No dia em que o Paraná resolveu disputar uma competição nacional de clubes sem correr o risco de passar vexame, as diferenças foram deixadas de lado e o Atlético Paranaense convocou um goleiro do Coritiba para defender suas cores: Célio Maciel, considerado o melhor do campeonato estadual naquele ano de 1968 e por alguns o craque da competição. Célio envergou a jaqueta rubro-negra, assim como Nilo também do Coritiba e Madureira do Ferroviário. Foi a primeira vez que um clube paranaense assustou os grandes do Brasil. Três anos depois, na primeira edição do Campeonato Brasileiro, desta vez quem estava em campo era o Coritiba. Mudou o time, mudaram as cores, mas o goleiro continuou o mesmo: Célio Maciel.

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Somente as duas participações históricas seriam suficientes para este catarinense de Campos Novos, que nasceu no dia 24 de janeiro de 1940, ser considerados um dos maiores goleiros do Paraná. No entanto, os laços seriam mais profundos. Célio é o goleiro de primeira grandeza que mais clubes defendeu no estado. A sua carreira começou aos 15 anos no Palmeiras de Blumenau. No ano seguinte, em 1956, estava no Cruzeiro de Joaçaba. Tinha dezesseis anos. Em janeiro de 1957, Célio estava no Britânia Sport Club, onde ficou por cinco anos. Embora tivesse chamado atenção de Coritiba e outros, ele se transferiu para o Esporte Clube Floriano, que era o Esporte Clube Novo Hamburgo que mudou de nome por causa da Segunda Guerra Mundial – retomando o nome antigo em 1968.

No ano em que o Novo Hamburgo voltou ao nome antigo, Célio, depois de passar por Internacional e Juventude, retornou ao Paraná – desta vez ao Coritiba, que sempre se interessou por ele. “Eu estava pronto para assinar com o Flamengo de Caxias do Sul, o rival do Juventude, quando meu irmão João Maciel apareceu em casa dizendo que estava sendo enviado pelo Munir Caluf para me levar de volta ao Paraná”, diz ele. “Ele disse que o Coritiba ia montar um timaço. Que a cidade estava fervilhando, todo mundo estava chegando para reforçar os três principais times da capital”, diz Célio. Ele chegou ao Coritiba, fez amizade com o goleiro titular na época – o jovem Joel Mendes -, assumiu a titularidade durante o campeonato de 1968, um dos mais emocionantes do futebol paranaense, foi considerado o melhor goleiro e por alguns o craque da competição e na metade do ano foi emprestado para o Atlético disputar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Fez história ao lado de feras como Djalma Santos, Bellini, Madureira, Sicupira, Zé Roberto e outros.

Como o destino é brincalhão, quando retornou ao Coritiba quatro meses depois, o goleiro amargou a reserva de Joel Mendes que aprendeu alguns macetes com Célio e estava pegando tudo. A amizade não foi prejudicada. Mas como o Santos se interessou por Joel Mendes que foi vendido para o time de Vila Belmiro, não demorou para Célio voltar ao gol do Coritiba como titular. E assim ele jogou cinco anos no Coritiba. Estava no timaço do começo dos anos 70, com Tião Abatiá, Paquito, Negreiros, Zé Roberto, Hermes, Orlando Lelé, Leocádio e outros craques. Fez três excursões internacionais com o Coxa e em uma delas, ao disputar uma bola no Marrocos, involuntariamente Pescuma lhe deu uma cabeçada na mão que arrebentou. Foi a chance do reserva Jairo assumir e se firmar no gol. Em 1973, Hélio Alves levou Célio para o Londrina.

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Depois que o campeonato paranaense terminou, Célio disputou o Campeonato Brasileiro pelo Figueirense em 1973. Ele ainda voltou ao Coritiba, foi emprestado ao Pinheiros, onde ficou de 1974 a 1976. A pedido do técnico Armando Renganeschi que o dirigiu no Pinheiros, Célio defendeu o Colorado em 1977. Coritiba foi campeão e Colorado vice, perdendo apenas uma partida, a primeira, para o Londrina. Célio ainda voltou em 1977 para o Londrina, levado pelo mesmo Renganeschi. E jogou no Colorado em 1978, onde ficou até o ano seguinte, quando foi defender as cores do Iguaçu, de União da Vitória. Em setembro de 1969, ele retornou ao Coritiba, disputou algumas partidas em 1980 e, finalmen,te, encerrou a carreira. Uma carreira de quase 25 anos no gol. E sete clubes paranaenses e alguns títulos no currículo.

