversários do União Bandeirante.

Se o presidente do clube fazia o gênero espalhafatoso, no banco o técnico De Sordi era comedido. Ele foi técnico do time da Usina por 15 anos. Os melhores da história do União Bandeirante. E nos melhores anos do futebol do Norte do Paraná. Ao vê-lo numa cadeiras de rodas, alguns meses antes de morrer, o frio e rude Serafim Meneghel não se conteve: “Esse mundo é ingrato. Saber que aquele hominho subia mais que o Diamante Negro (Leônidas da Silva), que o Cabecinha de Ouro (Baltazar), um tanto assim e hoje está numa cadeira de rodas”. Realmente, Serafim, o mundo foi irônico com Nilton De Sordi. Deu a ele uma glória amarga.

Arquivo

Mas e os tiros do Meneghel?

“Esse negócio de o Serafim Meneghel (ao centro) ter atirado na bola era folclore. Eu nunca o vi dar um tiro com aquele revólver”, disse Tião Abatiá.

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