A partida de ontem entre Brasil e Croácia ensinou mais uma vez coisa que todo jogador esperto sabe: não adianta ser apenas bom de bola. É preciso ter sorte. O lateral-esquerdo Marcelo estaria hoje crucificado pelo Brasil inteiro como um Judas infame por marcar o primeiro gol desta Copa do Mundo, gol contra, não fosse o Brasil sair vitorioso diante do adversário. O gol contra, como se diz por aí, sai na urina se o time ganha, se ele não faz falta no fim da partida. Como não fez, ninguém falou. Até porque Marcelo só pisou na bola ali e lutou bastante. Enfim, ajudou a seleção a passar pelo primeiro adversário. E que adversário! A Croácia jogou um bolão, foi osso duro de roer – ou o Brasil ficou devendo.

continua após a publicidade

Eu sou mais a primeira opção porque, apesar de um juiz generoso, o Brasil jogou razoavelmente bem. E teve no meia Oscar o seu melhor jogador. Roubava bolas, tentava por ali, tentava por aqui e nada. Até roubar a bola de um croata, servir Neymar, que arriscou um chute. E a bola entrou. Mais uma vez a comadre sorte apareceu. Glória para Neymar. Glória maior porque marcou o segundo num pênalti sofrido por Fred, pênalti que alguns dizem que foi e outros que não. Tudo bem. Vamos em frente que é Copa do Mundo. A Croácia aperta, Neymar sai, Hernanes quase faz lambança e Oscar dá uma arrancada no final da partida e faz o terceiro – de bico, que nem Romário nos seus bons tempos e Ronaldo na Copa de 2002. Oscar é craque, mas precisou de sorte, também aí, para fazer o seu, porque antes ele tentou de tudo que foi jeito.

E por que foi sorte? Quem explica é o filósofo futebolista Carlos Alberto Parreira. No intervalo do primeiro para o segundo tempo radiografou o problema brasileiro: não conseguia penetrar. Em muitas coisas da vida, quem não consegue penetrar, só causa decepção. Era o que acontecia com o Brasil. Diagnóstico de Parreira: “O jogo está tranquilo. O Brasil está dominando, tem o controle e só não está penetrando. Ele só está falhando na penetração”. Resumindo: estava falhando no essencial. Penetrar é fundamental até no futebol. E o Brasil devia saber. É tão óbvio que o Brasil já devia ter penetrado antes de ser penetrado pela Croácia num gol contra. Mas não penetrou. O problema não era só esse. E quando o Brasil queria penetrar, a Croácia não deixava.

Méritos para a defesa bem postada da Croácia e para o goleiro Pletikosa, um goleiro de estirpe, que pegava tudo. Quase pegou a bola chutada por Neymar e por pouco não defendeu o pênalti. Goleiro de estirpe, sim senhor! Mas time de Felipe Scolari é assim mesmo. Eu desconfio que ele vai ter que encontrar alguém para fazer a tal penetração em direção do gol adversário. O time de 2002 também foi se arrumando na primeira fase. Tinha Luisão e Juninho Paulista, até que por milagre Felipão arrumou um penetrador, que foi o paranaense Kleberson. Quem vai neste time ser o responsável para fazer isso com eficiência eu ainda não sei. Mas alguém tem que fazer a coisa. Se o Brasil quiser passar por adversários considerados difíceis. Afinal de contas, não se pode viver de sorte o tempo todo. Sorte é bacana, mas ela não aparece todo dia.

continua após a publicidade