Estreia

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‘Eu fui contratado no dia 6 de dezembro de 1967 e cheguei ao Coritiba por esforço do Munir Caluf. Mas, meu primeiro jogo pelo Coritiba foi sem contrato, contra o Ferroviário, no Alto da Glória, por um quadrangular que tinha ainda o Água Verde e o Botafogo do Rio de Janeiro. Foi no dia 14 de janeiro de 1968. Estava 1 a 0 para nós, quando o Humberto, um ponta esquerda do Ferroviário recebeu a bola em profundidade e entrou na diagonal. Eu fui para a bola e ele tentou pular para não se chocar comigo, mas bateu o joelho no meu maxilar, que afundou e fraturou em duas partes”, conta Célio, sobre sua estreia no Coxa.

Driblador

Célio também se notabilizou no dia 10 de julho de 1968, quando driblou três jogadores do Apucarana, um atrás do outro, antes de se livrar da bola. Quem foi à loucura foi treinador Francisco Sarno que advertiu o goleiro. Na excursão do Coxa à Europa, Célio aplicou um drible tão desconcertante num atacante francês, que a torcida local o aplaudiu de pé. Também ficou famosa a bola que foi chutada por um atacante do Atlético Paranaense, em 1974, quando o goleiro vestia a camisa do Pinheiros. “Eu percebi que ia ser encoberto, então de repente eu me virei e tirei a bola da área com uma bicicleta”, conta ele.  

Última partida

A última partida de Célio pelo Coritiba e consequentemente em sua carreira foi disputada no dia 8 de junho de 1980, na vitória de 1 a 0 sobre o União de Francisco Beltrão, pelo Campeonato Paranaense.  

Números

Célio fez 145 jogos com a camisa do Coritiba. Ele é o terceiro goleiro com maior número de partidas pelo clube do Alto da Glória. Foi duas vezes bicampeão estadual – em 68 e 69 e em 71 e 72. Fez três excursões internacionais, em 1969, 1970 e 1972.

Um bom goleiro

“Um bom goleiro precisa de tudo para ter sucesso. Ele precisa de personalidade, algo importante. Ele precisa ter comando. E também não pode descuidar da parte técnica. Um bom goleiro tem que ter boa técnica. O goleiro precisa saber fechar o ângulo, precisa saber diminuir o espaço do atacante. Ele precisa, também, gostar daquilo que faz. Lá de trás, ele tem que comandar. Tem que saber trabalhar com as pernas. Tem que saber dominar a bola e bater bem na bola. Além de tudo isto é preciso trabalho, trabalho e muito trabalho. Eu digo isso não como goleiro que fui durante quase 25 anos, mas como preparador de goleiros que fui durante 25 anos. Era isso que eu pedia aos goleiros que eu treinava.”

Técnica

“O técnico Francisco Sarno sabia como ninguém motivar o seu time. Quando falavam em contratar mais um goleiro, ele dizia: Para quê? Eu tenho os dois melhores goleiros do Brasil. Ele não era um gênio na parte tática, mas usava muito a parte psicológica. Eu acho que o Sarno nem conversava. O que ele fazia era uma verdadeira lavagem cerebral. Depois de ouvir o que ele falava o jogador achava mesmo que era o melhor do Brasil. Era impressionante!”

Carreira de técnico

Célio começou no Coritiba a carreira de treinador de goleiros, que exerceu por mais 25 anos, trabalhando ao lado de técnicos como Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira. Ele estimulou o nascimento dos técnicos Lori Sandri e Levir Culpi.

Momento importante

“Eu vendi meu passe para o Coritiba e não me arrependi. Na realidade, eu agradeço a meu irmão João Maciel que foi me buscar no Rio Grande do Sul. Foi um momento importante na minha carreira”.