Lenda Viva

Caxias brilhou no Colorado e fez “gol no Fantástico”

O ex-zagueiro do Colorado Alceu Mentta, 55 anos, se envolveu com a história do time de uma forma tão curiosa que hoje até as duplicatas assinadas pelo ex-presidente da agremiação estão em sua casa. ‘Se as duplicatas assinadas pelo meu sogro, comendador Enzo Scaletti, fossem executadas, a Vila Capanema seria pequena para pagar a conta’, diz. Scaletti era dono da Bosca Transportadora, que em 1980 tinha mais de 800 caminhões-tanque rodando pelo Brasil. Alceu Mentta, nome de batismo do zagueiro Caxias, herdou um pedaço do ‘crédito’ ao casar com a filha do comendador – a então estudante de Psicologia Esli Scaletti – no começo dos anos 1980, com quem teve dois filhos.

Dentro de campo Caxias não era um fora de série. Era daqueles que davam conta do recado, mas às vezes a torcida pegava no pé. O casamento com a filha do comendador foi bom motivo para a torcida azucrinar o zagueiro quando ele vacilava. Curiosamente, seu melhor momento no futebol profissional aconteceu nesta época. Foi no estádio Joaquim Américo, campo do Atlético, no jogo entre Colorado e Pinheiros. Era dia de chuva, ‘que deixou meio palmo de lama no gramado’. ‘O jogo foi no campo do Atlético, por que o Pinheiros estava sem estádio. O Colorado precisava ganhar ou empatar para passar para a fase seguinte do Campeonato Paranaense’, recorda.

Se perdesse ficava no meio do caminho. ‘Logo aos dez minutos Ramirez correu pela ponta e cruzou forte na área. Eu fui na bola para tirar de cabeça para a linha de fundo, mas o centroavante me deslocou no ar e eu meti a bola de cabeça para dentro do gol’, relembra Caxias. O gol contra enfureceu a torcida do Colorado, que começou a pegar no pé do jogador de seu time: ‘Caxias você veio aqui para dar o golpe do baú’, numa referência ao casamento do jogador com a filha do presidente do clube. Não era o tipo de ‘incentivo’ que ajuda ninguém que precisa se recuperar de um vacilo.

O primeiro tempo terminou, veio o segundo e o gol de empate não saía. A torcida estava enfurecida com o becão que marcou o gol contra. Até que a dois minutos do final o juiz marcou falta na intermediária, contra o Pinheiros. Caxias pegou a bola para cobrar e o atacante Chiquito aconselhou: ‘Manda direto para o gol. Manda para o gol que o jogo está acabando e a torcida está nervosa’. Por outro lado, o técnico Urubatão berrou do banco de reservas: ‘Lança a bola na área. Se chutar para o gol, você não joga mais comigo’. A moral do becão não estava boa. Caxias, em dúvida, olhou de novo para Chiquito. O companheiro ignorou o técnico e insistiu: ‘Chuta pro gol!’. E a torcida berrando que ele deu o golpe do baú. O campo estava encharcado de lama. Tudo aquilo subiu na cabeça do becão, que tomou distância, correu e enfiou o pé. A bola foi parar no fundo das redes.

O jogador ficou maluco. Sua primeira reação foi ir para o banco e mandar Urubatão calar a boca. ‘Eu fiquei tão fera que botei o dedo nos lábios, tipo cala a boca e fui direto para o banco de reservas e encarei o Urubatão’. Caxias também não esqueceu a torcida que pegou no pé dele: ‘Depois eu dei a volta para a torcida com o dedo na boca, pedindo silêncio. Ela me amolou o jogo inteiro’, disse o becão, que foi para casa com a alma lavada. Mas o melhor estava por vir: ‘À noite, eu liguei a televisão e o meu gol foi escolhido o gol do Fantástico’. Aquilo foi a glória.

Para fechar com chave de ouro, graças ao gol de Caxias o Colorado classificou para a fase seguinte do campeonato. Mas a vida deste gaúcho é cheia de curiosidades, algumas engraçadas, como no começo de carreira no Rio Grande do Sul, onde ele foi modelo – um dos primeiros jogadores de futebol a trocar ainda que temporariamente o gramado pela passarela – e outras trágicas, como há alguns anos, quando foi vítima de um tumor cerebral – hemangioma caverno,so -, enquanto dirigia, e que lhe fez ficar 27 dias na UTI. Não fosse o rápido atendimento dos médicos, algo muito grave teria acontecido. Mas Caxias, como no futebol, sobreviveu.

Sogra

Dona Marlene, mulher do presidente Enzo Scaletti, do Colorado, virou ídolo do zagueiro Caxias.

Negócio

O Internacional se interessou pelo futebol de Caxias e fez uma oferta, no mínimo, inusitada. Seu passe custou 50 garrafas de água mineral